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OBSERVO A ABUNDÂNCIA DE FLORES com certa fascinação, eu cresci no meio delas, das mais bonitas e cheirosas que você possa imaginar, mamãe é uma jardineira talentosa e ouso até em dizer que ela tem mãos mágicas.

Me encontro no fundo da loja pronta para molhar algumas flores e suculentas, quando ouço o sino da porta, estou prestes a encostar o regador em algum lugar quando a voz da minha mãe ecoa pelo local.

– Eu atendo.

Volto a me concentrar no meu trabalho, coloco o dedo na terra de alguns vasos para ter certeza que as plantas precisam de água, eu realmente não quero matar nenhuma delas afogadas, Louise vê isso como um pecado.

Quando tenho certeza que terminei, descido olhar as flores que ficam na frente da loja, elas ficam mais tempo expostas aos sol, estou atravessando a floricultura quando vejo minha mãe e um rapaz, ele está de costas para mim, então foco na sua voz, é bonita e pelo sotaque sei que não é francês, talvez seja americano ou inglês.

Estou quase abrindo a porta quando ouço o meu nome, olho para trás pronta para perguntar o que a minha mãe quer, quando percebo que ela não está falando de mim.

– Então você quer um buquê de lírios? - ela pergunta e vejo o loiro confirmar com a cabeça. – Lys querida. – agora sei que ela fala comigo.

– Oi mãe. – ele vira o rosto e me encara por alguns segundos, seu rosto é pálido o que deixa seus olhos azuis em destaque, queria reparar mais, mas ele vira e volta a olhar para a minha mãe.

– Você poderia ir lá atrás e buscar alguns lírios para mim? – concordo. – Me encontre no balcão, vou preparar o material para montar o buquê.

Faço o ela me pediu e vou em direção aos fundos da loja, separo as flores mais bonitas e com cuidado entrego todas a ela, paro perto do balcão e observo, o arranjo que ela preparou deixa o buquê lindo e acho que o rapaz também ficou satisfeito.

– Eu gosto tanto de lírios, acho que você percebeu. – ela indica com a cabeça e ele volta a me olhar. – Prontinho. – o buquê é entregue e começam a acertar o pagamento.

Me afasto, procuro pelo regador que deixei em algum lugar e finalmente saio da floricultura, o sol está incrível, o que é um milagre contanto os inúmeros dias frios em Toulouse, faço o teste do dedo na terra e molho algumas flores, o sino toca novamente e posso ver o rapaz deixando a loja.

– Lys. – ele chama e me viro em sua direção. –Você é tão bonita quanto as flores que inspiraram seu nome. – sorrio em agradecimento, porque não tenho uma resposta rápida.

Ele atravessa a rua e cumprimenta uma garota que estava parada lá a algum tempo, ela pega o buquê de sua mão e cheira as flores, segundos depois eles começam a andar, olho até que eles sumam do meu campo de visão.

(...)

A hora do jantar é um completo caos aqui em casa, quatro mulheres com opiniões diferentes, dando palpites sobre o que querem comer e ao mesmo tempo querendo contar todos os detalhes de como foi o seu dia.

– Eu disse para a Camile que não era uma boa idéia passar por cima da ordem do diretor Ronan, agora ela está a ponto de ser demitida. – minha irmã mais velha, Dahlia está comentando sobre algo que aconteceu na escola em que ela trabalha.

Ela é professora de literatura na École centrale de Toulouse a uns quatro anos, Camile que está sendo comentada é praticamente a melhor amiga da minha irmã, ela entrou na escola poucos meses após a chegada de Dahlia e desde então ela se envolve nas maiores loucuras em nome dos alunos, o que sempre rende uma história para a hora do jantar.

Minha mãe está em pé, parada na frente do fogão mexendo o molho branco, eu mal posso esperar pela refeição, Silène a minha irmã mais nova me confidenciou que viu potinhos de crème brûlée na geladeira, fico extasiada, é a minha sobremesa favorita.

Posso dizer que Louise, vulgo minha mãe é uma ótima cozinheira, como também, canta e dança com maestria, sem contar suas habilidades com a jardinagem, nenhuma das filhas puxou todos os seus talentos, eu por exemplo, cozinho muito mal, mas de certa forma me viro muito bem na jardinagem, Dahlia canta como uma estrela, mas uma estrela bem tímida, já que só nossa família teve o privilégio de escutar ela cantar e Silène, minha irmã caçula puxou o lado da dança, mas acho que tem muito a ver com aqueles garotos japoneses que ela escuta o tempo todo.

– Mãe, você me prometeu. – a voz de choro de Silène volta a minha atenção para o mundo real.

– Eu não te prometi nada, apenas disse que ia pensar. – me engasgo quando olho na direção da matriarca da família e ela está despejando o molho em cima do macarrão. _ Lys pegue o queijo e o ralador, por favor. – concordo com a cabeça e me levanto.

– E você pensou? – a voz da garota está mais calma, mas nada impede que ela surte a qualquer momento.

Pego o queijo na geladeira e o ralador na gaveta do armário e  começo a ralar, é como lindos e deliciosos flocos de neve aterizando no chão já coberto do gelo branco e fofo.

– Pensei e não deixei. – Dahlia tem a chance de tampar as orelhas, mas não tenho essa sorte, Silène grita como a Canário Negro e corre para o quarto.

Mamãe começa a gritar com ela, porém Dahlia interrompe e avisa que vai falar com a irmã.

– O que ela quer? – pergunto, enquanto levo a grande travessa até a mesa na sala.

– Aquele grupo de orientais vão fazer um show em Paris. – ela balança os ombros agoniada.

– Não tem como pagar? – ela nega.

– Eu posso fazer esse esforço por ela, mas você realmente acha que ela merece? - nego rapidamente. – Tento dar o melhor a ela, devido todas as circunstâncias, mas acho que mimei ela demais.

– Vou conversar com ela, dizer que só vai ao show se ela se esforçar e obedecer, caso contrário ela não vai. – a vejo concordar um pouco descrente.

– A venda dos ingressos começa amanhã, ela avisou que esgota rápido. – escuto o barulho das escadas e tento falar o mais rápido que conseguir.

– Compro os ingressos amanhã, caso ela não cumpra com o acordo, o twitter tem fãs malucas doidas por ingressos de última hora.

(...)

O jantar acontece como qualquer outro, meu pai aparece apenas quando a mesa já está posta, se serve e senta na cadeira principal, ele não fala mais como antes, nós mal escutamos sua voz nos últimos dias, Silène é a que questiona mais, Dahlia e eu preferimos ficar quietas.

– Papai. – a caçula chama e ele tira o olhar do prato pela primeira vez. – Você comprou os lápis para a aula de artes? – os olhos arregalados indicam que ele esqueceu, como sempre. – Tudo bem, Lys pode me emprestar os dela. – a encaro. – Não é? – penso em negar, mas o olhar da minha mãe está tão triste que acabo concordando.

Eu odeio isso em Silène, ela briga com a minha mãe por absolutamente tudo, mas não importa o quanto meu pai vacile, ela apenas concorda, o que é muito injusto.

Hugo deixa a mesa uns minutos depois, ele agradece pelo jantar e deseja boa noite antes de subir e ai tudo volta a normal, começamos a gritar uma com as outras e até vejo minha mãe sorrir.

Corro com os pratos de todos, não faço isso regularmente, mas como sei que ela só vai me deixar comer sobremesa quando tudo estiver limpo, trato de lavar tudo o mais rápido que posso.

– Calma ai menina. – alguém me repreende quando quase derrubo um dos pratos.

Estou quase terminando quando começo a sentir o cheiro de caramelo, acelero e finalmente posso voltar a mesa, pego o pote mais cheio e me sento no sofá, Silène já colocou em um canal de clipes e canta um pouco entre cada colherada.

– Vai trançar meu cabelo hoje? – faço biquinho para que minha irmã mais velha aceite, que revira os olhos antes de concordar com a cabeça.

Entrego o saco de elásticos que comprei mais cedo e deixei dentro do bolso da calça e me sento no chão, pego meu potinho novamente e apenas aproveito.

Flowers | LysOnde histórias criam vida. Descubra agora