ERA O PRIMEIRO DIA de mais um ano letivo, o centro de Toulouse estava um caos como sempre, encontrei Sabrina em frente a nossa cafeteria favorita, como faziamos todos os dias, os jovens mais descolados iam até um Starbucks ou qualquer outra rede famosa, mas nós duas adorávamos a paz da Le Select, não tinha aqueles jovens escandalosos e pretensiosos.
– O primeiro dia é sempre um caos né? – ela ri sem humor. – Paris é ali do lado, para que tantos intercambistas em Toulouse?
– Deve ter algo a ver com os ótimos cursos e professores. – o sarcasmo predomina minha voz.
Já estavamos atrasadas quando finalmente fazemos nossos pedidos, um mocca grande, um cappuccino médio e dois croissants, comemos no caminho sem ao menos nos importamos com o horário, nós nunca chegamos cedo nos primeiros dias, fazemos de tudo para evitar o pessoal novo e todas as suas dúvidas.
Estavamos na frente da universidade de Sabrina quando somos interrompidas, ouvimos o que aparentemente é um pedido de ajuda em inglês e nós viramos, o rapaz que vi outro dia na floricultura parece aliviado quando me vê, mas eu acho estranho, é uma coincidência incrível.
– Você ao menos sabe falar em inglês? – Sabrina retruca e eu tento controlar a risada.
– Eu sou da Austrália. – ele fala em francês e ela concorda.
– O sotaque de vocês é realmente péssimo. – cutuco sua costela com o braço quando percebo o olhar incomodado dele.
– Intercambista certo? – pergunto e ele concorda. – Qual a dúvida?
– Eu não consigo me lembrar em qual universade estudo. – ele realmente parece confuso, quero rir, mas minha amiga já está fazendo isso por mim, porém ela para quando percebe que ele está falando sério.
– Qual o seu curso? – Sabrina pergunta sem paciência.
– Artes.
– Sabia que deveria ter aparecido para conhecer a faculdade a uma semana atrás né? – pelo tom de voz sei que minha amiga está querendo soar irritada, eu quero muito rir. – Enfim, vem comigo, estudamos na mesma universidade. – ela se vira e deixa um beijinho no meu rosto. – Até o almoço. – o corpo do rapaz é arrastado pelo gramado rumo a entrada da Jean Jeurès.
– Até o almoço. – aceno. – Boa sorte no primeiro dia. – grito para o rapaz que mal tem tempo de me responder quando é jogado para dentro da universidade.
O caminho até a Paul Sabatier é rápido, devido a falta de pessoas na rua, entro na sala quando o professor faz um breve intervalo, procuro por um lugar vago e não sei se fico triste ou feliz por ser ao lado do Tim.
Timothée é o meu melhor amigo desde a escola, ele sorri quando percebe minha aproximação.
– Achei que não viria hoje. – ele comenta assim que me sento.
– Eu sempre chego atrasada. – dou de ombros.
– São quase dez horas, você se superou. – olho para o relógio preso no meu pulso e me assusto, ele está certo.
– Senhorita Bonnet, ainda não perdeu essa mania? – a voz do professor Dufour ecoa pela sala, o que me traz toda a atenção.
– Desculpe. – sorrio amarelo.
(...)
– Prometo que amanhã venho de carro, ai vamos poder ir até o Subway na hora do almoço. – Sabrina é aquele tipo de pessoa que não para de falar, assim como eu, então são poucos os momentos que ela fica em total silêncio, o que se resume a hora do almoço, depois de quase dez minutos quieta, posso ouvir a voz dela novamente.
– Eu não gosto de estar no carro quando é você que dirige. – Tim fala e eu não posso deixar de concordar.
– Quer digirir então? – ela pergunta olhando para mim e eu rapidamente nego, a única pessoa pior que ela na direção, sou eu. Ela desvia o olhar para o garoto ao meu lado e ele concorda.
– Tudo certo então, tragam dinheiro. – ajudo quando percebo que ela esta recolhendo suas coisas.
– Você deixou o rapaz na sala dele? – primeiro o típico revirar de olhos e depois ela concorda.
– Que garoto? – a expressão confusa toma conta do rosto do Tim.
– Ele é novo na Jean, pediu ajuda para nós duas hoje de manhã. – concordo com a explicação da loira. – Aliás, o nome dele é Luke.
– Ele foi na floricultura da minha mãe semanas atrás, pediu um buquê de lírios. – a informação parece pegar os dois de surpresa.
– Sério? – afirmo com a cabeça. – É romântico, gosta de lírio e ainda é bem bonito, você bem que podia investir né, eu posso esbarrar nele se você quiser. – encaro o chão depois do comentário da Sabrina, ela realmente precisava dizer isso na frente do Timothée?
– Bonito é? Como ele é? – olho para o lado porque não entendo a curiosidade dele.
– Tem o cabelo comprido que nem o seu. – ela começa.
– É alto, bem pálido e tem um sotaque horrível. – completo.
– Moreno? – negamos juntas.
– Loiro. – ela parece pensar. – Um castanho claro talvez.
O alarme no celular da minha amiga dispara e ela levanta rápido pegando sua bolsa em seguida.
– Preciso ir, não quero chegar atrasada para as ultimas duas aulas.
Seu corpo pequeno some rapidamente no meio de todos esses jovens altos e nem os saltos que ela usa todos os dias a ajudam.
Me engasgo quando olho para o lado e percebo o olhar fixo do Tim em mim, ele ri com o meu constrangimento o que me deixa mais envergonhada ainda.
(...)
Giro com cuidado na bóia em formato de pizza que estou deitada, eu não quero molhar meu cabelo em hipótese alguma, queimei uns três dedos passando chapinha nele ontem e deve ter algo relacionado com a praga que Dahlia colocou em mim "pare com essa chapinha ok? Ou os seus dedos queimarão junto com o seu cabelo" e parece que realmente funciona.
Coloco as mãos na água e impulsiono até que chego na borda da piscina e posso finalmente sair, Sabrina está de baixo do guarda sol mexendo no notebook e quero aproveitar isso.
– Pode me emprestar um pouco? – aponto para o aparelho eletrônico.
– Espere só um pouquinho. – puxo a cadeira para perto dela e me sento. – Acredita que já passaram trabalho?
– Acredito, porque o Dufour também passou.
Me reencosto na cadeira e aproveito a brisa, a casa da Sabrina é incrível, o que me causa inveja por ela ser filha única, com duas filhas a menos talvez meus pais tivessem condições para comprar uma casa assim.
– Prontinho. – ela empurra o aparelho na minha direção e eu pego. – O que vai fazer?
– Preciso enviar alguns currículos.
– E o emprego com a sua mãe?
– Ela não me chama sempre, apenas quando a floricultura está um caos, então o meu salário não é grande coisa. – ela concorda, mas assume uma expressão pensativa.
– Posso ver se o meu pai arruma uma vaga na loja. – ela diz e eu concordo.
Espero que dê certo...
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Flowers | Lys
Fanfic" - Lys. - ele chama e me viro em sua direção. - Você é tão bonita quanto as flores que inspiraram o seu nome" Mais um triangulo amoroso que vai dividir corações, inclusive o da Lys.