Flowers | Lys

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LUKE DORME A VIAGEM INTEIRA, ele parecia bem cansado então falamos baixo, minha mãe parece animada, ela tem saído bem pouco, as raras ocasiões eram todas para acompanhar meu pai aos jantares de trabalho e do nada isso parou. Ela colocou um vestido florido bem bonito que ganhou de Dahlia no seu aniversário, eu fiz uma trança rápida no cabelo dela no caminho de casa até a estação de trem, meu pai deixou minha irmã mais nova na escola primeiro e depois levou a mais velha para o trabalho. Nós fomos sua penúltima parada.

- Eu gostei do desenho dele, ficou tão bonito. - concordo.

- Ele me contou que vai refazer o desenho em uma folha maior, acho que vou pedir o esboço para mim. 

- Deve mesmo, acho que vou comprar um quadro, o que acha?

- Acho uma ótima idéia, vai ficar bonito no meu quarto. - já consigo até imaginar.

- E o Timothée? - ela pergunta, me deixando surpresa.

- O que tem o Tim? - tento não parecer afetada, mas ela é minha mãe e eu sei que ela percebeu.

- Como ele está? Os pais dele viajaram, certo? - suspiro e concordo com a cabeça. - O que você achou que eu ia perguntar? - ela tem um sorriso no rosto, ela está me provocando. - Eu não acredito que você ainda gosta dele. - agora ela ri, Luke se mexe no banco a nossa frente.

- Shii! - faço sinal de silêncio e sua risada vai diminuindo aos poucos.

- Me desculpe. - ela diz e volta a rir, reviro os olhos.

- É complicado, eu não consigo entender o que ele quer. 

- Eu sei como é. - sua expressão muda totalmente...

- Sei que sou sua filha e pode parecer estranho, mas se quiser conversar eu estou aqui. - ela parece querer chorar, puxo seu corpo para um abraço e ela retribuí. 

- Eu sei meu amor, eu sei.

(...)

Tiro tantas fotos que em algum momento posso ser confundida com uma blogueira, olho em volta e não vejo sinal dos meus acompanhantes, acho que eles ficaram no segundo jardim, procuro algum lugar para sentar e fico feliz quando vejo um banco alguns metros para frente, sigo andando nessa direção.

Respondo algumas mensagens no meu celular deixando a de Sabrina por último, ela precisa de ajuda para escolher uma roupa, pergunto a ocasião mas ela desvia do assunto, o que me deixa curiosa, confirmo a minha presença, eu vou descobrir quando nos encontrarmos pessoalmente, ela nunca consegue esconder as coisas de mim.

Encontro Luke e Louise quase meia hora depois, eles estão parados na frente de uma árvore fazendo absolutamente nada, fico uns cinco minutos olhando os dois e percebo que eles não me notarão se eu não chamar.

– Gente, eu estou com fome.

– Vai comer Lys. – bufo e Luke ri.

– Mãe! – me aproximo e puxo ela pelo braço. – Eu sei que vocês também estão com fome, nós só tomamos café e já são quase três horas da tarde.

– Tudo bem vamos comer. – ela puxa seu braço e eu solto. – Foi suficiente querido? – ela olha para Luke que confirma com a cabeça.

– Quando eu terminar vou pedir para a Lys te mandar uma foto.

– E o que mais? – eles se olham de um jeito estranho, parece que eu fiquei de fora.

– Não se preocupe, eu prometi e vou cumprir. - fico virando meu rosto tantas vezes tentando capitar todas as expressões deles que meu pescoço dói.

– Do que vocês estão falando? - eu recebo aquele olhar, sabe quando os adultos estão conversando e a criança se intromete? Os dois me olham como a mãe brava olha pro filho.

– Certo, eu procurei um restaurante bom no Google antes de vir, podemos comer lá. – Luke muda de assunto, muito provavelmente após ver minha expressão de sem graça.

O restaurante é bem próximo dos jardins de Albert Kahn, o que significa que está lotado, nós temos que andar um pouco mais e achamos um bistrô vazio, a senhora explica que o horário de almoço acabou mas pode nos servir lanches, eu aceito sem nem pensar muito.

Tudo é mais gostoso quando estamos com fome, mas eu realmente acho que comi o melhor sanduiche de croissant da vida, peço outro antes de irmos embora e guardo dentro da bolsa, faço um incentivo para que eles peguem algo para a viagem também, os dois negam, desejo boa sorte em pensamento, vamos passar horas dentro no trem.

Minha mãe queria uma foto com a torre antes de ir, não temos tanto tempo sobrando, comprei as passagens antes então temos que voltar para a estação dentro do horário, prometo voltar aqui com ela e Luke se oferece para vir também.

É Louise que dorme durante a viagem de volta, por sorte troquei de lugar com ela antes do outro passageiro entrar, eu estava sentada do lado da janela, minha mãe estava do meu lado e Luke a minha frente, deixei ela na janela e sentei ao lado do loiro, agora ela dorme encostada no apoio do vidro e parece confortável. 

- Ainda não acredito que em menos de um mês, estive em Paris duas vezes e no meio da semana ainda. - falo enquanto observo a paisagem lá fora.

- Qual foi a outra vez?

- Comprei uns ingressos para minha irmã mais nova. - ela fica vermelho, o que me deixa confusa.

- A irmã do sutiã? - faço que sim com a cabeça antes de começar a rir. - Ela é diferente de vocês.

- Diferente como? - eu sei do que ele está falando, mas quero ter certeza.

- Vocês todos são negros e ela tem uma aparência latina.

- Ela é adotada. - ele não parece surpreso, eu acho que ele já imaginava. - Ela é a irmã feia também. - quero fazer graça, ele parece sem jeito depois da pergunta.

- Isso é impossível, não existe uma Bonnet feia. - tenho um sorriso orgulhoso no rosto. - Talvez você, mas com certeza ela é a mais bonita. 

- Luke! - acerto um soco no braço dele.

- Você precisa parar de bater nas pessoas. - ele vira para a janela como se estivesse irritado, porém consigo ver seu sorriso pelo reflexo do vidro.

- Ai meu Deus. - estou mexendo na minha bolsa em busca do meu sanduiche quando percebo que esqueci algo.

- O que foi? 

- Esqueci de comprar madeleines, eu sempre como quando venho a Paris.

- Não tem madeleines em Toulouse? - sua pergunta me deixa irritada.

- É claro que tem, mas não é a mesma coisa, parecem mais gostosas, Tim comprou um sacão da ultima vez, eu deveria ter feito durar mais. - lamento.

- Tim? Aquele seu amigo com cara de doente? - tento não rir, mas sempre zoamos Tim por causa disso.

- Não fale assim dele. - tento soar brava.

- Então eu não sou o primeiro cara que você leva a Paris? - ele faz um biquinho fofo, apenas nego com a cabeça. - Estou chateado. - tento não levar a serio porque sei que ele esta apenas brincando comigo.

- Eu também, da ultima vez voltei para casa feliz da vida, madeleines e um - paro quando penso no que estou falando.

- Um? - faço sinal de deixa para lá com a mão e mordo meu sanduiche. - Você bem que podia me dar um pedaço né. - olho brava, ele sorri como sempre. - Quem poderia imaginar que eu ficaria fome?