Flowers | Lys

20

MEU VESTIDO AZUL BALANÇA COM o vento, o dia está tão bonito que decidi pedalar, talvez esse não seja o único motivo que me fez escolher esse meio de locomoção, talvez eu queria gastar mais tempo do que pedir um táxi ou dirigir, talvez eu precise gastar um pouco de energia nisso para que meu coração bata forte por outro motivo.

Vejo o prédio em que Tim mora e meu coração parece disparar, será que vou morrer? Paro com certa dificuldade, não presto tanta atenção nisso e quase caio da bicicleta antes de descer, tiro a corrente de dentro da bolsa e prendo a roda em um ferro na calçada.

Passo as mãos sobre meu cabelo e depois tento tirar o excesso de suor do rosto, é um dia quente. Reúno todas as forças de dentro de mim antes de tocar a campainha. Não demora muito até que Tim atenda.

— Oi. — ele sorri e eu sinto minhas pernas ficarem bambas, eu vou passar mal.

— Você tá bonito. — falo rápido demais e bem baixo, na verdade eu não tinha a menor intenção de falar isso, eu só pensei alto.

— O que? — ele pergunta confuso e eu agradeço aos céus, tenho certeza que ele não entendeu.

— Nada. — seu olhar é desconfiado mas ele abre espaço e faz sinal para que eu entre.

Tem um cheiro muito bom vindo da cozinha, meu estômago ronca, sei que meu amigo escutou porque ele ri.

— Oi Lys. — Louis, o companheiro de apartamento do Tim fala comigo rapidamente enquanto vai até a porta. — Tchau Lys.

— Oi e tchau. — falo rápido antes que ele feche a porta.

O barulho da fechadura sendo trancada funciona como um incentivo, meu corpo é empurrado para a parede e minha boca é atacada automaticamente, eu preciso ser forte dessa vez.

— Ti-iim. — eu perco o foco quando ele começa a beijar o meu pescoço, eu preciso afastar ele, preciso agora. — A gen-te po-de conn-versar? — tudo sai pausadamente e tenho que me concentrar muito para não desistir.

Empurro seu corpo quando ele se afasta para respirar e me esquivo quando ele vem de novo na minha direção.

— O que foi?

— Eu não sei o que tem na cozinha mas cheira muito bem, a gente pode comer e depois conversarmos? — ele concorda meio contrariado. — E sem beijos, por favor. — agora sim ele parece irritado.

Sigo seu corpo até a cozinha e corro quando vejo que ele vai abrir o forno, pego o pano de prato da sua mão e empurro seu corpo com o quadril.

— Deixa que eu faço isso.

O molho borbulha dentro da assadeira e eu posso ter um orgasmo só de olhar.

— Pode parecer repetitivo mas eu sei o quanto você ama lasanha. — coloco o travessa em cima do apoio na mesa e me viro para fechar o forno. — Vou pegar os pratos. — concordo indo atrás dos talheres. — Essa receita é da minha mãe.

— Eu amo a comida da sua mãe. — ele sussurra "eu sei" no meu ouvido quando passa por mim para buscar copos.

Como metade da forma e fico muito preocupada, pensando se terei disposição para pedelar depois, nós falamos bastante enquanto comemos e eu gosto do clima.

— O que você queria me falar? — volto a ficar nervosa depois de ouvir sua pergunta.

— Certo. — bebo um pouco de vinho na tentativa de atrair coragem. — Estou pensando nisso já tem um tempo e acho que chegou a hora de falar, não acho certo essa nossa "relação". — faço aspas com os dedos.

— Como assim?

— Me deixa confusa demais, já era difícil demais quando você me beijava e só tinha você, eu criava expectativa sabe? — ele concorda meio contrariado. — E aí Luke apareceu e nós também comecemos a nós beijar e tudo ficou pior aqui. — aponto para minha cabeça. — E aqui. — aponto para o meu coração.

— Você está me dando um fora? — nego.

— Eu só não posso fazer isso, não mais, me confunde e me machuca, é só isso.

— E se eu te pedir em namoro? — meu coração erra uma batida.

— Eu não vou aceitar, já tem meses desde que eu me declarei pra você, hoje eu tenho a impressão que você começou a me beijar mais e a me pressionar mais porque tinha um concorrente.

— Não faz assim. — sua mão acaricia a minha e eu resisto ao impulso de afastar.

— É o que todo mundo pensa. — dou de ombros.

— Se eu tivesse me declarado antes, qual seria a resposta? — agora ele pensa sobre isso?

— Um sim, é óbvio.

— Acho que tenho que viver com isso então, né? — nego rindo.

(...)

Luke me encara confuso quando abre a porta, o que faz com que ele demore para reagir e me deixar entrar, tento cheirar a minha axila antes de dar um abraço nele, eu pedalei tanto.

— Estou curioso com o motivo da visita. — ele se senta no sofá e eu o acompanho. — Mas eu estou feliz, não entenda mal. — por enquanto...

— Acabei de almoçar com o Timothée. — comento.

— Ainda não entendi.

— Nós conversamos sobre relacionamentos, no caso o nosso relacionamento. — ou a falta dele.

— Uau, ele fez o pedido, parabéns. — ele me abraça de uma forma desengonçada e eu posso notar o desapontamento na sua voz.

— Não é nada disso. — um suspiro aliviado, acho graça. — Da mesma forma que eu trocava beijinhos com você, eu trocava com ele, eu quis acabar com isso hoje, essa amizade colorida, sei lá como devo chamar.

— Por que?

— Vou dizer pra você a mesma coisa que disse pra ele, isso me deixa confusa sabe, eu sei que dizem que não podemos gostar de duas pessoas da mesma forma, mas é exatamente assim que me sinto.

— Eu estava planejando um pedido de namoro, vou receber um não? — concordo.

— No momento eu realmente não consigo decidir de quem eu gosto mais, minha primeira tática é parar de ficar com os dois, quem sabe assim eu consigo perceber de quem meu coração sente mais falta.

— Eu entendo, mas então você gosta de mim? — ele quer massagear seu ego?

— Gosto Luke, gosto mesmo, você é um cara incrível e me tratou tão bem, desde o começo, mas se um dia eu disser sim para você e eu quero que seja de todo o meu coração, não quero incertezas, não quero deixar você ou o Tim inseguros, se eu dissesse sim hoje eu ainda ficaria mexida toda vez que encontrasse ele e vise versa, não acho isso certo, eu quero ser amada por completo e pra isso eu preciso fazer o mesmo.

Ele me abraça e eu retribuo, demoro um tempo para me afastar, estou realmente aliviada por ter tirado isso do meu peito.

— Você foi tão madura agora que me deixou orgulhoso e isso é um saco porque é um motivo a mais. — ele pausa. — E eu realmente não preciso de mais motivos para gostar de você. — tento não sorrir mas é impossível.

— Quando eu me entregar, vai ser pra valer, nenhum de vocês dois merece um amor pela metade.