Capítulo 03

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Logo estávamos em sala de aula.

"Me pergunto o que exatamente foi aquilo lá fora? Será que todos agem da mesma maneira estúpida que aquelas pessoas? Não sei o que acontece comigo, mas sempre que tento ser legal com alguém dessa academia, acabo me dando mal"

Fiquei divagando a aula inteira e quase não prestei atenção nos assuntos passados. Meu Deus, eu não posso nem por brincadeira continuar assim, senão estou frita, já que dependo dessa bolsa, e já viu a situação de uma bolsista não é?

A aula de Ciências havia chegado ao fim, já estava na hora do intervalo, e logo mais teríamos Aritmética.

Resolvi tomar bastante atenção nos conteúdos que estavam sendo repassados, já que essa matéria era uma de minhas preferidas, e assim, mais uma aula acabara.

Eu e os meus novos amigos, Lilian, Elise, Louise, Sam e os irmãos Dillan e Christopher, saímos para o refeitório "Todos éramos do primeiro ano, o que nos tornava iguais"

Lucy foi sentar em uma mesa com "os populares", mas nem liguei, essa deveria ser a vida dela, antes de me conhecer, e não seria eu a mudar isso.

- Então? Você é órfã? - disse Dillan, que logo recebeu uma cotovelada de seu irmão - Ai, essa doeu tá?

Meu Deus, por que será que todos perguntam a mesma coisa? Não sou órfã!

- Desculpe o meu irmão, ele é meio sem noção as vezes - riu meio sem graça, provocando em mim um ataque de risos, ou melhor, não só em mim, como em todos que estavam ao redor, e Dillan com aquela carinha emburrada, que tornava a situação ainda mais engraçada.

- Não - respondi.

- Não o quê? - disse o emburradinho, com uma emoção notória em seu olhar.

- Não sou órfã, ou quase não, a verdade é que minha vida nunca foi fácil, sabe? Passei por certas dificuldades que com certeza nenhum de vocês passaram, mas estou aqui, firme e forte. Meu pai faleceu, e com isso minha mãe entrou em uma profunda depressão, e como não tinha condições de cuidar dela, ela foi levada para um centro que cuida desse tipo de problemas. Sempre que posso faço uma visita a ela, só que já não lembra muito de mim, mas eu sei muito bem quem ela é, por isso as pessoas acham que sou órfã. Mas eu pretendo mudar essa situação, por isso fiz de tudo para conseguir essa bolsa, para poder ter minha querida mãe ao meu lado, e dar uma vida melhor a nós duas.

- Mas com quem você morava? -perguntaram em uma só sintonia,     que parecia até ensaiado.

- Sozinha!

- Hã? Você morava sozinha? Que sonho - disse Louise, a mais doida e patricinha do nosso meio. "mas era uma patricinha do bem".

- Não, pior que não, além da solidão que passei durante todos esses anos, tive que trabalhar para me sustentar, sem contar que não tinha sequer uma mãe para me dar conselhos, broncas, um natal digno, com a família reunida, e eu sinto muita falta de tudo isso - disse ao relembrar os momentos tristes que passei - e claro, que vocês nunca teriam a vida que tive, vocês tem tudo, literalmente tudo, uma família, um pai para proteger, uma mãe para dar broncas, uma família de verdade e sem contar que não precisam trabalhar para ter uma vida digna.

- Nem vem Anne, nossas vidas não é um mar de rosas como você pensa, não. Tudo bem que nossos pais nos dão tudo do bom e do melhor, mas nem por isso eles não são tão exemplares assim, por exemplo, só  vejo meu pai em dia de ação de graças, isso quando não resolve viajar justo no dia da reunião em família, minha mãe só vive cuidando de si mesma, a única de quem recebo atenção, é de minha avô, que se comporta mais como mãe que a própria. A maioria dos nossos pais não ligam a mínima para nós - disse Lílian.

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