Capítulo Vinte e Um - Thomas

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***

O dia era lindo e ensolarado; os pássaros cantarolavam e o cheiro da natureza pairava pelo ar, mas apesar de tudo isso para Anna parecia nublado, nada tinha cores. Enquanto as folhas secas caíam das árvores lágimas desciam de seus olhos, seu marido estava indo para uma missão perigosa.

- Não chore, eu voltarei mais rápido do que você pensa - dizia ele.

- Vou contar os dias...

- Eu também - disse ele a beijando.

Um pouco distante, parado a porta, Thomas espionava aquela cena. Ele odiava despedidas por isso sempre as evitava e se sentia aliviado porque afinal, ele não tinha de quem se despedir.

- Mark, vamos logo! - gritou ele. - Quer se atrasar?

- Dá um tempo Tom, não vê que estou me despedindo?

- Não dá pra fazer isso mais rápido?

- Não.

Ao ouvir aquilo Chase bufou de raiva e se sentou em uma poltrona que ali se encontrava "isso vai demorar" pensava ele.

- Onde está o Wiktor? - perguntava Mark.

- Ele já está vindo querido.

Um garotinho magro, mas de boa aparência e cabelos escorridos sobre a testa, logo desceu as escadas correndo e pulou nos braços do soldado. Ele tinha a mesma idade que a soma de seus dedos das mãos.

- Papai não vá! - dizia ele emburrado.

- Wiktor já conversamos sobre isso - disse Mark colocando o filho no chão. - Sabe que eu preciso ir.

- Mas eu não quero que vá. Semana que vem vou me apresentar no festival da cidade e o senhor não vai estar lá - disse Wiktor triste.

- Eu sei, eu sei, mas eu estarei na próximas.

O garoto logo se alegrou e um sorriso largo se formou em seu rosto.

- Certo! - disse ele.

- No tempo que eu estiver fora cuide bem da sua mãe.

- Sim! Pode deixar!

A jovem mãe olhava para os dois com os olhos cheios de lágrimas. Por fim, pai e filho se abraçaram, Thomas apenas os olhava de longe, tinha o olhar fixo neles, ele já tinha visto algo muito parecido antes.

**

O garoto na escada encostado no corrimão olhava seu pai e sua mãe se abraçando. lágrimas molhavam o rosto da mulher, ele ouvia seu pai dizer:

- Tudo vai ficar bem, não se preocupe.

Ele não sabia o porquê daquelas palavras, mas odiava ver sua mãe chorar. Ele queria ir até ela para confortá-la, ma seu pai o olhando naquele momento abaixou-se e estendendo os braços disse:

- Venha Thomas, se despeça do seu pai.

Mesmo sem saber, o garotinho de seis anos e cabelos louros foi devagar até ele enquanto olhava para sua mãe, ela tinha os olhos vermelhos, ele queria poder abraça-la primeiro, mas o homem o abraçou antes que ele pudesse ir até ela. Thomas sentia a barba de seu pai pinicar a sua orelha lhe causando cócegas. Se distanciando ele perguntou:

- A onde o senhor vai?

O homem riu.

- Estou indo para o combate.

- Por que?

- Porque é o meu dever... Tá vendo este distintivo? Sou um capitão.

- Capitão?

- Do exercito. É um cargo de honra. Você também será um dia.

- Sério? - perguntou o menino com  os olhos arregalados.

- Sim - respondeu o homem sorrindo.

- Isso é bom?

- Mas é claro! Protegemos aquilo que temos, protegemos aquilo que amamos. Esse é o nosso dever.

- O senhor vai me ensinar?

- Claro que sim.

O pequeno Thomas sorriu e voltou a olhar para a sua mãe, mas não havia sorriso em sua face, ele então também o desfez.

- Mas então por que a mamãe está  chorando? Por que ela está triste?

O homem a olhou sério e disse:

- É que para isso temos que ficar um tempo longe um do outro, mas é só um pouco filho.

- Tem certeza?

-... Sim.

O homem sorria, mas Thomas olhando para sua mãe via sua tristeza profunda; ela estava abatida, havia algo muito maior que ele não sabia o que era, mesmo assim ao vê-la naquele estado se entristecia também. Seu pai o abraçou mais uma vez e sorriu dizendo:

- Eu te amo meu filho.

Havia algo nos olhos dele também que naquela época Thomas não pôde compreender. Apesar de sorrir seu pai não parecia feliz.

- Eu também te amo pai.

O capitão levantou e abraçou sua esposa novamente.

- Eu volto logo, eu prometo, não se esqueça - dizia ele enquanto a beijava a mão.

Logo em seguida ele saiu pela porta, tinha um homem o esperando do lado de fora, ambos entraram no carro e se foram. A mulher ficou parada na entrada junto a Thomas, ela o abraçou e o apertou. Naquela ocasião não tinha sol nem pássaros, somente a chuva que os banhava e a densa neblina que os cobria e que os fez sumir.

Era a última lembrança que Thomas tinha de seu pai.

**

Sentado naquela poltrona Chase agora sabia o que seu pai tinha nos olhos, era a tristeza por ter que deixá-los, ele sabia dos perigos e de que talvez pudesse não voltar, mas ele também carregava o seu dever, o amor por tudo que acreditava, sua força e dedicação; ele também estava profundamente triste. Thomas não queria nunca ter que passar por aquilo.

- Está pronto soldado? - perguntou Mark se aproximando.

Erguendo os olhos Thomas disse:

- A muito tempo.

- Você é muito impaciente rapaz.

- E você é muito lento.

- Já chega vocês dois, até parecem duas crianças - disse Anna.

- Chegou a hora - disse Mark abraçando sua mulher pela última vez. - Temos que ir agora, já enrolei o bastante.

Thomas se levantou e Anna também o abraçou sem que ele o esperasse.

- Boa sorte Tom - disse ela.

Ele apenas assentiu desconfortável. Wiktor também o abraçou rapidamente.

- Voltem logo! - disse ele.

- Pode deixar! - disse Mark mostrando o polegar em positividade.

Chase não disse nada, não havia sorriso em seu rosto, ele odiava tudo aquilo, era a sua missão mais perigosa e a primeira despedida desde a sua última.

Aquela na chuva.

Neblina.

Ele ainda podia sentir o frio congelando seu corpo e os pingos de chuva em seu rosto.

Ele realmente odiava elas.

A Garota Do ViolinoOnde histórias criam vida. Descubra agora