Capítulo Vinte e Cinco

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O caminhão estava cheio de pessoas amontoadas no escuro e ambos se acomodaram entre elas. Os dois estavam sujos e exaustos, Rosemary sentia dores no pé e Wiktor estava com um pequeno ferimento no braço. Uma senhora os vendo neste estado ofereceu-lhes um pouco de água que Baranowski sem demora a pegou dizendo:

- Obrigado.

O rapaz não se lembrava de ter sentido tanta sede em toda a sua vida, bebeu alguns goles e deu o restante a Mary que a pegou apressadamente. O carro balançava por conta das pedras na estrada e todos balançavam de um lado para o outro juntamente com ele fazendo a água de Rosemary por vezes derramar. Olhando em sua volta Wiktor logo viu Jennie abraçada com uma mulher, ela também o olhava e tinha um leve sorriso nos lábios, ele por algum motivo se sentiu feliz em vê-la bem. Trocaram olhares por alguns minutos até que Wiktor desviou o olhar e começou a fitar o vazio. Todos estavam em silêncio com seus próprios pensamentos, Rosemary conseguia ver a dor em seus olhos, percebia só de olhar para cada rosto o quanto estavam desiludidos, destruídos, desabrigados... Todas as mulheres possuíam uma expressão de tristeza e preocupação, talvez com filhos ou maridos em batalha, já os homens expressavam vazio e solidão, olhando para Wiktor a garota também notou algo diferente em seus olhos, parecia distante, algo o incomodava, então perguntou:

- O que foi?

Ela acabou o despertando de seus pensamentos e olhando para ela disse:

-... Nada.

Rosemary já sabia que geralmente ele não ficava tão quieto e não acreditou em suas palavras, seus olhos não as confirmava.

- Acho que já te conheço o bastante para saber que algo te incomoda.

O rapaz a olhou fixamente, mas seus pensamentos não estavam ali.

- Vai me contar? - peguntou ela.

- É que... é ridículo - disse ele abaixando a cabeça.

- Você pode me contar, sabe disso.

Ele não queria, então voltou a olhá-la. Ela continha um sorriso tão meigo, ela era tão forte. Ele sabia de tudo o que ela tinha passado, tudo que tinha perdido, diante de tudo aquilo o que ele sentia naquele momento parecia tão estúpido, ele era um imbecil por estar sentindo aquilo, um fraco e por isso se sentia mal, não queria sentir o que estava sentindo.

- Eu sou um imbecil - disse ele.

- Por que está dizendo isso? - perguntou ela com os olhos arregalados.

- Por que não quero sentir o que estou sentindo e ainda assim não consigo parar de sentir.

- O que você sente?

Ele fitou seus olhos nela e disse:

-... Medo.

Ao ouvir aquilo Rosemary sorriu levemente.

- Mas isso é normal, eu também sinto - disse ela.

- Mas como eu posso proteger alguém assim? Como vou cumprir a minha promessa? Como posso me tornar um soldado forte se sinto isso?

- Wiktor nós dois nunca passamos por isso antes e não é fácil, você foi corajoso em tudo o que fez, eu só estou aqui por que você me ajudou... Você se arriscou, foi forte.

- Pode até parecer por fora, mas eu estava com muito medo, muito mesmo, você não faz ideia.

- Medo é algo normal, todo mundo sente, isso não te faz um fraco, não tem porque se envergonhar, o importante é que você o superou naquele momento, não deixou ele te vencer e você vai continuar vencendo-o e é isso que realmente importa - disse ela colocando a mão em cima da mão dele.

A Garota Do ViolinoOnde histórias criam vida. Descubra agora