#26

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Me afasto bruscamente de Henri quando alguns guardas entram na biblioteca.

- senhora, procuramos você em toda parte! - um guarda se pronuncia ofegante.

- ela estava comigo o tempo todo - Henri diz calmo.

- o alfa solicita a sua presença de imediato - o guarda ignora Henri.

- aconteceu algo? - pergunto com uma das sobrancelhas erguidas.

- sinto muito senhora, mas só recebemos as ordens de leva-la em segurança até a sala do trono - o guarda diz.

- nos vemos mais tarde... - digo para Henri que assente positivamente com um olhar  desconfiado.

(...)

- eu tive uma brilhante idéia! - Daniel diz empolgado.

- só para deixar claro que eu não tenho nada haver com isso...- Heitor diz desanimado  com os braços cruzados.

- mas do que vocês estão falando? - pergunto sem entender.

- estamos em guerra,e a partir de hoje, todos os jovens deste castelo terão aulas de luta - Daniel diz se sentando em seu trono.

Era fato que naquela cadeira enorme e toda revestida de couro com o brasão da nossa família, Daniel ficava mais imponente que o normal, contudo... quando empolgado, ele parecia apenas uma criança sentada em uma cadeira bonita.

- mas eu já tive aulas de defesa pessoal - informo.

- exatamente! - Heitor se pronúncia - todos os jovens deste palácio já tiveram! Não faz sentido colocar um bando de adolescentes nos campos de guerra!! - Heitor fala alto gesticulando com as mãos.

- vou fazer dezoito anos em pouco tempo! - me defendo.

- por isso já está na hora de lutar! - Daniel diz como se fosse óbvio.

- eles vão morrer  - Heitor fala com a cabeça encostada na sua própria mão.

- eu concordo! - digo com um olhar de apelo.

- ninguém vai pra campo de guerra nenhum! Mas isso diminuirá a chance de alguma falha ocorrer e vocês acabarem se expondo ao perigo e não conseguirem se defender! - Daniel diz para Heitor, que o observava com tédio.

- só pode estar de brincadeira...- reviro os olhos - se fizer isso, vai estar praticamente anunciando que a situação está tão ruim que nem o próprio Supremo Alfa pode nos defender mais!.

- eu sempre soube que você era a mais inteligente da família, irmãzinha - Heitor me dá uma piscadela.

- as aulas começaram amanhã - Daniel diz sorrindo, como se não tivéssemos falado nadam

- Dani, você realmente me ama? - falo com desânimo.

- não seja dramática! - ele bufa.

- eu acho isso ridículo! - Heitor fala alto fazendo meus tímpanos tremerem - uma tremenda perda de tempo!.

- ainda bem que o alfa sou eu - Daniel o fuzila com o seus olhos vermelhos.

- me admira não estarmos todos mortos - Heitor zomba.

Ambos começam a discutir, então eu apenas viro as costas e me retiro deste ambiente realmente nada agradável. Aqueles dois brigando se assemelhavam a crianças birrentas!.

(...)

Andando pelos corredores, me encolho com as correntes frias que entrava pelas janelas. Olho pelas janelas e vejo que a neve já havia pintado a paisagem, e agora não se via mais a grama, somente um tapete esbranquiçado e frio, gerado pelos flocos de neve que caiam sem cessar. . De fato essa paisagem não era feia, pelo menos não para mim. Sempre gostei de clima mais frio.
Lobisomens não sentem tanto frio como os humanos, mas mesmo assim, sentimos. Após passar no meu quarto, e pegar um casaco, sou informada de que o almoço já havia sido servido.

(...)

- vocês brigaram? - pergunto vendo alguns hematomas no rosto e nos braços de Heitor e Daniel.

- nada demais -  Heitor diz cortando o bife em seu prato.

- coisa boba - Daniel toma um gole de seu vinho.

- desde quando você toma vinho no almoço? - pergunto soltando os talheres e cruzando os braços.

Um sinal muito evidente de irritação em Daniel, é quando ele toma vinho. Nosso pai sempre dizia que todos os problemas iriam sumir depois de uma boa taça de vinho, mas o que me preocupa, é que esta já era a terceira de Daniel.

- eu gosto de vinho - ele se defende.

- ele quer acalmar os nervinhos - Heitor zomba.

- por que é tão infantil, Heitor? - Daniel coloca a taça de vinho na mesa com brutalidade.

- por que é tão chato, Daniel? - ele rebate aumentando a velocidade em que cortava o seu bife, fazendo o prato se partir ao meio.

- cala a boca os dois! - vocifero fazendo ambos se sentarem em seus devidos lugares novamente - tomem vergonha!

- estávamos pensando em juntar o baile do seu aniversário, com o baile de natal - Daniel diz mudando de assunto.

- na verdade eu não queria fes...- Heitor me interrompe.

- como assim não quer festa?! - ele me olha incrédulo.

- eu só não quero festa este ano...- explico comendo um pedaço do bife.

- não seja ridícula, Safira! - Heitor fala no mesmo tom.

- é o seu décimo oitavo aniversário, Sah... é muito importante pra nossa família - Daniel explica com a boca cheia.

- não fale de boca cheia, Daniel! Que nojo... - digo me afastando para não ser atingida por um pedaço de carne.

- o que ele quis dizer é que você não tem muita escolha...- Heitor diz calmamente - você vai adorar, vai ser uma chance de descontrair desse período... além disso, a guerra se aproxima.

- mas já...? - pergunto assustada.

- o baile vai ser um momento de união, onde todos os líderes e seus melhores soldados estarão presentes. Uma boa chance para um pretendente - Heitor diz de forma positiva.

- pretendente? Pra que ela precisa de um pretendente?. Olha pra ela, ela ainda é uma criança! - Daniel fala como se fosse um absurdo.

Talvez não tão criança assim...

- uma criança de dezoito anos!! - Heitor responde.

Céus me ajudem a não corar... por favor!!.

- Safira, você está bem? - Daniel toca o meu braço.

- está tendo alguma alergia a comida? - Heitor se preocupa.

- o... o... o que? - pergunto sentindo as minhas bochechas queimarem.

- será gases? Não fique com vergonha querida, isso é totalmente normal...- Daniel diz calmamente.

- eu não estou com gases, Daniel! - digo com vergonha.

- o que têm, então? - Heitor pergunta.

- na verdade, eu estou cansada. Acho  que vou dormir um pouco - digo me levantando.

Saio do sala sentindo o olhar duvidoso de meus irmãos em cima de mim.

(...)

Chego no meu quarto e me jogo na cama.

Como posso contar aos meus irmãos que eu não sou mais pura...?

Dois mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora