— (...) O amor é poderoso, Piper. É capaz de deixar os deuses de joelhos.
— Rick Riordan, "O Herói Pedido"
Maldito, filho de uma hárpia! Que os gigantes o devorem e Tártaro tenha sua alma! Apolo rosnou em pensamento. Ele devia ter previsto essa! Eros fora tão gentil e acessível, incentivando sua curiosidade com palavras macias e agora o deus do sol se sentia preso numa arapuca de embustes. Não conseguia ver nenhum outro objetivo naquilo que não fosse constrangê-lo completamente. Fitou o outro com um ódio tão letal que cortaria em dois quem se metesse entre eles.
— Você fez isso tudo de propósito... — Apolo sibilou entre os dentes, baixo demais para o recém-chegado ouvir, já tomado pela embriaguez que ele trazia consigo.
— Acalme-se... — Murmurou Eros, apenas. Ignorando a ira do outro, sorriu e se levantou. — Disí, meu cachinho de uva preferido, você está atrasado! — Gritou, zombando do amigo, que respondeu com uma gargalhada gostosa e doce, encolhendo os ombros delicados.
— Eros, meu pedacinho de céu nublado, foi só para você sentir saudade.
O deus do vinho caminhou despreocupado até eles. Vestia um chiton curto verde muito escuro contrastando com a pele clara, um cinto fino e avermelhado de couro trançado estava amarrado na cintura estreita, e broches redondos e esculpidos em bronze nos ombros pequenos. Calçava sandálias altas de couro simples e os cabelos castanhos se enrolavam selvagens ao redor da costumeira coroa de vinhas. Ele estava lindo.
E acompanhado.
— Espero que não se importem de eu ter trago o Floquinho, ele está muito carente hoje. — Disse o jovem deus, carinhoso.
Floquinho, por um acaso, não era um cachorro, nem um gatinho. Era um leopardo-das-neves enorme, com uma pelagem espessa e lustrosa, cinzenta e pintada de preto nas costas e branco puro no peito. Tinha um porte elegante, patas poderosas e era todo cheio de músculos, garras e dentes. Mas andava ao lado de Dionísio como um cãozinho adestrado, embora fosse bem maior do que ele.
— Claro que não! — Exclamou Eros encantado, e fazendo menção de alisar o pelo do felino. — Olá, Floquinho.
O leopardo arreganhou os dentes para ele e rosnou.
— É um prazer te ver também... — Balbuciou Cupido, magoado, mantendo as mãos perfeitas bem longe da mascote raivosa do amigo.
Eu te entendo, Floquinho. Pensou Apolo, se afeiçoando instantaneamente ao animal. Ele causa isso nas pessoas...
— Floquinhoooo... — Repreendeu Dionísio, certamente tentando fazer a voz delicada soar autoritária, mas só conseguindo que ela saísse mais infantil. — Se você não se comportar, nós vamos embora e eu nunca mais saio mais com você! — Concluiu, cruzando os braços.
O felino gigantesco emitiu um ganido arrependido, esfregando de maneira carinhosa o focinho escuro na perna do dono, levantando um pouco o tecido de sua roupa já curta e expondo um pedaço escandaloso de coxa branca.
— Assim é melhor... — Desculpou Baco. — Seja bonzinho! — Incentivou, acariciando lentamente a parte de trás de suas orelhas. Sem se importar com seus músculos e pele desnudos.
Mas Apolo se importou. Apolo se importou bastante...
Suas íris azuladas dispararam por todos os detalhes do salão, buscando alguma coisa – qualquer coisa – que não fosse aquele pedaço gracioso de perna nua. Infelizmente, o lugar estava lotado de membros nus em todas as posições possíveis, o que o levou a apertar os olhos, inconformado.
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Bacanal
Fantasy[Romance gay] [Mitologia grega] [Poliamor] Apolo e Eros se odeiam há quase tanto tempo quanto têm de idade, uma das rivalidades mais antigas do Olimpo. O deus do Sol humilhou o deus do Amor, que devolveu destruindo todos os relacionamentos e amores...