Capítulo XIV - Era Pedir Muito

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ALERTA DE GATILHO: Relacionamento abusivo e violência

Você segura uma arma e aponta para o meu coração
Me faz desmoronar nesta canção
Como nós chamamos isso de amor?
Eu tentei fugir, mas os seus olhos
Me dizem para ficar um pouco mais
Por que nós chamamos isso de amor?
...
Talvez alguma parte sua simplesmente me odeie
Você me eleva e brinca comigo
Como nós chamamos isso de amor?
Só uma vez, diga que precisa de mim esta noite.
Para facilitar as coisas você mente
E diz que é tudo por amor.

— Rixton, "Me And My Broken Heart"


O tapa veio não se sabe de onde, Eros nem o viu chegar. Mas foi certeiro, carimbando a sua bochecha esquerda com força, os cabelos soltos dançaram pelo ar enquanto seu rosto era virado pelo impacto, no exato mesmo momento em que Morfeu terminava dentro dele.

Eros não era contra nenhuma forma de prazer. Qualquer coisa que agradasse, desde que fosse absolutamente consentido e não fizesse mal a nenhuma forma de vida, era válido. Não existiam preconceitos dentro dele. O sadismo e o masoquismo estavam inclusos, o Cupido até os apreciava bastante.

Mas existiam algumas coisas que feriam a boa educação e aquela fora uma delas. Eros não estava esperando aquele tapa no rosto e acabou mordendo a parte interna da bochecha, agora não sabia se engolia ou cuspia o próprio sangue, sentindo pela língua um corte de doeria semanas.

Levou a mão à maçã agredida involuntariamente, lançando um olhar magoado ao amante embaixo dele, que estivera cavalgando há poucos segundos, toda a sua excitação tinha desaparecido instantaneamente. Morfeu não parecia nem um pouco preocupado com isso, sorrindo tranquilamente pós o seu ápice agressivo.

— Podia ter avisado... — Eros murmurou cautelosamente, esfregando a pele vermelha do rosto.

O deus dos sonhos ergueu uma sobrancelha para ele com descaso.

— E qual seria a graça disso? — perguntou simplesmente, sentando-se na cama e empurrando levemente o corpo do Cupido sobre o seu, que acabou caindo sentado nas suas pernas. — Sai. — ordenou, carimbando um tapa estalado na sua coxa.

Eros obedeceu, saindo do colo dele, e se encolhendo chateado em um canto da cama enquanto o assistia se levantar do leito.

— Grosso... — murmurou baixinho, meio enjoado com aquele gosto doce de icor na sua boca.

Morfeu se virou para ele como uma cobra, seus olhos brilhando perigosamente alaranjados e vermelhos.

— Você por acaso disse alguma coisa? — perguntou devagar, sussurrando entre os seus dentes compridos.

O Amor negou com a cabeça quase desesperadamente, arregalando os olhos pretos, a ponto de fazer as mechas platinadas sacudirem.

— Achei que não.

Eros largou uma tonelada de ar com alívio ao vê-lo simplesmente sumir para dentro do banheiro do quarto. Aquilo poderia ter acabado bem pior, Morfeu não deixava esse tipo de coisa passar em branco, devia estar num bom humor estupendo.

O Amor ficou apenas esfregando a bochecha como uma criança emburrada até percebê-lo sair banhado e vestido do lavatório.

Vestido para sair.

— Desfaça esse bico infantil, eu não tenho paciência com crianças. — avisou, contraindo levemente os lábios sob a argola de prata. Eros tentou suavizar o rosto, temendo o vermelho vivo que ainda despontava sutilmente do prisma caótico e perversamente bonito dos seus olhos. — Melhor. — Morfeu aprovou, se aproximando dele. Seus anéis deslizaram pelos cabelos louros e desalinhados pela cama do amante, até pousarem nos lábios que ele acariciou um pouco. Antes de dar-lhe um beijo rápido e abrupto. — Vou sair. Esteja aqui quando eu voltar. — disse simplesmente.

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