- Por que todos esses quadros com você? Porque eu sou um artista, Emma. Essas pinturas são o meu coração. E, se meu coração fosse uma tela, cada centímetro dela retrataria você.
- Cassandra Clare, "A Dama da Meia-Noite"
- Um ano atrás -
Fantasia era uma mulher alta, mas não era uma mulher grande.
Seu corpo era magro, seus ossos evidentes e sua cintura facilmente rodeada pelas próprias mãos. Honestamente, não sabia o motivo. Sua mãe era cheia e curvilínea, seu pai e irmãos eram delicados e macios, mesmo Morfeu em sua elegância austera, tinha alguma carne em volta dos ossos. Já ela, era feita de quinas, os pés de um sofá enquanto eles eram o estofado. Todavia, ela raramente se sentia pequena perto de outras mulheres e havia certa segurança em encarar o mundo de cima.
Tudo isso desapareceu quando a deusa da lua entrou no seu campo de visão. Além de alta, ela era forte e robusta, seus ombros eram largos e suas pernas eram grossas. Se as pessoas fossem árvores, Ártemis seria uma oliveira e ela, um pé de milho.
Ou um bambu!
Se imaginou como um bambu esguio e comprido, com braços e pernas finíssimos e apenas uma cabeça humana despenteada no topo. Jogou o pescoço para trás e riu do próprio pensamento.
Ela seria um bambu ridículo.
Artêmis parou a sua caminhada e a olhou como se realmente fosse uma criatura tão estranha quanto uma planta humanoide e ela se repreendeu por estar fazendo o papel de louca antes mesmo de abrir a boca. Não que ela não fosse, mas esta primeira impressão costumava ser muito inconveniente quando ela precisava de alguma coisa.
Fantasia abriu a boca para dar uma das desculpas clássicas para seu rompante de histeria, imaginando que a outra perguntaria. Mas Artêmis apenas deus ombros como se nada lhe interessasse e passou por ela sem cerimônias. Se sentindo uma estátua ornamental, perfeitamente adequada a aquele Jardim Sagrado, Fantasia encarou as costas da mulher, notando que mesmo por baixo na roupa de couro, eram musculosas, assim como seus braços. Ela poderia lhe quebrar como se fosse um graveto.
- O que quer, filha de Hipnos? - a deusa da caça perguntou por fim, sua voz era um contralto profundo e levemente rouco, como se não falasse muito. Ela abriu a porta da da própria cabana e Fantasia percebeu que não estava trancada. Mesmo estando no mundo mortal, os humanos criavam aqueles Jardins Sagrados como homenagem aos deuses da natureza, e ninguém seria louco o suficiente para invadir.
- Você me conhece? - Fantasia devolveu, um tanto quanto alto.
Ela não sabia falar baixo e Artêmis fez uma careta, ainda de costas para ela, lamentando por seus ouvidos sensíveis.
- Eu conheço todo mundo. - respondeu simplesmente, passando pela porta. E quando a criatura de olhos desiguais fez menção de lhe seguir, bloqueou a entrada com o corpo. - O que você quer?
- Você é tão grande... - Fantasia devolveu, de um jeito meio estúpido, descendo e subindo os olhos pela mulher, sem deixar de assemelhá-la a uma enorme loba arisca, protegendo sua toca.
- O que?
- Então, você caça? - perguntou, animada, fazendo a outra estreitar os olhos na face. Ela nunca tinha visto olhos com aquele tom de azul: escuro e frio, apenas um passo atrás do violeta. Sua mente imediatamente começou a se questionar que ingredientes precisaria usar para chegar a uma tinta com aquele tom. Talvez papel tintureiro ou índigo, um pouco de ferro oxidado... não, não, isso daria o azul-da-prússia que seu irmão usava, não era o tom certo. Os humanos ainda não conheciam aquelas técnicas, mas iriam ao seu tempo.
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Bacanal
Fantasia[Romance gay] [Mitologia grega] [Poliamor] Apolo e Eros se odeiam há quase tanto tempo quanto têm de idade, uma das rivalidades mais antigas do Olimpo. O deus do Sol humilhou o deus do Amor, que devolveu destruindo todos os relacionamentos e amores...