Capítulo XVIII - Insanos

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O amor me fez ver coisas loucas.
O amor e a vida me tornaram insano.
O amor bombeia a dor pelas minhas veias.
O amor e a vida me tornaram insano.
E talvez seja bonito.
Talvez seja bonito...

— To Love (feat. Broods), "Freak Of Nature"


— Vocês estão bem? — Eros conseguiu perguntar, depois de pelo menos cinco minutos de imobilidade chocada.

Mete e Arpe sorriram juntas como espelhos.

— Sim, senhor.  — responderam em uníssono.

— Mas, você está sangrando! — o Cupido exclamou, ao ver gotinhas de líquido já coagulado contra a pele clara da testa da bacante loira.

— Foi apenas um arranhão, mestre. — ela o tranquilizou, tocando ponto em questão, fazendo Eros perceber que era verdade. — Consigo o mesmo sozinha quase todo dia. Sou deveras desastrada. — afirmou, com uma risadinha tímida, naquela espontaneidade que só os subordinados de Dionísio tinham.

Eros se surpreendeu ao perceber o quanto ela era bonita, agora que não estava chorado, para variar.

Os três ficaram olhando uns para os outros sem saber ao certo o que dizer. Até que, por fim, Eros não conseguiu segurar uma risada. Daquelas aliviadas, depois do puro terror.

— Não se preocupem com Dionísio... — ele disse, imaginando que isso ainda pairava na mente das duas bassárias. — Ele vai ficar bem. — afirmou, com convicção. Um resto de sorriso ainda brilhando maliciosamente no meio dos seus lábios cheios. — Ele vai ficar muito bem...

As duas assentiram obedientemente, mas acabaram por entreolhar-se de forma incerta depois.

— O que devemos fazer agora, senhor? — Mete perguntou por fim, carente da liderança do seu mestre.

— Ah, vocês eu não sei... — o Cupido disse de bom humor. — Mas se está realmente tudo bem e me dão licença... — ele continuou, virando-se no corredor e jogando as mechas louras para trás. — Eu vou dar um jeito nesse cabelo!

E sem acrescentar mais nada, saiu desfilando contente pelo corredor.

*

Apolo fechou a porta com o calcanhar, fazendo o trinco reclamar baixinho. O menino no seu colo reclamou também, quando ele o deitou devagar sobre a cama no meio do quarto, deixando um miado caprichoso escapar pelos lábios. Dionísio não o soltou. Pelo contrário, envolveu ainda mais as pernas em torno da sua cintura e os braços ao redor do seu pescoço, obrigado o deus do sol a ficar sobre ele na cama purpúrea, apoiando os joelhos no colchão, para não deixar tudo do seu peso em cima do pequeno. Embora, agora soubesse, ele era mais do que capaz de suportá-lo.

— ...Dionísio. — Apolo chamou, arfando sobre o seu cheiro de inebriante de folhas secas e frutas frescas.

Ele não respondeu, só esfregou o narizinho no seu pescoço, como um felino querendo atenção, fazendo Apolo se arrepiar inteiro.

— Ah, Dionísio... — o Sol murmurou, fechando os olhos, sabendo que nunca conseguiria sair dali agora.

O deus do vinho foi largando um monte de selinhos erráticos pela pele da sua garganta, queixo e bochechas, como se tentasse achar os seus lábios por ali, mesmo sem disposição para abrir os olhos. Quando finalmente pressionou a boca vermelha contra a sua, Apolo não se negou a ele.

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