Capítulo I

106 16 230
                                    

   – Anda seu idiota, eu não tenho a vida toda! – grita a moça com uma vassoura de palha nas mãos.

(Ruídos)

   Ela olha para cima para ver da onde surge o som, dois ratos correm nas vigas que sustentam o teto da casa. 

   – Você terá que dar um fim nesses roedores, desse jeito não dá mais.

   A porta se abre, dando acesso a um quarto bagunçado e todo desorganizado.

   – Depois eu vejo isso – diz um rapaz.

   Ele vai até um espelho trincado e começa a ajeitar a gola da camisa.

   – Você vai mesmo para aquela festa? – pergunta, a moça.

   – Sim. – Ele se vira para ela. – Logo farei parte daquela sociedade. Fora isso, ouvi dizer que a princesa é uma gata.

   A moça joga uma peça de roupa suja nele.

   – Você é muito idiota. – Eles riem.

   Ela encara toda a bagunça que terá que arrumar. Tem roupas sujas espalhadas pelo chão, botas encardidas com barro, muita poeira e não seria de se duvidar que tenha até ratos vivendo debaixo da cama.

   – Santo Jhron! – exclama, a moça – Você já está com quase trinta anos no lombo e ainda não aprendeu a ter organização. Francamente.

   – Não esquenta. – Ele calça a bota. – Você anda muito estressada, maninha.

   – Fala isso, porque não é você que tem que ficar arrumando essa bagunça.

   Ele olha ao redor.

   – Que bagunça? Para mim tá tudo certo.

   Ela o encara com uma sobrancelha erguida.

   – Tudo ok? – Ela ri. – Olha o meu quarto e o da mamãe, é muito diferente... Disso.

   – Credo, você tá atacada hoje.

   Ela passa a vassoura debaixo da cama, ao retirá-la, uma ceroula vem junto da sujeira. Só os deuses saberiam responder desde quando isso esteve ali.

   – Credo, que nojo! – grita, a moça.

   – Você achou! – exclama o rapaz – Achei que tinha perdido.

   Ela pega a peça íntima e a joga num montinho com outras roupas.

   – Está vendo pelo o que eu tenho que passar. – Ela reclama.

   Ele revira os olhos e se levanta.

   – Estou atraente? – questiona.

   – O quê? – Ela ri. – Desculpa.

   Ele a encara.

   – Não achei a graça.

   – Desculpa, mas... – Ela ri debochada.

   Ele se olha no espelho novamente.

   – Não estou vendo nada engraçado.

   – É que... – Ela ri. Para e se recompõe. – É estranho ver você assim.

   – Assim como?

   – Assim. – Ela gesticula com a mão. –, preocupado com a aparência.

   Ele abre um sorriso.

   – Nunca se sabe quem eu vou encontrar lá – diz ele.

   – Ai, idiota. – Ela ri.

A Skaravela.Onde histórias criam vida. Descubra agora