Capítulo XX

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   O jovem rei da Casa de Baktavon pragueja com todas suas forças contra seu inimigo na linha de batalha. Ele contava com a vantagem de estar atacando num momento inoportuno para o exército alheio, porém ao chegar acompanhado de sua cavalaria não foi bem o que encontrou. Em seus postos, formando uma linha que acompanha as margens do rio e cerca a ponte da Aliança, os soldados, cavaleiros, arqueiros e os demais militares do exército inimigo já os esperam prontos para atacar, assim que for dado o sinal.

   As trombetas gritam do outro lado do rio, anunciando a todos no reino que o inimigo havia chego. Estratégia que Fhellipe já havia previsto. Não pode recuar, tem que manter sua honra e a honra de sua Casa. Levantando ao mais alto que pode, cuidando para não cair de seu cavalo, o rei abana uma bandeira com a imagem de um cervo dourado. Esse pequeno gesto está anunciando o começo de uma nova guerra.

   – ATACAR! – grita alto o suficiente para que todos ouvissem.

   Uma chuva de flechas vindas do lado de Marxavon cobre o céu, o transformando em uma grande nuvem de lâminas afiadas. As quais o brilho do aço polido se mistura ao brilho das estrelas do alvorecer confundindo a cabeça dos soldados Baktavinos. Do lado esquerdo de Fhellipe, um homem caí ao chão berrando enquanto sangue jorra de seu globo ocular atravessado por uma frecha do tamanho do braço de um homem adulto.

   Por instinto e como ensinamento de seu treinamento real, o rei levanta seu escudo protegendo-se dos mortíferos objetos. O som estridente do aço se chocando contra o cobre de seu escudo o demonstra o quanto os inimigos estão dispostos a matar para permanecer com o pedaço de mata.

   Fhellipe ergue o olhar por entre uma brecha de seu escudo, o sol nascente ilumina seus olhos vermelhos de raiva, o permitindo que veja o herdeiro inimigo correndo pela protuberância do solo acidentado acima do rio. A chuva cessa. E o seu exercito avança sobre o reino, trotando sobre a velha ponte e se jogando nas águas sem medo de se afogar. Pela honra e devoção ao seu rei, os homens que ao seu lado lutam morreriam em seu nome, em busca da glória celeste.

   O inimigo também avança vindo de encontro pelas velhas madeiras da ponte e também pelas águas. A tormenta começa, espadas se chocam aço a aço causando agitação na correnteza do calmo rio. Agitando e despedaçando algumas partes da ponte precária. Cavalos avançam, enquanto seus cavaleiros derrubam uns aos outros transpassando as lanças que levam nas mãos pela armadura dos inimigos. Pouco a pouco a água, antes limpa e clara, se transforma em uma vermelho escarlate. 

***

   O aço azulado da espada de Fhellipe penetra no peito do cavaleiro, um homem maduro e peludo, afundando na carne dura. O rei estica os braços, retirando com extrema facilidade a lâmina de dentro da carcaça suada que caí para trás soltando lufadas de sangue no ar e na cabeça do alazão que corre assustado até cair da extremidade da ponte. Fhellipe observa tudo com um olhar satisfatório e vitorioso. O som do vento desviado pela velocidade e pela força que o metal causa ao vim na direção do ouvido esquerdo do rei, desperta nele o impulso para que se abaixe na hora exata. Seus reflexões são excelentes e raramente falham, e por sorte, essa não foi uma dessas raras vezes. O metal corre por cima de sua cabeça se encontrando com o nada do vazio do ar. O outro cavaleiro impressionado nem percebe a lança perfurando-lhe o coração. Vinda de trás, a ponta afiada brota em seu peito na hora que ele olha para baixo, minutos antes de cair na água e ser esmagado pelos trotes dos cavalos.

   – Bom ataque, meu homem – elogia o rei a um dos seus.

   O guerreiro em resposta acena-lhe com a cabeça.

   A batalha está tão intensa que já é difícil distinguir quem luta em nome de quem. Agora, já tinham avançados quase um metro nas águas em direção a Marxavon, lutando as beiras das águas escarlates. A ponte começa a jogar mortos gélidos para fora de si. Ao se olhar para baixo, restos de corpos flutuam levados pela correnteza bagunçada. Guerreiros matam mais de dez homens em menos de um minuto, mas mesmo assim o número de pessoas não parece diminuir.

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