Capítulo XXIX

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   – Senhora, o senhor seu pai está a aguardar por sua presença – informa a serva.

   Margaret levanta o olhar, cansado e deprimido, em direção a mulher. Por mais que ela tente dormir, o máximo de tempo que consegue manter a cabeça sobre o travesseiro são poucas horas. A saúde de seu marido ainda a perturba, a princesa tem medo de acabar viúva. São frequentes os pesadelos onde ela se vê na igreja junto de outras nobres viúvas.

   – O que ele deseja? – pergunta.

   – Não sei, minha senhora – responde – Mas, adianto-lhe que Vossa Majestade veio acompanhado de Maria.

   Margaret levanta e vai até a janela. Já faz alguns dias que ela não olha para além das brancas pedras das paredes de sua casa. Uma enorme mancha acinzentada perto da praça comercial da cidade chama a sua atenção. O que teria causado aquilo? Talvez, um incêndio? No momento nem passa por sua cabeça que no meio daquela mancha mora sua amiga e cunhada. As mansões dos nobres ficam afastadas do centro da cidade, geralmente vigiadas por soldados e longe do alcance de qualquer vadio. Seja o que for que tenha acontecido, está longe o suficiente para que não se preocupe.

   – Quem é Maria? – pergunta a princesa.

   – Maria é uma de nossas servas – informa Eva – Uma criada paga.

   – Então, não possuo direitos sobre a vida dela – diz Margaret – O que essa mulher fez para que meu pai a trouxesse até mim?

   – Sinto muito, mas não conheço a resposta.

   Margaret respira profundamente. Se aproxima de seu amado esposo e lhe dá um beijo na testa.

   Desde que Montu ficou inconsciente, Eva tem tomado conta da casa, segundo as próprias ordens de Margaret, sendo assim, alguns detalhes da casa mudaram. A princesa observa cada mudança à medida que segue sua criada em direção ao pai. Em outra época teria surtado e gritado com a mulher, mas no momento nada importa-lhe além da saúde de seu marido.

   – Margaret, minha filha. – O rei a abraça. – Há vários dias, não a vejo.

   – Tenho que cumprir minhas responsabilidades como esposa, estando ao lado de meu marido. – Corta o sorriso do rei. – Então, seja breve.

   Arthur olha para Maria e a chama com um gesto de mão.

   – Maria têm servido a sua casa desde que se casou com o jovem Montu – diz o rei – E hoje, venho informar-lhe que ela não trabalhará mais contigo.

   – Por quê? O que ela fez de errado?

   – Ela não fez nada de errado – responde – Eu a tomei como minha noiva.

   Margaret arregala os olhos. Ouviu mesmo o que ouviu? Não é possível uma coisa dessas, Arthur tomando uma qualquer como noiva. Com tantas nobres mulheres viúvas frequentando a igreja para suas preces, jovens princesas ainda não comprometidas, filhas de vassalos e outras membranas da alta sociedade, por que fora escolher uma criada? Nada faz sentido na cabeça da princesa. Está certo que ela também se casou com um qualquer, mas Montu provou seu valor. E essa Maria, nunca nem se quer ouviu uma palavra a seu respeito.

   – Por que agora? – tenta não parecer agressiva – O senhor passou vinte e poucos anos sozinho, não compreendo a urgência em se casar.

   – Sua irmã apareceu – diz da maneira mais convincente possível – Isso era a única coisa que me segurava.

   – O senhor nunca foi atrás de minha irmã porque não queria – lança – Acha que me esqueci?

   Arthur perde a paciência.

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