Alston corre por sua vida, desesperado e já sem fôlego, o pobre homem mal olha para trás. Por sua sorte ou azar já havia mais de meia hora que os guardas tinham desistido de persegui-lo e retornado para o castelo sem esperanças.
O bandido pensa em retornar para buscar sua pequena sacola de ouro que havia deixado no tronco do enorme carvalho, mas a essa altura do campeonato com quase total certeza os soldadinhos do rei já teriam encontrado e recuperado a menina.
O sol já está se escondendo por entre as colinas no horizonte, as primeiras estrelas já começam a preencher o vazio do céu noturno. Não valeria a pena retornar. Fora que sua cabeça estaria em competição a altas recompensas.
Sem um caminho para seguir, e já quase noite, no meio daquela mata facilmente se tornará ração de lobos. O homem observa sua volta, as árvores dali não lhe soam familiares como os troncos dos carvalhos que está acostumado, são diferentes, em cores e dimensões. "Onde raios eu estou? ". É a frase que mais se repete em sua cabeça. A resposta dessa pergunta está acima de sua cabeça. No céu.
A maneira mais eficiente para se localizar que já existiu. A própria mãe natureza. Guiado pelos agrupamentos e pelos conjuntos de estrelas que conhece. Arte que aprendeu logo cedo com seu pai. Alston pode encontrar um ponto de referência para sua jornada além da mata. Vindo do norte do castelo, ao leste da abóbada celeste, sua escolha foi seguir para o sul onde a mata se tornará cada vez menos densa e por fim desencadeará em uma gigantesca civilização, uma das mais poderosas de toda região, e pelo incrível que pareça liderada por uma mulher. Está certo que as últimas decisões são tomadas por um homem, por conta do costume, mesmo Martha Campbell sendo competente o suficiente como rainha. O ladrão arruinado irá seguir para Gelldet, o reino do vinho.
A viagem leva quase dois dias, com algumas pausas em Campos de Milho e Campbellon, mas mesmo assim rápida, considerando a distância de 180 km. Algo que surpreende e remove a pouca energia pós-adrenalina do homem, agora estrangeiro. Como diziam os mais antigos, um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. E assim, pela graça da profecia, Alston teve a felicidade de não dar de cara com os temíveis predadores da noite e nem com qualquer outro perigo que pudesse causar-lhe algum dano físico.
Cansado e com sede, ele passa aquela noite de seu fracasso deitado sobre a calçada da primeira rua que encontra, iluminado pelo fogo das tochas que incendeiam as fachadas das casas.
Por pena, o dono da morada lhe oferece um quarto e ali, naquela casa, junto daquela família estranha, Alston passaria os próximos sete anos de sua vida. Carregando na cabeça o peso da culpa de seu fracasso, sonhando noite após noite com a filha sendo morta de diferentes maneiras, das mais cruéis maneiras possíveis. Joyce, não deveria pagar pelos erros de seu pai. O homem amaldiçoa todo amanhecer o traficante para o qual trabalhou um dia, o maldito homem que o levou a se tornar um bandido fracassado.
***
Não poderia viver às custas da família que o acolheu, sabendo disso, ele se coloca a disposição para o trabalho. Pela experiência com o arco, foi escalado como o caçador de uma pequena parte da população, vendendo seu serviço em troca de pequenas quantias de ouro ou tecido que depois entrega ao pai da família que o acolheu. Uma forma de pagamento pela hospitalidade. Além do que, o tempo que passa sozinho em meio a mata o faz refletir sobre o ponto que chegou sua vida.
Já está conformado com a morte da filha, está ciente dos riscos que corre sendo estrangeiro e também já havia entendido que por mais que a mente lutasse em conjunto com o impulso de retornar a Marxavon, ele não poderá retornar ou perderá sua cabeça como um troféu de grande luxo.
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A Skaravela.
FantasiEm terras distantes, onde reis ostentam seu poder e fazem suas "cagadas" para o bem próprio. Nasce as tão esperadas herdeiras do reino. Mas, nem tudo foi magnífico como o esperado. Após ser sequestrada dos braços de sua mãe, Skaravela cresce num...