Capítulo XVII

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   Uma carruagem tão negra quanto a noite avança rapidamente em direção aos grandes portões de acesso ao castelo de Marxavon, puxada por dois grandes garanhões também negros, o veículo de ferro chicoteia de um lado para o outro levantando a poeira da estrada. Em seu interior, um homem robusto e pouco sorridente se aconchega nos bancos de couro, olhando de vez em quando pela janela. Traja-se de preto dos pés a cabeça, o que contrasta com sua pele clara. O mesmo se encontra de luto após a morte de sua falecida esposa. Ou pelo menos tenta demonstrar algum respeito ao espírito daquela mulher. A mesma ao partir lhe deixou alguns de seus bens, entre eles um pedaço de terra com um pequeno palácio dentro de suas fronteiras. Pedaço de Terra esse que se encontra na proteção do Reino de Marxavon.

   A mudança para o novo ambiente parece não agradar o homem, algo naquelas terras o incomoda. Talvez, um passado do qual deseja esquecer ou o medo de que alguém traga esse passado de volta átona.

   O homem, que atende pelo nome de Lebrak, observa a mata entorno da estrada pela janela. Seus olhos florescem ao refletir as árvores, enormes troncos de carvalho, deuses da natureza que se levantam e se tornam tão grandes que intimidam qualquer lenhador que tente derrubá-los. Algo nesses deuses naturais causa calafrios no nobre viúvo.

   A carruagem para à frente do grande portão, o homem retira a cabeça para fora da janela e observa o que ocorre do lado de fora daquele cubo de ferro. Um de seus homens conversa algo com o guarda. Seja o que for que está dizendo fez com que a passagem fosse liberada.

   Aquele castelo, uma maldita construção de pedras, não traz boas lembranças ao homem. Quem diria que um dia estaria novamente ali.

   – Senhor, vamos – diz, um dos servos do nobre ao abrir a porta da carruagem – O rei nos aguarda.

   Aquele pequeno reino ainda é algo de um grande valor, despertando o interesse do homem. Ele que já teve a oportunidade de liderar uma grande civilização como Gelldet, mas não pode ou não tentou da maneira correta. Agora, via um futuro naquele pequeno reino cercado pelas águas do rio Água Doce. De fato é um reino curioso e privilegiado por sua localização.

   – Barão, espero que tenha sido bem recebido pelos inúteis dos guardas. – O homem apenas assente com a cabeça em resposta ao jovem bem vestido. – Me acompanhe, meu sogro deve retornar em alguns instantes. Até lá, eu te farei companhia.

   – Escute, meu jovem. – Finalmente se pronuncia o barão. – Saberia me responder algumas perguntas?

   Montu suspira e então responde:

   – Depende as perguntas.

   – O rei encontrou sua filha que desapareceu alguns anos atrás? – A pergunta pega Montu de surpresa.

   – Eu ainda era muito pequeno naquela época, então não sei muito sobre o assunto, mas até onde sei há apenas uma princesa, minha esposa. Então, acho que não.

   O homem esboça rapidamente um sorriso apertado.

   – E o bandido... – Ele faz uma pausa. – Foi pego?

   – Isso eu não sei. Meu sogro é muito discreto com esses assuntos.

   Eles entram em uma sala cercada por prateleiras de livros. A sala tem cheiro de poeira e lavanda, na mesma há uma enorme mesa, ao centro, iluminada pelas rajadas de luz solar que entram por um buraco no teto, dando vários tons da cor marrom ao objeto de madeira.

   – Arthur irá demorar muito para retornar de sua... Não sei bem. O que ele está fazendo?

   Montu não sabe a resposta. Melhor tentar acalmar o homem rabugento do que dizer a verdade.

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