Capítulo XXVIII

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   A madeira da janela se choca bruscamente contra o beiral de ferro. O vento assobia do lado de fora, carregando os pequenos flocos de neve para o leste.

   – Desculpa – pede – Escapou da minha mão. – A princesa se senta na cadeira ao lado da cama, olhando com os olhos pesados e sonolentos para o seu amado estendido sob os lençóis. – Acha que ele vai acordar?

   – Certamente, minha senhora – responde o Myr – Reze para que os deuses tenham piedade de sua dor e o curem. Certamente, suas preces ajudarão.

   Margaret respira profundamente e boceja em seguida. Desde que Montu caiu e se apagou em seu mundo, a mulher não dorme e mal se alimenta. Passa as noites frias sentada sobre aquela cadeira esperando uma reação. Ela diz a si mesma que não o ama, mas o coração sempre pregou outra coisa.

   – A senhora deve dormir – diz o Myr – Seu pai preocupa-se com sua saúde, e ficar aí não trará o Sor de volta.

   – Eu sei – responde-lhe – Mas, preciso.

   – Tome um chá de flores amarelas e tente descansar – sugere – O homem é forte, apenas se apagou com a queda. – Mentira. Pensa ela. – Logo retornará ao seu posto ou...

   – Morrerá – conclui.

   O Myr se mantém em silêncio e de cabeça baixa. O gesto do homem responde sua dúvida. Seria ela agora uma mulher viúva? Estaria ele morto?

   "Por que isso tinha de acontecer? Justo com ele? Montu é um homem sábio, forte e inteligente não devia passar por algo assim. Malditos sejam os deuses e seus jogos."
   Pragueja em pensamento.

   – Faço tudo o que está ao meu alcance para salvá-lo, mas... Cabe aos deuses decidirem – finaliza o Myr.

   – Conheço suas capacidades. Obrigada – agradece, forçando um sorriso.

   Margaret levanta-se e chama Eva para que faça companhia a Montu. Ela decide acatar as sugestões do Myr.

   A princesa entra em seu quarto, o recinto parece estranho para ela a primeira olhada. Tem a cama arrumada com lençóis e mantos dobrados na cor branca, combinando com os tapetes e cortinas de uma cor um pouco mais escura. Ela grita no corredor a suas servas e as ordena que aqueçam água para seu banho. Entra de volta no aposento e retira suas roupas, olhando-se no espelho. Ela percebe que marcas de cansaço se formam em seu rosto apático. Isso a lembra as viúvas na capela, todas vestidas em suas cores negras. Estaria ela a se juntar com essas mulheres? Ainda é jovem e bonita, o pai lhe daria em casamento a qualquer um de seus vassalos. Pensar nisso formiga seus olhos, liberando lágrimas.

   Duas criadas entram no quarto e ajudam-lhe a se banhar. A água está um pouco quente demais, mas ela não se importa. Gosta de sentir o calor. Sente as mãos deslizarem por seu corpo com as ervas aromáticas, quase dorme, mas os puxões no cabelo a despertam.

   Vestem em seu corpo um vestido leve de seda branca e a dão uma caneca de porcelana com um líquido verde claro dentro. Ela bebe em goles espaçados, ouvindo a criada cantar uma canção qualquer. Lembra-se da época que a avó a colocava para dormir e relaxa.

***

   – O que raios quer comigo, Barão? – indaga a mulher, furiosa.

   Katherine usa um longo vestido preto com o símbolo de sua Casa em dourado. Tem os cabelos soltos, caindo em grossas mechas sobre o ombro. E na cabeça carrega uma tiara de ouro para demonstrar sua posição na corte. A rainha.

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