Capítulo XV

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   Nove meses se passaram desde a morte de Nabbuha. Skaravela ainda sente a dor da perda. Agora, sozinha e barriguda, nos dias de trazer sua criança ao mundo, ela batalha para sobreviver. Seu irmão, simplesmente, some se infiltrando em meio a uma sociedade do qual não pertence. Junto do luxo e das mordomias, se ele ainda sente algo pela falecida mãe, sabe esconder muito bem. A promessa que fez a sua mãe nos últimos instantes de vida dela é algo que não tem comprido e acredito que não sente remorso por isso.

   Enquanto a dor e a ambição reinam os corações dos irmãos Vaz, do outro lado do rio, cercada por grandes e fortes muros, Baktavon mantém em seu interior os mais ambiciosos e ardilosos seres que já existiram. Vivendo dentro do castelo como uma parasita infernal, Katherine se auto-nomeia a senhora soberana do castelo. Os preparativos para seu casamento, mais do que conveniente, com o príncipe estão a todo o vapor. Não irão poupar dispensas. O baile será o maior que já houve em toda a região. Um baile que finaliza os planos lucrativos de Katty. De uma simples camponesa serviçal passará à rainha de todas as terras pertencentes a coroa do Reino das Minas Gerais. Uma pequena evolução se comparada ao nível de ganância que habita a alma da mulher.

   – Fhellipe! – Ela grita, chamando seu futuro marido enquanto corre descalça pelo chão de mármore que reflete sua bela imagem.

   Katherine é uma mulher extremamente atraente, com seios fartos e um corpo magro. Ela sabe disso, sabe o que é capaz de causar aos homens que a rodeiam. E o pior de tudo isso, ela sabe como utilizar de sua aparência para conseguir o que quer. Se fosse tão bela por dentro quanto é por fora, talvez seria considerada uma santa. Mas, convenhamos que nesse caso o interior dessa bela viola é feito de pão bolorento.

   – Fhellipe! – chama mais uma vez.

   O homem, um pouco cansado, aproxima-se de sua noiva. Sua expressão não mostra felicidade e nem ansiedade, muito pelo contrário, ele está abatido e o pequeno sorriso que traz no rosto de longe se nota que é forçado.

   – Diga – indaga.

   – Quero avisá-lo que irei até Marxavon essa tarde – informa ela.

   – Fazer o quê?

   – Tenho amigos que moram lá e quero convidá-los para nosso casamento.

   – Esses amigos não incluem Skaravela, incluem?

   – Ela também. – Katty sorri. – Por mais que ela fez tudo o que fez eu ainda tenho um pouco de consideração por ela.

   – Você tem um bom coração – diz Fhellipe.

   Pobre rapaz iludido. Será que é tão difícil perceber o veneno nas palavras de Katherine? A mentira enraizada? O ódio ao se referir a outra mulher? Perceber o fogo em seus olhos?

   – Fora isso temos que aprender a perdoar os outros. – Ela o beija. – Bom, só queria avisá-lo para que não se preocupe.

   Fhellipe assente com um sorriso apertado.

   – Se encontrá-la diga que a perdoo por tudo que fez e que será muito bem recebida – informa ele.

   – Claro. É para isso que estou indo. Anunciar uma nova era de paz.

   Uma nova era de paz onde a praga apocalíptica chamada Katherine está apenas começando a sua jornada de destruição.

***

   Lidar com a perda de sua mãe, algo que se passou a um bom tempo, ainda está sendo difícil para Skaravela, somado ao desespero de querer saber sua origem. Uma vez que soube que nunca foi filha legítima de Nabbuha. Para piorar, as pessoas não a ajudam, apenas a criticam e a olham com olhares de nojo, como se ela fosse uma espécie dos piores pecadores que já existiram.

A Skaravela.Onde histórias criam vida. Descubra agora