Capítulo 24.

664 57 52
                                    

- Pai? O que faz aqui? - Rita questionou com o timbre emotivo entre o portão levemente aberto.

Brooke escutou o "pai" e não nego que ela sacodiu por dentro.

- Precisamos conversar. Elena me procurou e me ajudou a rever meus atos. Admito que estou muito magoado com a humilhação que me fez passar na frente dos nossos parentes e amigos, principalmente os que seguem a religião em que todos fomos batizados. Você não tem ideia do que foi pra mim descobrir que é lésbica quando a palavra nos deixa claro que é um pecado abominável. Você continua sendo minha filha Rita.

- Joseph - Brooke interveio em um impulso. - Melhor conversarem lá em cima.

O homem bufou um suspiro melancólico ao ter diante de seus olhos a mulher que desviou sua menina.

- Certo - concordou sem ter alternativa.

- Desculpe-me pai. Entre - Rita escancarou a passagem dando livre o acesso para o andar superior. Estava tão nervosa que nem se deu conta de que o homem que tanto um dia admirou  ainda estava na calçada e que segurava a porta entre eles como se quisesse se proteger de seu fanatismo.

As moças o seguiram preservando o silêncio.
Uma vez no apartamento, Joseph analisou o espaço.
Os móveis brilhavam de limpos e os objetos cediam a organização, que logo ele constatou que partira do capricho e perfeccionismo da filha.

- Sente-se - apontou a cadeira estacionada no balcão da cozinha.

- Não. Estou bem assim, obrigado. - enterrou as mãos nos bolsos da calça informal.

- Então, Elena conversou com o senhor e podemos saber em que conclusão chegou? - Rita cruzou os braços na defensiva.

Antes de cuspir a resposta, Joseph formulou as palavras quais julgava certas, e engolindo a saliva ele passou o olhar pela latina, que também guardava as mãos nos bolsos de sua calça jeans larga, recostada no batente da porta, pois preferiu manter-se alguns metros distante apenas presenciando a conversa; e tomando coragem falou:

- Não posso aceitar isto, Rita!

A negra bateu as mãos nas coxas arfando:

- Veio aqui para dizer o que já sabemos?

- Apenas agindo de uma maneira mais civilizada. Pois ontem fui grotesco ao te expulsar de casa. Você é minha única filha.

- Oh quanto argumento evasivo, pai! Eu amo a Brooke. Quer que eu arranque meu coração e o jogue pela janela?

- Como pode amar outra mulher? O que ela tem para te oferecer que Matheus não?

- Amor, pai, já disse, amor! - Rita se impacientou.

- Ela não poderá te dar filhos! - naquela altura Joseph gesticulava.

- Há várias formas de se ter um filho hoje em dia, pai.

- Acolher uma criança que foi rejeitada pelos próprios pais? Que talvez carregue uma maldição hereditária?

- Quanta estupidez e ignorância! Não sei como deixei-me guiar dezenove anos da minha vida por esses costumes arcaicos! Adotar é uma das opções maravilhosas, e posso fazer uma inseminação caso contrário, mas enfim, isto não faz diferença no assunto. Aposto que está pensando que Brooke me aliciou, mas não é verdade, ela não é minha primeira mulher, pai. Homens não me interessam, não sou nenhuma lésbica misândrica que enoja seu gênero, apenas me sinto completa ao lado de alguém do mesmo que eu. Não tente encontrar explicações, no fundo todos sabiam, só encobriam a realidade. Conforme-se, deixe-me ser feliz do jeito que acho melhor.

Almas Dançando ( LESBIAN)Onde histórias criam vida. Descubra agora