Capítulo 18.

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Rita petrificou diante de sua imagem refletida no espelho.
Ela pedira um funcionário discreto e de confiança da construtora da família para instalar a superfície no salão para facilitar os ensaios.
O vidro polido cobriu uma das paredes rebocadas. Uma vez pronto, ela ficou sozinha com seus pensamentos. Eles ganhavam voz e essa voz era assustadora. Ficar a só com seus temores foi evitado constantemente. Encarar o pai depois do que descobrira tornou-se ainda mais custoso. Ele se esforçava em manter a postura correta, quando na verdade alimentava uma mentira incabível.

Uma revolução silenciosa se empenhava em sobreviver em seu íntimo. Essa voz que gritava aflita não podia ser esmagada. Ela aferrava-se nos muros erguidos pela indisciplina de seus sentimentos. Foi decepcionada pelo homem que menos esperava golpear-lhe. Afinal, quem era ele, um mero humano cheio de erros e defeitos para julgar seus semelhantes tão impiedosamente!

Só conseguiu reagir impelida por seu instinto bailarino. Dois, ou três passos até a mesa onde as aparelhagens musicais de Becke apoiavam-se, e vasculhando as playlists do notebook da Dj ela clicou em: Ciara; Promise, optando pelo modo repetitivo.

Vestida em uma calça colante e uma mini blusa, que evidenciava seu exuberante colo, procurou mais uma vez por sua imagem refletida no espelho e começou a dançar.
A dança lhe relaxava. Na falta de argumentos e soluções, ou até mesmo uma discussão inteligente com sua própria mente; ela era a porta para se expressar.

Já haviam se passado duas semanas desde que Brooke ficara sabendo de sua relação com Matheus, e a b-girl continuava ignorando-a. Inventava alguma desculpa para se manterem distantes e estavam cada vez mais afastadas. O contato delas não ia além dos treinos.
As Blackout harmonizavam-se nas coreografias. Elas alcançavam uma sincronia surpreendente.

A personalidade intensa do Jazz ganhou uma performance sensual em seu corpo. Movimentos sutis e suaves remendados a um protesto ágil de saltos e flexões. O balé contemporâneo era seu estilo formal.

A figura de Brooke surgiu ao seu lado admirando sua flexibilidade em execução por alguns instantes.

A latina jogou a mochila no piso, assim que se recuperou da visão extraordinária, avisando:

- Nós precisamos conversar.

Rita, que já havia cessado os passos naquela altura se virou para ela.

- Eu posso manifestar meu até que enfim?

Brooke não respondeu.

- Brooke - Rita insistiu - Devo desligar o som?

- Não é preciso. O que tenho pra dizer é objetivo não vou tomar muito de seu tempo — estava séria e decidida, o que acabou por preocupar Rita que sentiu o coração tremer num misto de alívio e medo.

- Eu pensei muito no que conversamos... - a latina pronunciou insegura. Ela perdera a firmeza, que fora parar no intercale da decisão. - Não tem como continuarmos.

O pranto inundou o lado esquerdo do peito de Rita. E a música calou as batidas descompassadas.

Ela se aproximou da latina num impulso e enlaçou-a na nuca bagunçando seus cabelos lisos com as mãos.

- Não, não pode ser verdade. Você me ama. Eu te amo. Vamos superar isto, Brooke.

A latina tentou se esquivar da investida, mas foi impossível se afastar dos lábios da moça, quais estavam a um centímetro dos seus. Era difícil, para não dizer impossível, resistir a Rita. Amava-na demais mas também amava a si em primeiro lugar.

- Não piore as coisas, Rita. Siga sua vida, que irei seguir a minha.

- Você é minha vida!

- Não, não sou. Sua família está em primeiro lugar.

Almas Dançando ( LESBIAN)Onde histórias criam vida. Descubra agora