Capítulo 1.

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Os pensamentos consternados e amotinados de Brooke cessaram logo após deixar a prisão feminina, onde cumprira quase três anos de pena.

Assim que voltou a civilização peregrinou pelo centro de Nova Iorque, imersa em suas desilusões íntimas, sabida; tão cruéis.

Jazia noite na metrópole. As sombras cobriam densas; os admiráveis prédios. O céu cinzento complementava suas emoções cavas e atribuladas. O frio soprava severo, acelerando os passos das inúmeras pessoas ansiosas e materialistas. Afastou-se do burburinho, depois de muitos esbarrões e xingos, sentando-se no banco de uma praça.

As nuvens escuras ocultavam as raras estrelas, que obstinavam em brilhar. O barulho do mundo era tão intenso quanto o silêncio e a ausência de esperança que havia em si, naquele momento.

Fixou o olhar em um arranha-céu e desejou estar no topo, ter coragem pra pular. Aniquilar o passado. Simplesmente; deixar de existir feito poeira ao vento. Mas, em seu âmago o orgulho era alento inquisidor. Não poderia desistir tão covardemente, depois de tudo que havia experimentado.

Sua única e mais poderosa inimiga era sua própria consciência. Teria que encarar este fato. Não possuía recursos para apagar o que vivera, dolorosamente por sua escolha, suscetibilidade as ilusões, aos caminhos fáceis, aos enganos e as alegrias passageiras. Fora golpeada por suas competentes fraquezas.

Seria injusto aplicar a culpa a alguém além de si mesma.

A melhor alternativa era voltar ao deserto da sociedade moderna, repleta de interesses fúteis e egoístas, agora, que generosamente o destino lhe ensinara a viver entre eles. Estava; preparada psicologicamente para as rotinas hostis e sem profundidade, os julgamentos e as tentações com que teria que lidar.

Quando deu por si novamente, estava em frente a casa de Melina. Roubou um suspiro de algum lugar de seu cerne, recolhendo uma reles migalha de coragem e um punhado de dignidade latente, que o mundo exterior havia lhe arrancado.

Pronto. Colocara o dedo no interfone e apertara insistentemente sem se importar com o fato de passar das onze da noite.

Minutos depois a voz feminina rouca, revelando que acabara de ser acordada, atendeu.

- Oi. Quem é?

Brooke suspirou mais uma última vez. Sua face morena já deveria ter alcançado mil e uma tonalidades diferentes graças a vergonha.

- É... É a Brooke - avisou num titube.

Silêncio se fez totalmente amofinador do outro lado. Até que por fim, depois de longos minutos de impaciente espera, ouviu o portão de ferro se abrindo com o comando interno.

Ela sussurrou um ufa. Não tinha para onde ir. Teria que se humilhar para alguém pra não ter que dormir debaixo de alguma ponte. E a pessoa mais indicada era ela. Pois sabia que tinha o coração mole. Fácil de tapiar.

Entrou na casa em passos maquinais, depois de fechar o portão numa batida grosseira. Ganhou o jardim abandonado e subiu os dois degraus que dava para a porta de entrada. Colocou um pé após o outro e em seguida a fechou. Quando se virou levou um bofetão ferino no rosto.

- Sua maldita! Desgraçada! - Melina xingou com olhos marejados.

Brooke levou a mão do lado da face que havia sido estapeado, pois começara a arder com o golpe.

- Mel... Perdoe-me - pediu encenando sua melhor expressão de coitadinha.

- Como tem coragem de aparecer na minha casa, depois de TUDO QUE ME FEZ?

- Mel... Eu não tenho pra onde ir. Só posso contar com você.

- Que se dane! Eu quero mesmo é que você vá para o inferno! Isso se o diabo te aguentar por lá!

Almas Dançando ( LESBIAN)Onde histórias criam vida. Descubra agora