Conclusão

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Demonstrar seus sentimentos, antes que seja tarde; pois o tempo... Ah o tempo escoa por entre nossos dedos, e um dia você pode implorar por um momento, mas não ter mais a mesma oportunidade de recomeçar. Na vida não temos como fazer o backup, apertar pause, adiantar ou apenas voltar atrás.
Por isso, o que está levando consigo desta viagem? Quais são suas bagagens? Amor, mágoa, compaixão, frieza ou indiferença? É mais fácil mascarar, ou caminhar com leveza?
Sempre iremos atravessar numa parada para só depois então prosseguir, mas você estaria satisfeito com o que construiu até ali?

Francis desviava o olhar de Brooke, apenas para não tropeçar no calçamento indecente daquela comunidade. Ele estava imensamente feliz e grato por poder partilhar sua vida ao lado da irmã, tanto nas partes alegres, mas principalmente nas difíceis como àquela. Ambos, ficaram comovidos e impressionados com a miséria material do ambiente e de alguns habitantes.

Caio havia dirigido por quase duas horas sem trânsito para chegarem na Vila. Deduziram ter passado pelos principais cartões postais da cidade, até se afastarem das belezas visuais, para não dizer ilusão de ótica ou uma bela de tapiação que mantinham as pessoas entorpecidas no lado mais favorável da sociedade, que agradariam os olhos de qualquer turista.

Naquele âmbito, havia uma pobreza extrema. Faltavam coisas básicas como saúde, alimentação, segurança, e até urbanização. O esgoto ficava aberto para todo mundo que passasse por ali presenciar aquele dardo ao estômago. As casas eram pequenas, construídas sem nenhum tipo de estrutura confiável a moradia, podendo desabar com qualquer tempestade, uma vez que eram feitas em cima de barrancos suscetíveis ao deslizamento. Mesmo assim, e talvez por isto, os moradores ainda carregavam a passividade e a bonança em seus semblantes, sem qualquer ar de revolta.

A dupla já havia perdido o senso de horas, quanto mais se adentravam no interior da favela. Em dado instante, Caio parou em frente a um prédio de três andares e avisou:

- Temos que pedir permissão para irmos mais a fundo por aqui. A comunidade é chefiada por um traficante muito perigoso, que não admite intromissões.

- Faremos o que for preciso, Caio. - Brooke assentiu.

- Certo, deixem que eu me comunique com eles. Vou colocá-los a par da situação.

- Confiamos em você - Francis reforçou.

Caio tocou a campainha umas três vezes, até ser atendido por um homem moreno portando uma arma na cintura sem se preocupar em disfarçá-la aos visitantes inesperados.

Eles começaram a conversar na língua nativa, e os irmãos ficaram em silêncio, atentos aos verbos desconhecidos tentando compreendê-los de alguma forma em vão. Só dava para saberem que eram o assunto, e realmente eram. Os dois homens olhavam para os jovens uma vez ou outra nesse desenrolar, os deixando ainda mais ansiosos. Desejaram aprender o português quanto antes, ou apenas terem um dicionário ou a legenda de opção.

Ficou ainda mais interessante quando Caio os pediu que aguardassem do lado de fora enquanto ele ia ter com o tal manda chuva.

Os irmãos consentiram e o observou sumir para dentro da porta.

Alguns minutos intensos de espera, Brooke analisou a expressão atormentada de Francis. Ele, assim como ela, se lembrava da fase de infância em que moraram na rua e passaram fome. E em Tom, apesar de sua forma torta e de suas reles imperfeições humanas foi uma boa figura paterna e os livrou da miséria, lhes oferecendo conforto e luxo. Uma vida digna, muito diferente daquela que estavam presenciando. Se tivessem tido a chance de conviverem com os verdadeiros pais talvez teriam que sobreviver assim, e isso os assustou. Em todo caso, nada pagava o amor fraterno que também existe entre os seres de uma mesma família, e isto certamente seria recompensado.

Almas Dançando ( LESBIAN)Onde histórias criam vida. Descubra agora