Capítulo 12

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Achei a atitude de Lívia infantil, onde já se viu querer provar a si mesma que não tinha gostado do nosso beijo, fiquei pensando tudo aquilo e tentando achar uma solução. Chegamos na casa de Heloísa era em torno de 4 da manhã e eu não estava afim de ficar chorando, eu até queria, mas meu orgulho era bem maior, Heloísa estava muito calada então resolvi perguntar:

- O que houve mana? Eu que sou humilhada e você que fica calada? Você se deu bem hoje com o Luiz, não entendo o porquê dessa cara.

Ela responde: - Grande coisa né beijar um cara em uma festa, já não gostei daquela ridícula da Lívia, e estou brava por isso, eu deveria ter contado para o namorado dela que ela é uma safada isso sim.

Não consigo disfarçar o riso, eu esperava tudo menos aquela resposta, olhei para ela e disse:

- Aí mana, eu não vou mentir que estou chateada com a atitude dela, mas se ela estralar os dedos e dizer que quer ficar comigo eu vou correndo, então não quero sofrer hoje, que acha de a gente sair para tomar uma cerveja em algum bar sei lá?

Ela responde: A gente ostenta hoje bebendo cerveja e amanhã chora por não ter dinheiro, eu acho que tem cerveja aqui em casa, ou vinho não sei, vamos tomar aqui mesmo, só não vale chorar depois.

Respondo: Nossa é verdade, já gastamos muito e amanhã ainda é sábado, vou lá na geladeira ver o que tem.

Então bebemos até o dia amanhecer e acordamos de ressaca, ficamos deitadas até meio dia e no meu celular tinha várias ligações da minha mãe, resolvi levantar tomar um banho e fui para a casa, assim que cheguei em casa meus pais estavam na sala à minha espera, eu já pensei ou alguém morreu ou sou eu que vou morrer mesmo, olhei os dois lá parados e perguntei:

- O que houve gente?

Meu pai respondeu: - Isso são horas de chegar? Que tipo de festa cheia de marginais você foi, eu já fiquei sabendo e não estou nada contente com isso.

Aquilo me subiu um ódio, quem é ele para julgar as pessoas? Olhei e falei:

- De onde você tirou essa história de marginais? Era uma festa comum de jovens, e eu estou bem, não aconteceu nada.

Ele me fuzilou com os olhos e respondeu: - Eu sei o que digo, e aliás fiquei sabendo que tinha gays e sapatões lá, isso é aberração e não quero você andando com esse tipo de gente, eu não tenho nada contra, mas não quero minha filha misturada com esse povo. E espero que você não faça isso.

Meus ouvidos sangraram eu nunca tinha escutado tanto barbaridade em toda minha vida, aquilo era preconceito puro e o que me dava mais raiva é que a minha mãe escutava aquilo e não dizia uma só palavra, eu já imaginava que meu pai era um escroto, mas agora minha mãe aceitar aquilo era demais para mim, olhei para os dois e fui até meu quarto escutando apenas a voz abafada dos dois resmungando, deitei em minha cama e pensei " estou perdida" esse "povo" que ele diz sou EU, e agora que beijei Lívia ficou ainda mais claro em mim o que eu sou, e o que me resta é apenas aceitar isso e lutar por isso, não será fácil, mas eu não viveria um mentira. Daqui um mês eu faço 18 anos, serei maior de idade, mas eu faço estágio, preciso de um emprego melhor que ganhe um pouco mais, pois pensamentos de sair de casa rondavam em minha cabeça, meus pais nunca aceitariam uma filha lésbica. Deitada em minha cama, pensando em tudo aquilo decido pegar meu celular e navegar pelo Facebook, vejo algumas fotos e me deparo que Lívia postou uma foto com Junior com a seguinte legenda " Você me faz bem, é meu porto seguro" meus olhos se encheram d'água meu dia já estava sendo péssimo, e aquela ridícula ainda faz aquilo, eu curti a foto, me levantei me arrumei já era em torno de 17 horas, peguei minha bike e fui até a casa de Lívia, eu não sabia o que estava fazendo, fiquei escondida olhando de longe pensando se ela iria sair ou se eu ia lá com a cara e coragem, passaram dez minutos e nada, então liguei para Renato afim de descobrir se Junior estava com ele, e Renato me confirmou que estava jogando bola com os meninos e foi falando os nomes, então Lívia deve estar em casa, atravessei a rua e apertei a companhia, morrendo de medo de ela sei lá me xingar, até que escuto passos vindo em direção ao portão, enfim alguém abre era uma senhora, e ela me disse com uma voz doce:

- Olá querida, o que deseja?

Respondo: - Olá, gostaria de saber se Lívia se encontra.

Ela responde: - Creio que ela está, quer entrar?

Penso rápido e respondo: - Sim.

Vou andando atrás da senhora, e ela me fala que o quarto ao fundo é o de Lívia, então bato na porta e ela abre me olha espantada e diz:

- Rebeca, o que faz aqui? Quem te deixou entrar?

Respondo: - Uma senhora me deixou entrar, gostaria de conversar com você será que podemos?

Lívia fica indignada com sua avó e me pede para entrar e sentar, enquanto ela vai até a sala conversar com sua vó para não deixar as pessoas entrarem, pois pode ser perigoso. Enfim ela volta até o quarto, me olha e pergunta:

- Me diz o que quer, se veio até aqui deve ser importante.

Respondo: - Sim, então eu queria pedir desculpas pelo beijo de ontem e dizer que não irei te prejudicar nem contar a ninguém.

Ela me olha e diz: - Ok, meu medo era esse, se quiser continuar sendo minha amiga vamos fingir que nada disso aconteceu.

Olhei em seus olhos e disse: - Fingir que não aconteceu nada, você não gostou?

Ela respondeu: - Olha Rebeca, eu não sei, nunca beijei garotas você foi a primeira, mas eu gosto de garotos e não quero te magoar.

Respondi: - Tudo bem, era só isso agora preciso ir.

Ela responde: Mas está cedo, não quer ficar um pouco mais?

Olhei para ela e respondi: Para que? Está na cara que você não gostou, e tudo que eu preciso agora é esquecer que isso aconteceu.

Ela responde: Rebeca, por mais que eu tivesse gostado nada adiantaria, quero continuar sendo sua amiga.

Respondo: Tudo bem, seremos amigas, mas agora eu preciso ir. Me leve até o portão por favor.

Ela puxou meu braço e me deu um abraço, dizendo no meu ouvido:

- Foi maravilhoso ontem, tudo vai ficar bem.

Eu sabia que ia me iludir, então apenas olhei para ela e falei:

- Se quiser repetir estarei aqui sempre.

Peguei meu caminho e fui, sai bem rápido me despedi da avó dela,  peguei minha bike e corri até a casa de Heloísa, a cada pedalada meu peito explodia de felicidade eu sabia que era amor.

Tudo por ela.Onde histórias criam vida. Descubra agora