Nossas lembranças!

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Meu coração estava em pedaços, vê-lo ali naquele caixão era como se minha vida tivesse acabado, ele estava pálido, gelado, seu rosto sereno, parecia que estava dormindo, mais não estava, Jorge se foi.
Olhei em volta e todos choravam, eu não estava aguentando mais ficar em pé, então o senhor que estava próximo disse.

- Hora de se despedir, iremos fechar o caixão!
- Não, por favor! Jorge acorda, levanta daí. - disse sacudindo ele, então meu pai me ergueu pela cintura me tirando de lá e eu gritava.

Fecharam o caixão e começaram a descer até chegar no final da cova, eu me soltei do meu pai e pulei na cova e deitei no caixão, chorava e gritava para que Jorge levantasse dali.

- Jorge meu amor, vamos embora, sai daí!

Senti uma dor horrível em minha barriga e acabei desmaiando.
Acordei e estava em uma cama de hospital, meus pais estavam sentados em uma poltrona cochilando, eu os chamei.

- Mãe, pai! - com a voz fraca e sem conseguir me mexer. - eles se levantaram depressa.
- Filha como você se sente? - perguntou meu pai.
- Péssima, quero ir pra casa. - disse com os olhos quase fechando, estava muito fraca.
- Você terá que ficar uns dias aqui filha, você quase perdeu o bebê, precisa se cuidar por ele, sua gravidez é de risco. - disse minha mãe acariciando meus cabelos.
- Mais como meu bebê está? Quanto tempo terei que ficar aqui?
- Ele está bem, está lutando para ficar aí quietinho, mais você precisa ajudá-lo, precisa se cuidar agora!

Eles ficaram ali comigo um tempo, mais depois minha mãe precisava ir pra casa, ela também estava grávida e precisava se cuidar, meu pai perguntou mil vezes se eu não queria que ele ficasse e eu disse que não, queria ficar sozinha.
Fiquei pensando em tudo que passei com Jorge, em nossas lembranças e tudo que vivemos, a enfermeira veio trocar meu soro e me trazer comida.

- Olá mamãe, hora de comer!
- Não estou com fome!
- Você pode não estar, mais tem um bebê aí que precisa se alimentar, venha vou lhe ajudar a sentar.

Fui obrigada a comer, mesmo sem fome, precisava mesmo pensar no meu filho agora, já que não me restava mais nada.

- Você pode me trazer papel e caneta? - perguntei a enfermeira.
- Claro, só um momento.

Ela saiu e logo voltou com o que eu pedi, comecei a escrever uma canção e sempre me lembrando de Jorge.

Tudo o que vivemos foi lindo, uma pena que durou tão pouco, se eu não tivesse ido para Buenos Aires tudo seria diferente, ele pelo menos estaria vivo, estaria aqui comigo, ou pelo menos vivo.
A tristeza me cercou, eu não conseguia me sentir feliz, nem completa, precisava buscar forças para poder cuidar daquele bebê, como seria olhar para o meu filho e ver os traços de Jorge nele, como seria, tenho medo de não conseguir olhar para ele e sentir alegria.
Os dias foram passando, somente meus pais poderia me visitar, eu já estava presa aquela cama de hospital por dias, médicas e enfermeiros iam a todo instante ver como eu e o bebê estava, eu tomava as vitaminas, me alimentava, mais parecia que a vida não fazia mais sentido, mesmo com um pedaço de Jorge dentro de mim, meu coração já havia ido com ele pra dentro daquele túmulo.
Hoje eu estou completando 19 semanas e meu bebê segundo a enfermeira era do tamanho de uma manga grande, ela informou que faríamos minha segunda ultrassom, a primeira ouvimos os batimentos do bebê, meus pais gravaram, e hoje nos iríamos conseguir vê-lo, ver suas perninhas, seu corpinho, quem sabe ver até se é menino ou menina, minha barriga estava levemente aparecendo, em um momento eu fiquei feliz de tê-lo dentro de mim.

Um Amor de VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora