Capítulo 13

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As selecionadas não tinham telefones em seus quartos.

Era uma decisão inteligente. Qualquer uma delas poderia ser uma infiltrada dos Todesser, no final das contas. Qualquer uma delas poderia ter uma marca negra, não nos braços, mas em seus tornozelos sempre escondidos pelos vestidos longos e sapatos fechados.

Assim que conseguisse a coroa, ou o momento propício, poderia assassinar a todos da corte que não concordassem com os seus planos, fossem quais fossem.

Jane sabia disso tudo. Sabia também que seria muito suspeito se qualquer um dos guardas a visse usando um telefone no meio da noite, mas ela não conseguia dormir. A bronca de Liam e a discussão rápida com Severina tinham sido suficientes para apagar qualquer paz e sorriso que ela pudesse ter adquirido naquela saída não autorizada ao vilarejo.

Não demoraria muito para que enlouquecesse outra vez com os ares do castelo. Às vezes se perguntava se Riddle não decidiria mantê-la em um calabouço, em vez de matá-la imediatamente. A sensação seria provavelmente a mesma.

Fechou as portas duplas do escritório escuro atrás de suas costas. Depois de algum tempo no palácio, era natural que já tivesse aprendido algumas passagens secretas que cortavam caminho. Os guardas não tinham o porquê se preocupar em vigiar as passagens, já que apenas algumas pessoas deveriam saber sobre elas, ou os escritórios, já que papéis importantes eram muito bem guardados em outro lugar.

Os aposentos do terceiro andar sempre tinham telefones. A comunicação dos monarcas com aliados e subalternos devia ser preservada, independentemente das circunstâncias. Se estivessem cercados por rebeldes, não poderiam sempre chegar aos escritórios para fazer uma ligação.

O verso do envelope, que mantinha guardado na gaveta como se fosse uma sentença de morte, continha endereço e telefone. Sua mãe sabia que não tinha uma memória muito boa para decorar um conjunto de números quase inutilizados. No geral, ela estava do outro lado da linha.

Jane não era de pensar muito antes de agir, então não tinha sido uma ideia muito boa que tivesse anotado o telefone na parte de trás. Alguém podia descobrir.

Pelo menos os telefones eram iguais aos da Nova Germânia, diante de tantas diferenças entre os dois países. Ela preferia os modelos mais antigos, que quase não funcionavam e tinham sobrevivido a tantas guerras, mas não se importava. Pressionar os botões era mais rápido do que fazer aquela roleta girar.

Fechou os olhos, tirando o telefone do gancho e aproximando-o da orelha. Esperou os primeiros toques, sabendo que ninguém atendia tão rápido. Não era costume comunicarem-se por telefone, pois nem todos os países tinham linhas telefônicas. As cartas eram mais usadas, um pouco de retrocesso tecnológico, quando ela pensava nas fotos que tinha visto na coleção de Liam.

— Pois não?

O coração pulou para a boca e ela bateu o telefone no gancho sem esperar mais um segundo, sem importar-se com o barulho que soaria pelo corredor. Não tinha pensado na probabilidade de não ser sua mãe a atender, muito menos na probabilidade de ser Tom Riddle.

Ele devia estar monopolizando tudo no palácio, sem que ninguém percebesse.

Escutou passos discretos dos soldados do lado de fora e então esgueirou-se de volta para a passagem pela qual veio.

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Todas as selecionadas já estavam no Salão das Mulheres, esperando pelo momento em que o Jornal Oficial de Illéa começaria. Algumas tinham anotações escritas às pressas em blocos de notas, outras tinham transcrito o que puderam dos relatórios militares, que tiveram de entregar algumas semanas antes.

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