EFEITO BORBOLETA - Livro 4

Capítulo 06 Enzo Massarelli Em mim dois sentimentos Felicidade e Frustração

Fico olhando para Alice como se ela fosse um cão de duas cabeças. Sua boca abre e fecha, e eu não consigo identificar absolutamente nada que ela fala.

De repente tudo saí fora de forma, de contexto, as palavras dela se perdem e eu estou fora de prumo.

Eu ouvi certo? Como foi mesmo aquela história de ter descoberto que estava grávida de mim?

- QUE PORRA É ESSA ALICE? - grito saindo da imobilidade súbita, diante daquele absurdo que Alice acabou de jogar em cima de mim. - Do que você está falando mulher, por acaso está querendo foder com a minha sanidade mental do mesmo jeito que fez a cinco anos atrás?

Ela me encara engolindo em seco. - Eu disse que quando eu vim embora com o...

- É, eu sei que você veio embora com o saco de merda do Nícolas. - eu a corto, não tenho paciência para papo furado. - Pula essa parte que não me interessa. O que eu quero saber é o que você disse depois.

- Eu disse que um mês depois que cheguei em Roma, eu descobri que estava grávida de você.

Grávida. Alice ficou grávida e ela diz que o filho é meu.

- Grávida? De mim? Um filho? - as perguntas saem entrecortadas.

- Sim Enzo, grávida, mas não é um filho, nós temos uma filha, uma menina linda com os olhos iguais aos seus. - Alice começa a se mexer, mas eu já não presto mais atenção.

Levo as mãos a cabeça esfregando o couro cabeludo compulsivamente e andando de um lado para o outro.

Quer dizer então que enquanto eu estava trancado no quarto, na casa dos meus pais me sentindo péssimo, Alice descobria que estava grávida de mim, e não teve o bom senso de me procurar para me contar? Ela teria me salvado da pior época da minha vida.

Caralho, isso não tem como piorar.

Diferente da maioria dos homens que existem por aí que sempre quiseram ter filhos homens, eu ao contrário sempre desejei ter uma filha com Alice. Uma linda Borboletinha como a mãe, com o mesmo sorriso cativante e bochechas rosadas.

Mas esse sonho morreu no mesmo instante em que Alice pisou em mim, e me jogou no caos que a minha vida se tornou por meses. Depois disso ter um filho, ser pai, nunca mais fez sentido, e com isso, os preservativos se tornaram essenciais na minha vida. Depois de Alice não houve uma só mulher que eu tenha me relacionado sem estar devidamente prevenido com uma camisinha.

Mas e agora? Agora eu tenho uma filha, e a mãe é Alice, a única mulher que eu amei na vida.

Olho para os lados procurando por alguma coisa que eu não sei o que é. Acho que eu quero sair daqui. Me sinto preso, enjaulado, sufocado. Quero que ela cale a droga da boca e pare de falar essa loucura. Como ela pode fazer isso comigo?

- Annie Ivy, essa menina linda aqui nessa foto, é a sua filha. Ela tem cinco anos. - Alice segura a minha mão e coloca um celular com a foto de uma menina de cabelos castanhos escuros na altura dos ombros, e com franjas cobrindo a testa. Ela sorri mostrando os dentinhos e evidenciando as bochechas rosadas, parece que a foto foi tirada enquanto ela brincava. Seus olhos são tão azuis que mais parecem o mar do Caribe. Franzo os olhos e analiso aquela foto. Consigo sim enxergar muito de mim naquela menininha.

Me lembro da cena que assisti ontem pela manhã depois que a reunião na Branda tinha acabado. Só pode ser sobre isso que Maitê estava falando com Alice. Era de mim e de Annie que elas falavam, e eu na hora não consegui entender. Também como poderia?