17 de fevereiro de 2019

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Passado vira presente

Apenas esqueci,

Não posso me apresentar,

Mas lembro da música do anos cinquenta para cantar.

Lembro que teria a ver com...

Ana?

Mariana?

Joana?

Juliana?

Eliana?

Diana?

Na verdade, pode-me chamar de qualquer um.

Estou perdida nesse velho endereço,

Não reconheço esses rostos que dizem ser familiares.

Oh, meu Deus! Tenho fazer a janta!

Para meu Joaquim chegar.

Ele chega de madrugada!

Rezo para ele, para os militares não prenderem.

Já que estamos em 64,

A filha da minha vizinha Rosário foi presa na universidade.

Vou até o fogão me ajeitar!

E vem uma louca me chamando de mãe.

Mandando-me voltar para o quarto.

Mas minha filha Maura só tem nove anos e não é uma mulher de quarenta anos.

"Mãezinha, lembra-me de mim." pediu a mulher onde acertei o pano em seu corpo.

"Papai já morreu mãezinha. Não precisa de fazer comida para ele." disse com voz calma segurando minhas mãos.

Assim tomei o choque!

Minha sobriedade voltou um pouco.

Chorei um pouco, mas foi por instante.

Antes de me esquecer de novamente que a carrego.

A doença que me faz esquecer.

A doença que me faz esquecer-se do meu presente.

Começo a cantar a música do Renato Russo ao lembrar do meu Joaquim cantava para mim.

Abraço a estranha do meu lado que também cantava comigo.

E assim Mal de Alzheimer,

Contagiava minha mente.

Fazendo esquecer mais e mais.

Sem que eu consiga impedir e sem ouvir meus protestos.

— Mariana Aguiar

365Donde viven las historias. Descúbrelo ahora