4 de junho de 2019

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as vozes

Estou aqui fora, agora
Está frio e escuro mas ao menos é verdadeiro
Vejo luminárias artificiais necessárias
Limitadas pela escuridão da noite, respeitando a luz
Que é da lua

E há o silêncio
Não há poluição, nem nada que não seja puro
É a expressão da alma em sua docemente bruta versão
Coletivamente gritando sons que são a voz da cidade
São nossas memórias que agora chegam ao presente
Nos dizendo a verdade mais pura:
Os latidos e as vozes
E os gritos, as conversas
As emoções que vejo subir
Espectros de almas em suas belas confusões
São o que vejo, quando olho para a noite
Da varanda fria e escura e silenciosa
De uma casa que não é meu lar:
Foi o lar de muitos antes de mim!
Foi terra pura e sagrada
Foi Éden e Adão só chegou aqui depois
Profanando com seus tijolos e suas luzes
Seu fogo condenável e roubado, agora tão banal
Tal poder nas mãos humanas:
Prometeu não sabia o que estava fazendo quando nos deu a fagulha
Ou mesmo a vida

Agora sem a máscara, sem os sons artificiais e de plástico
Que saem de caixas de som chiadas
Deprimentes em sua falsidade
Consigo olhar apenas para as luzes distorcidas da nossa sociedade
A civilização e as igrejas e toda essa porcaria que admiro
Não é tão bela por essas partes do planeta
Mas há a alma e há Deus e o coração e as vozes
Que contam-me, com ecos perdidos numa caverna que chamamos de lar
E cujo teto ninguém vê
Suas dores e alegrias e sorrisos e lágrimas e amarguras
E doçuras
E dou a eles toda a minha dialética ilógica e minha lógica fria
De escritor que torna-se então matemático
Poeta aprendiz das vozes mestras
Inspirado por elas, escrevendo por elas e para elas
Abraçando-as e amando-as e, por fim
Tornando-se parte delas.

—Matheus Costa

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