13 de Fevereiro de 2019

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 memórias...


A cabeça do ser humano é uma loucura. 

E podemos dizer que a quantidade de doenças são complexas. 

Em uma busca incessante e incansável por respostas que nunca chegam. Na verdade, existem algumas ações que nos trazem perguntas, que nunca deveriam acontecer. Existem coisas que deveriam ser proibidas de acontecer, mas elas acontecem. 

E tudo começou com um simples esquecimento. 

Eu sabia que ele estava doente, sempre esteve, desde antes que eu nasci. 

Sempre é uma palavra muito forte, mas foram pouquíssimas as vezes que eu senti aquele par de olhos claros em mim, e ouvi aquela voz grossa -e praticamente sempre irritada - sã; sanidade nunca foi o forte dele. Eu sabia disso, toda a nossa família sabia. Mas, naquele dia, que ele me olhou e não me conheceu, doeu mais do que qualquer outro dia. 

A doença já havia chegado, sabíamos disso. O alzheimer foi diagnosticado alguns meses antes, e o tratamento com remédios não surtiam efeito, exatamente pela teimosia. Ele não queria comer, não queria tomar água, não queria remédios. 

A doença em si, eu havia conhecido há muito tempo antes. Quando em um dia qualquer minha avó saiu correndo de casa, porque o marido da sua irmã havia sumido. Isso mesmo, sumido! Um senhor, de muitos anos, que sofria o mal de alzheimer, achou a porta aberta e saiu, sem rumo, porque sua mente lhe traia e ele não reconhecia a sua casa como o seu lar. Encontraram ele horas depois na casa em que ele viverá na infância. 

Mas, aquele dia, olhando meu avô na cama, me encarando e se perguntando quem eu era, acabou comigo de todas as maneiras que eu não sabia que era possível. Tudo iniciou com esquecimentos comuns, como não lembrar se havia almoçado, e terminou com lembranças apenas da infância. 

Uma doença incurável e degenerativa, que pouco a pouco, consome as células do cérebro e leva de você todas as suas memórias, sobrando apenas um corpo.

E segundo minha avó, são as memórias que nos mantém vivos. 

Ela estava certa, afinal. Quando lhe faltou memória, ele perdeu as esperanças, e a força, e acabou por falecer. Lembro de como foi pra ela receber a notícia. Lembro de como foi pra mim. Mas lembro ainda mais, como ela não conseguiu viver sem a memória presente de tê-lo ali, e acabou por partir também. 

A cabeça do ser humano é uma loucura...

e por mais que não tenha cura, existem meios de conseguir retardar o avanço da doença. Existem meios de uma qualidade de vida mais agradável. 

A cabeça do ser humano é uma loucura... não permitam que suas memórias se apaguem antes do tempo. 



Duda Azambuja

365Donde viven las historias. Descúbrelo ahora