CAPÍTULO 5

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Saímos da rodovia Anchieta há alguns minutos, estamos terminando de passar por São Bernardo do Campo e chegando bem perto de casa e tudo que eu consigo ver pelas ruas é o caos completo. Faz pouco tempo que saímos daqui, mal posso acreditar no que meus olhos veem. Há vários carros parados pelas ruas, muitos foram deixados para trás com as portas abertas, tenho um mau pressentimento, mas deve ser apenas minha imaginação me pregando alguma peça.

Julia acabou cochilando com a cabeça encostada no ombro da mamãe. Meu pai decide cortar caminho por uma rua que tem várias casas margeando os dois lados da avenida, mas há algo de estranho nesse local, parece que estamos entrando em uma cidade fantasma, está tudo muito silencioso e parece ter sido abandonado pelos moradores. Em um dos lados vemos um pequeno mercado com a placa de “aberto” pendurada na vidraça; minha mãe dá a ideia de comprarmos alimentos enlatados para “nos prevenir” caso as coisas se tornem difíceis. Descemos do carro e quando meu pai aciona o alarme, tudo começa... Escutamos grunhidos que arrepiam meu corpo inteiro, e ao longe vejo quatro silhuetas – de pessoas que parecem estar bêbadas vindas em nossa direção –, percebo que os barulhos vêm delas e é aí que minha ficha cai:

– Merda! Zumbis pai, são zumbis, precisamos sair daqui agora mesmo!

Meu pai corre para ligar o carro e o barulho do motor ligando faz com que aquelas coisas venham em nossa direção com mais velocidade. Como se eles fossem atraídos pelo som.

– Julia, me ajude aqui com a cadeira de rodas. Julia, rápido!

Mas ela está totalmente paralisada olhando para os bichos, não é preciso de nenhum especialista para dizer que ela entrou em estado de choque, começo a balançá-la de um lado para o outro.

– Para com isso! Você não pode ficar aí parada assistindo essas coisas virem nos matar. Anda Julia, reage!

Mas não adianta, é como se ela não escutasse uma palavra do que eu digo. Desesperado, meu pai sai do carro e me ajuda a colocar na carroceria a cadeira de rodas da mamãe que não para de tremer, empurro Julia para dentro também, e quando estou pronto para entrar, algo me impede. Um grito, uma voz feminina que vem de uma das casas.

– Thomas, o que você está fazendo? Entre nesse carro agora mesmo! – a voz é da minha mãe, que está chorando apavorada.

– Não mãe, alguém precisa de ajuda. Eu alcanço vocês, vou ficar bem! Eu juro!

Falo isso e em seguida saio correndo na direção da casa de onde veio o grito. Pego um pedaço de madeira que encontro no chão. Na cabeça, preciso acertar na cabeça. É o único pensamento que eu tenho. Um deles se aproxima de mim e dou o golpe mais forte que consigo. Ele cai no chão, mas continua se mexendo, acerto ele mais duas vezes, e sangue coagulado espirra em mim, é nojento, mas no fundo há uma pequena diversão nisso. Outro zumbi se aproxima, mas não tenho tempo de reação, ele está muito perto, no momento que ele vai me agarrar mais sangue esguicha em mim. Meu pai acertou um belo tiro na cabeça do morto-vivo com uma Desert Eagle, mesmo estando a quinze metros de distância.

– Vá para o carro agora! – berra ele, correndo até mim e acertando os outros dois zumbis.

Ouço novamente o grito dela, agora tenho certeza de onde vem o som: uma casa pintada de rosa claro, com um belo gramado no quintal. Meu pai berra novamente, não dou atenção para ele, pois minha prioridade é tentar achar a garota em perigo.

Abro a porta da casa e vejo a garota de aparentemente uns 15 anos de idade, de pele clara e cabelos escuros. Está atrás de uma mesa, e há uma zumbi tentando atacá-la. Mesmo com a estranheza do momento, não consigo deixar de reparar nos lindos olhos verdes e marcantes que aquela garota possui.

Nenhuma delas percebe minha presença na casa, dou alguns passos para chegar mais perto, então a zumbi me vê, esquece a garota e vem em minha direção. Ela tropeça em alguma coisa que está no caminho, o meu taco passa alguns centímetros de sua cabeça, perco o equilíbrio devido ao erro. Caído no chão, jogo o bastão nela enquanto ela se levanta, para eu tentar ganhar tempo. Pego a garota pelas mãos e ajudo-a se levantar, mesmo hesitante, ela vem comigo. Levo-a para a outra parte da casa, que acredito ser a cozinha, fecho a porta em seguida.

– Espere aqui! – ordeno. Ela obedece sem questionar.

Procuro nas gavetas da pia alguma coisa que me ajude nesse momento, acho uma faca de açougueiro e um espeto tridente de aço inox, imagino que as pessoas que moravam nessa casa adoravam um churrasco nos fins de semana.

– Que belas armas! – exclamo feliz da vida, mas algo me traz de volta ao mundo perigoso que estou; além dos arranhões e batidas que vêm da porta, ouço mais tiros que não parecem ser da mesma arma que meu pai estava usando.

Abro a porta e ataco novamente o monstro com o Tridente. Acerto bem em seus olhos e ela desaba no chão.

– Me ajuda? – peço a garota, pois os tiros lá fora se tornaram mais constantes e não sei quem é que está atirando agora.

– Não! – ela responde.

– Não se preocupe, vamos conseguir. – Indecisa, ela se levanta chorando, não sei o motivo, mas esse não é o momento de interrogar a garota. Entrego o espeto para ela e começamos a encarar a porta, digo em seguida:

– É agora, três... Dois... Um!

Abro a porta e imediatamente acerto a faca no crânio de outro deles, que se racha ao meio. Como chegaram aqui tão rápido? Continuo correndo enquanto ele cai inativo no chão. A garota faz o mesmo com outro zumbi, mas não coloca força suficiente e o tridente passa de raspão, arrancando a orelha do bicho. Ela golpeia a segunda vez e erra de novo. Nunca fiz isso antes, mas decido arriscar, atiro a faca e ela entra perfeitamente na nuca do zumbi. Volto até eles e removo a faca. Seguro firmemente na mão da menina fazendo-a sair correndo da casa junto comigo. Vemos o carro mais à frente e meu pai na carroceria da S10 com um fuzil IA2 atirando em outros zumbis que se aproximavam. Graças a Deus que é ele. Como sempre ele está preparado para tudo.

– Muito obrigada, você salvou minha vida. – Ela agradece.

Um sorriso malicioso se forma em meus lábios enquanto respondo:

– Você bem que poderia me dar um beijo como recompensa, não é mesmo?!

Mas sou interrompido pelo meu pai, que está muito nervoso.

– O que você está esperando, Thomas Benedito? Entre logo nesse carro!

Entro no carro e a garota entra na parte de trás e se senta ao lado de Julia.

– Quantos deles tinham lá fora? – pergunto.

– Uns 13 talvez, não sei ao certo, mas tenho certeza de uma coisa, foi uma péssima ideia voltarmos para cá. Como eu suspeitava, esse vírus se espalha rápido.

– Então não vamos ir para casa mais?

– Pode esquecer, nosso rumo é outro, vamos para minha base militar em Curitiba, agora mesmo!

Sobreviventes do Apocalipse - Livro 1 da Duologia Últimos Dias na TerraOnde histórias criam vida. Descubra agora