Estou tentando assimilar o que meu pai disse sobre os zumbis e as histórias que acabo de escutar. Adrian se levanta, tira o short e vai à beirada da piscina.
– Querem dar um mergulho?
– Mergulho? Com esse tempo nublado a água deve estar gelada. – Respondo, passando mecanicamente as mãos pelo cabelo.
– Que nada cara, o sol estava forte mais cedo, a água deve estar no mínimo morna.
– Eu adoraria – surpreendo-me com a voz de Julia. Não percebi que ela chegava para nos fazer companhia. – Mas não tenho biquíni.
– Não seja por isso, tem muitos biquínis no quarto da Tina.
– Quem é Tina? – pergunta Misty.
– Minha prima, irmã do Denis.
Resolvo aproveitar também. Fico só de shorts e mergulho na piscina – Adrian estava certo, a temperatura da água está bem agradável –, Julia e Misty entram juntas na casa.
– Adrian, você me disse que no carro estava somente o Denis, Anna e sua avó. Não disse nada da garota, qual o nome dela mesmo?
– Tina. Você é muito observador Thomas – ele mergulha para chegar mais perto de mim. – Já te conto a história dela, mas também tenho uma perguntinha para você... Quando estávamos matando os zumbis, seu pai disse "minhas filhas", mas pelo que percebi você e a garota ali não são irmãos... O que ela é sua?
– Nada. Eu apenas salvei a vida dela. E até a alguns minutos eu não sabia absolutamente nada sobre ela.
– O que a sua irmã tem?
– Opa, você disse uma pergunta – rimos. – Brincadeira, minha irmã entrou em estado de choque quando nos deparamos à primeira vez com os mortos. Mas esse lugar deve ter ajudado ela a melhorar.
– Sobre a Tina... – Respondendo minha pergunta, Adrian começa a narrar. – Denis me disse que antes de sair de casa o celular dele tocou, era a diretora da escola de Tina, que tinha ligado para buscá-la, porque as aulas estavam suspensas no Rio por decreto do governo.
– Pelo menos uma coisa o governo fez de bom! – comento. Caímos na gargalhada. As garotas saem da casa, vindo para a piscina. Julia esta com um biquíni branco enquanto Misty usa um vermelho. – E os pais deles? – um turbilhão de perguntas está se formando em minha cabeça, mas noto que ele está ficando farto delas, deixo essa como a que finaliza tudo. Também não gosto de responder muitas perguntas.
– Mortos. Cada minuto que se passa, acredito que morrem milhões de pessoas – ele responde, mas sua atenção está voltada para as duas que estão chegando.
– Fiquei bem assim? – Misty pergunta, dando uma volta para mostrar algo a mais que o biquíni, que lhe caiu perfeitamente, acentuando cada curva perfeita de seu corpo, enquanto Julia se mostra mais tímida.
– Parabéns, vocês ficaram excepcionais! – Adrian responde.
Misty pula na água e brinca com Adrian, parece até que se conhecem há tempos. Julia entra na piscina. Vou até ela.
– E aí, Julia, está melhor?
– Melhor de quê? Por causa daqueles bichinhos? Só você mesmo Thomas!
– Não sei... Você gosta tanto de falar... – Não estou entendendo, ela está se fazendo de corajosa para impressionar o Adrian? Ou não está nem aí para os acontecimentos que precederam? Saio da piscina e deito-me ali perto.
* * *
Momentos após eu me deitar, meu pai sai da cabana e vem até onde estamos.
– Minha esposa queria fazer um almoço, podemos usar aquele fogão à lenha que tem na cozinha?
– Claro, sintam-se em casa. Nem precisava ter vindo me perguntar. E o Denis, onde está?
– Ele foi tirar um cochilo, eu acho.
Meu pai se vira e começa a voltar para a cabana, mas depois de alguns passos ele se vira para dizer:
– Julia, você podia ajudar sua mãe, querida. Você também, Misty. Depois vocês podem voltar para piscina.
Elas saem da água, Julia está com um ar de tranquilidade no rosto, mas Misty parece não ter gostado do pedido do meu pai, mas vai assim mesmo.
Estou deitado, olhando para o céu. É difícil acreditar no que o mundo se tornou. É difícil acreditar em como nossas vidas serão daqui em diante. Acabo pegando no sono. Acordo algum tempo depois com Adrian me cutucando com o pé.
– Chega de dormir, Bela Adormecida, o almoço já está pronto. Vamos lá.
Levanto, me espreguiço e sigo Adrian até a cozinha da cabana. Antes mesmo de entrar, sinto o cheiro da comida que está maravilhoso. Minha mãe sempre foi uma excelente cozinheira.
A cozinha é bem espaçosa, tem uma mesa no centro dela, com seis cadeiras em volta. Um pequeno fogão à lenha na frente de uma grande janela que deixa a cozinha bem arejada. Pelo que percebi essa cabana tem outros três quartos, e uma sala de estar modestamente grande. Realmente não é o tipo de cabana que você espera encontrar no meio de uma floresta. Se é que podemos chamar isso de uma simples "cabana".
– Podem se servir – diz minha mãe. – É uma refeição modesta, mas acho que está bom.
Tem duas panelas em cima do fogão, e as duas tem o mesmo conteúdo. Macarronada com sardinha. O cheiro está ótimo. Denis que também acabou de chegar à cozinha abre um armário e coloca alguns pratos sobre a mesa, Anna abre uma gaveta e pega os talheres. Cada um pega um prato e se serve. Não cabemos todos na mesa, então Julia, Misty e eu vamos até a sala de estar e nos sentamos no sofá para comermos lá. Denis leva um prato para o quarto onde está aquela senhora. Todos nós comemos e repetimos. A comida ficou mesmo uma delícia. E eu que pensei que não faria uma refeição "decente" tão cedo.
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Sobreviventes do Apocalipse - Livro 1 da Duologia Últimos Dias na Terra
HorrorThomas é um garoto de quatorze anos, que adora filmes de terror. Após mais uma noite cheia de pesadelos, ele acorda e vê um noticiário na televisão: repórteres entrevistam um cientista em frente a um centro de pesquisas no Rio de Janeiro que explod...