CAPÍTULO 17

40 6 8
                                    


Olho para trás e Adrian está se aproximando.

– Veio conferir o que dissemos? – diz ele com um pequeno sorriso estampado no rosto.

– Estava conhecendo nosso novo lar – respondo ríspido. Parece que nada tira essa felicidade que esse cara tem no rosto. – Como viemos parar aqui?

– No momento em que parei o carro, eles estavam saindo daqui. Nos deram um refúgio e a senhora, que se chama Sílvia, ajudou você com esse ferimento na testa – ele chega ao meu lado e olha para os mortos que circulam ali perto e fala como quem quer puxar papo. – Você não acha estranho um grupo estranho como esse estar sobrevivendo em meio à essa praga?

– Não! – noto que o que ele diz tem sentido, mas não quero concordar com ele. – Eles me ajudaram e, outra coisa, eles estão nos abrigando aqui. Se não fossem eles, não passaríamos de comida para esses canibais.

– Tem razão – ele passa as mãos na cabeça. – Mas, mesmo assim, acho estranho esse pessoal desarmado e estranho conseguir sobreviver assim tão fácil. Estou descendo, você vai ficar por aqui mesmo?

– Sim, estou precisando refletir um pouco. – Ele desce a escada. Sento-me, fico pensando e revivendo momentos bons que já tive em minha vida. Talvez, só assim para começar a dar valor às coisas que provavelmente nunca mais voltarão.

Passada algumas horas, observo que o céu está fechando; muitas nuvens escuras estão se formando e passando rapidamente, um vento gelado começa a soprar. Desço as escadas e vou até onde eles estão. Chegando lá, vejo o barbudo e a Sílvia dormindo em cima do papelão que esticaram no chão. Denis está em um canto. Enquanto Adrian e Evandro escutam meu pai contar suas histórias do exército.

– Acho que vai chover um pouquinho. – Digo e, no mesmo momento, escuto o som de um trovão. Ao ouvir o barulho Silvia acorda assustada, mas o outro nem se mexe, talvez seja o efeito da bebida. Pondero.

– É só chuva, Sílvia – explica Evandro. – Pode descansar.

– Se junte a nós, Thomas – chama meu pai. – O quê estava fazendo lá em cima?

– Estava pensando, você bem que poderia me ensinar a atirar logo, pai.

– Também tinha pensado nisso, filho, mas não tivemos tempo ultimamente. Quando voltarmos, ensino você e os outros também. Já passou da hora de fazer isso.

– Mas como? Os tiros podem atraí-los! – digo.

– Tenho duas armas com silenciadores, podemos usá-las. Porém, elas não são muito silenciosas como mostram nos filmes e séries. Mas acredito que pela distância de onde é a casa, não irão escutar os barulhos.

* * *

Estou de volta à cobertura do depósito, mas dessa vez Adrian, Evandro e meu pai me fazem companhia. Podemos ver fortes trovões, precedidos por relâmpagos, que iluminam tudo à nossa volta. Mais à frente, há dois quarteirões exatamente, há também uma concessionária de carros no final do segundo quarteirão. Cutuco o braço do meu pai e aponto para o local e, pelo sorriso em seu rosto, não preciso dizer nada. Começa a cair a tempestade. Estamos todos encharcados, mas não descemos, pois uma forte mudança acontece após o começo da chuva. Um raio cai em um galpão que está a uns 2 quilômetros de nós, e nesse local deveria ter algo muito inflamável, ou até mesmo pólvora pelo rapidez que a explosão ocorreu. Logo após a explosão, os mortos começam a se dispersar da rua em frente ao nosso refúgio. Vemos então a única chance que temos.

– Vamos rápido! – meu pai nos chama.

Descemos rapidamente as escadas, enquanto Adrian tenta conversar com Denis, meu pai e eu os ajudamos a arrumarem as suas coisas.

– Vocês não aceitam vir conosco? – pergunta meu pai. – Você concorda, Adrian?

– Claro, eles nos ajudaram. Podemos retribuir.

– Não! – Sílvia responde instantaneamente. Desconfio da rejeição, pois eles são um grupo extremamente frágil. – Meu marido pediu para seguirmos o conselho do rádio. – Explica ela. – Vocês ajudariam mais se arrumassem um carro para nós.

Adrian levanta e anuncia:

– Tudo bem, vocês merecem bem mais que isso. Eu busco!

– Mas ainda devem ter muitos zumbis lá fora, você está louco? – questiono, mas vejo que ele está decidido a ir mesmo, ele caminha até a porta.

– Tem uma concessionária dois quarteirões à esquerda daqui. – Avisa meu pai.

– Me espera! – somos surpreendidos pela voz de Denis, que não tinha dito uma palavra sequer nas últimas horas. – Estou louco para matar esses demônios. – Ele está com o mesmo olhar de quando saiu de casa.

Sobreviventes do Apocalipse - Livro 1 da Duologia Últimos Dias na TerraOnde histórias criam vida. Descubra agora