Acordo assustado e me sento repentinamente na cama, só lembro que estou na parte de baixo de um beliche depois da pancada que levo na cabeça.
– O que aconteceu Thomas? Está ficando louco?
Minha irmã que dormia na cama de cima, agora está pendurada de ponta cabeça entre as duas camas, me fitando com cara de poucos amigos.
– Nada Julia... Tive outro pesadelo com zumbis, só isso.
Ela volta a se deitar e resmunga:
– Merda, isso que dá dormir no quarto de irmão mais novo!
O que eu posso fazer? Sei que zumbis são apenas obras de ficção, mas eu não deixo de acreditar, ela não acredita em vampiros por causa daquele tal de crepúsculo? Cada louco com sua mania!
Depois do susto, passo a noite inteira em claro, com medo de ser "atacado" novamente. Um mês atrás, aluguei mais de 10 filmes de zumbis após escutar as palavras de um pastor lendo algumas parábolas do apocalipse. Depois de assistir alguns filmes como: Madrugada dos mortos, Terra dos Mortos, e tudo mais sei-lá-o-que-dos-mortos, esses pesadelos começaram a me atormentar.
Reflito por um bom tempo, espero realmente não estar perdendo a sanidade... Há um brilho tênue no quarto, o sol já deve estar nascendo, mas antes que sua luz possa chegar até mim, adormeço.
Acordo algumas horas depois com uma voz doce chamando pelo meu nome. É minha mãe, Diane, uma mulher de meia idade, muito bonita, possui olhos castanhos escuros que combinam com seus cabelos que tem a mesma cor, pele branca e bem cuidada, as rugas quase não podem ser notadas. É uma pessoa muito tranquila mesmo diante de todos os problemas que a vida lhe dá.
– Já é quase meio dia, desça logo Thomas!
Viro-me na cama com a esperança de voltar a dormir, mas ela me chama novamente, levanto e desço até a cozinha. Julia já está sentada à mesa, enquanto minha mãe termina de preparar o almoço.
– Thomas, pode subir até seu quarto e trazer as roupas sujas para mim?
Entre um bocejo, respondo:
– Com certeza, mãe.
Há cinco anos, na véspera de natal, minha mãe saiu para comprar as coisas para a ceia, estava chovendo muito e, na volta para casa, ela acabou perdendo a direção do carro e bateu em um poste. Ela ficou em estado grave, permaneceu em coma por dois meses e, quando se recuperou dele, os médicos afirmaram que os danos causados ao cérebro tinham a deixado paraplégica. Sugerimos que nos mudássemos para uma casa térrea, mas ela nunca aceitou. Adaptou o primeiro andar da casa, onde ela passa a maior parte do tempo, já que não pode subir para o outro andar, transformou a sala no seu quarto e nunca deixou de acreditar na sua recuperação, embora os médicos afirmem que os danos causados pelo acidente foram permanentes. Não posso culpá-la, afinal, a esperança é o que mantêm as pessoas vivas, mesmo diante de todas as dificuldades.
Moramos numa bonita casa em uma região de classe média na cidade de Santo André, do Grande ABC de São Paulo. No andar debaixo fica a cozinha, o quarto dos meus pais e a lavanderia. No segundo andar fica meu quarto, o de Julia – que está em reforma devido a uma infiltração –, e o quarto de hóspedes. A casa toda é muito bem arejada e espaçosa, talvez tenha sido por isso que mamãe nunca quis deixá-la. Chegando ao meu quarto, olho para a televisão que minha irmã deve ter esquecido ligada. Vou em direção dela para desligar, mas uma reportagem que está passando prende minha atenção.
O repórter está em uma estrada de terra acompanhado de um homem, ambos usam trajes muito parecidos com os de astronautas, daqueles que eu sempre via nos desenhos animados. Um símbolo de “ao vivo” é mostrado no canto inferior da tela. O repórter começa a narrar os fatos:
– Estamos com o Doutor Paulo a poucos metros do local em que houve a explosão essa manhã, ele poderá nos explicar melhor e com exclusividade tudo o que aconteceu. Então doutor, o senhor foi o primeiro a comunicar os bombeiros sobre o acidente?
– Sim, estava a caminho do laboratório para dar início ao meu plantão, por volta das 4 da manhã, quando estava chegando senti um forte cheiro de fumaça vindo do local e imediatamente liguei para os bombeiros, mas...
– E o senhor pode explicar para o público que nos assiste o que exatamente funcionava naquele local?
Após ser interrompido pelo repórter, o homem continua:
– Como eu disse anteriormente, lá funcionava um laboratório, onde desenvolvíamos vacinas e lidávamos muitas vezes com material tóxico para a população. Não faço ideia de como aquele incêndio ocorreu... Liguei para os bombeiros, mas esqueci de comunicá-los sobre o alto grau de radioatividade que poderia estar emanando de lá.
Radioatividade... Está explicado o porquê dos trajes desses homens. Analiso.
– Foi por isso que os primeiros homens a chegarem ao local vieram a falecer? – indaga o repórter.
– Não posso afirmar, mas ouçam com atenção. – O homem tem um acesso de tosse e logo em seguida fixa os olhos na lente da câmera para continuar seu discurso. – Só Deus sabe quanta radiação vazou desse lugar após esse incidente, radiação que pode ter contaminado milhares de quilômetros, e até estados vizinhos... E talvez, algo ainda mais perigoso tenha escapado desse laboratório, então, por favor, me escutem... Evacuem esse estado, aqui não é mais seguro!
– O senhor está pedindo que o Rio de Janeiro seja evacuado? Faz ideia de quantas pessoas vivem...
– Por favor! Isso é para o próprio bem de vocês! Fujam! Fujam daqui! Para o sul, para o norte e se possível para fora do país!
O homem tem outro acesso de tosse e cai imóvel no chão, o repórter parece não saber o que fazer. O microfone em sua mão não esconde o quanto ele está tremendo, ele faz um sinal para a câmera e a exibição é cortada, indo direto para os comerciais.
Desligo a tevê e sinto meu corpo ficar completamente arrepiado.
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Sobreviventes do Apocalipse - Livro 1 da Duologia Últimos Dias na Terra
HorreurThomas é um garoto de quatorze anos, que adora filmes de terror. Após mais uma noite cheia de pesadelos, ele acorda e vê um noticiário na televisão: repórteres entrevistam um cientista em frente a um centro de pesquisas no Rio de Janeiro que explod...