Capítulo 16

38 5 6
                                    

Está tudo escuro; não consigo enxergar quase nada à minha volta.

– Tem alguém aí? – minha voz ecoa.

– Shiiiu, não faça barulho. Eles estão na porta. – Cochicha uma voz masculina que não consigo reconhecer. Não parece ser a voz de Adrian, nem Denis, muito menos do meu pai. Fico quieto.

– Venha comigo! – Ordena o homem.

Sigo ele, não por ver aonde ele está indo, mas pelos sons de seus sapatos. Aos poucos vou me acostumando com a escuridão. Pelo vulto, percebo que é um homem baixo, com aproximadamente 1,65 de altura e muito magro. Ele me leva em direção à uma escada, por onde descemos. Ele abre a porta, que range bem alto e uma luz ilumina todo local. Protejo meus olhos com as mãos. Cinco pessoas estão sentadas em cadeiras de bar. Aos poucos percebo que essas pessoas são: meu pai, Adrian, Denis, um homem barbudo com um boné de rede dos Hornets (um time da NBA) com uma garrafa de cachaça na mão; e também uma mulher gorda de vestido verde. O homem que estava à minha frente parece ter em torno de sessenta anos de idade, tem poucos cabelos em sua cabeça e, os fios restantes, são todos brancos.

–Como você adora dormir, hein Toby?! – Adrian enfatiza o apelido recém-criado, e pela expressão que fiz da primeira vez que ele me chamou pelo apelido, vai virar um apelido oficial.

–Onde estamos? – pergunto.

–No melhor lugar onde podíamos estar – responde o barbudo que está embriagado. – Num depósito de bebidas.

– Continuando o assunto, Evandro – diz meu pai, olhando para o velho que entrou na sala junto comigo. – Como é esse negócio de ilhas?

– Então, estava procurando notícias na frequência do rádio policial. Não achei nada. De repente, parei em uma estação onde dizia: Sigam para os portos, Temos barcos e muito combustível, estamos indo para ilhas para nos protegermos da epidemia. Sempre repetindo as mesmas palavras. Decidimos seguir para o litoral, mas perdemos nosso carro e fomos cercados em seguida por esses monstros, e acabamos nos escondemos aqui.

– Quando ouvimos a notícia nosso grupo era bem maior, éramos quatorze pessoas, mas fomos perdendo um por um, só sobrou a gente... Entende.

– O que pretendem fazer agora? – pergunto novamente.

– Continuar a jornada até o litoral, nem que tenhamos que voltar para o litoral paulista – responde a mulher. – Esse foi o pedido do meu marido antes de se tornar um carnívoro.

– Tem como sair daqui? – pergunta meu pai e foi uma boa pergunta. – Já que estamos cercados.

– Vamos ter que esperar de novo, nós já estávamos de saída quando vocês estragaram tudo. Ficamos horas trancados aqui dentro, esperando essas coisas irem embora, mas vocês arruinaram tudo. – Responde Evandro.

– Calma aí. Vocês disseram que estamos em um depósito de bebidas? – meus olhos iluminam, olho para Adrian e meu pai; eles balançam a cabeça em sinal negativo.

– Estamos sim – responde o barbudo rindo. – Não saio nunca mais daqui!

Não tinha reparado, mas Denis está muito pensativo. Não ouvi a voz dele até agora. Deve ter surtado depois de perder todos aqueles que ele mais amava de uma só vez. Chamo meu pai para conversarmos.

– O que o Denis tem? Conseguiram falar com ele?

– Não, ainda não sabemos. Ele não pronunciou uma palavra até agora.

– Como vamos sair daqui, pai? A mamãe e Julia estão sozinhas lá.

– Tenha paciência filho, não podemos perder a cabeça, vamos esperar um pouco, arrumaremos uma solução em breve.

Ele entra na sala que tem no local, logo após os engradados de cerveja. Mas não vou atrás dele. Subo de volta de onde vim. Já caiu à noite, por isso o lugar está tão escuro, mas a luz do luar está começando iluminar um pouco as brechas das paredes e do portão de ferro. Vejo o motivo para não fazer barulho, as portas não parecem muito resistentes. Ando em volta do lugar e encontro uma escada de aço que leva até um alçapão no teto. Subo até lá. Após abrir o alçapão observo um pedaço da cidade; é linda, a iluminação da lua cheia deixa as casas, misturadas aos prédios, pequenos parecendo desenhos pretos e brancos. Há poucos locais onde há luz. Vou até a beirada e vejo centenas de mortos na rua em frente ao depósito. Vou até o outro lado, na rua sem saída, também há dezenas de mortos perambulando por ali. Realmente estamos cercados. De um lado uma rua sem saída cheia de mortos, do outro uma cidade inteira dominada por eles. Percebo que não temos alternativas a não ser esperar.

Sobreviventes do Apocalipse - Livro 1 da Duologia Últimos Dias na TerraOnde histórias criam vida. Descubra agora