CAPÍTULO 9

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CAPÍTULO 9

Denis engata a marcha ré e acelera o carro.

– O que você está fazendo? O carro com minha família está lá na frente! – grita meu pai, suas palavras são abafadas pelo barulho forte do motor.

– Não tem como passar por lá colega. – Diz Denis. Enquanto faz uma curva sinuosa e entra em uma rua comprida, com várias casinhas simples. Penso nas famílias que deveriam viver aqui, os pais que saíam cedo para trabalhar, as mães que arrumavam os filhos para ir à escola. Será que não tem mais ninguém vivo por aqui? Mas me livro logo desse pensamento e volto a me concentrar na rua. No final dela, posso ver uma pequena estrada de terra.

– Tem vários carros no meio do caminho. Você veio de lá, deveria ter prestado atenção nisso. – Volta a dizer Denis, com um tom de sarcasmo na voz.

Meu pai assente, como que recordando a cena dos carros ocupando toda a estrada, mas continua nervoso.

– É, mas precisamos pegar minha família!

– Nós vamos chegar até eles, estou só pegando um caminho que não tenha tantos "obstáculos".

Entramos na estrada de terra e depois de uns 300 metros, Denis freia o carro e manda todos descerem.

– Está vendo essa pequena trilha? – pergunta Denis apontando para a direita. – É um atalho para a estrada pouco antes de entrar na cidade, provavelmente vai dar onde sua família está.

Sem esperar por mais nada, meu pai dispara na direção que Denis apontou. Fazemos o mesmo e vamos correndo atrás dele. Uns 500 metros à frente já podemos avistar o acostamento da estrada, e a silhueta de alguém. É Misty. Ao ouvir o nosso barulho quando nos aproximamos, ela se assusta e atira em nossa direção. O tiro acerta uma árvore, não chega sequer a passar perto de algum de nós. Nesse momento agradeço pelo fato dela não saber atirar muito bem.

– Mandem a garota da arma e as outras que estão no carro correrem para cá, aquela "distraçãozinha" que criei não vai segurar os zumbis por muito tempo. E esse tiro vai atraí-los mais rápido ainda. – Adrian não diminui o passo enquanto fala.

Meu pai nem responde, está desesperado para chegar ao carro. Mamãe. É por isso que meu pai não pode simplesmente gritar para elas correrem para cá. Ele precisa tirar a cadeira de rodas do carro. Julia e Misty iriam demorar demais para fazer isso. E Julia não está em seu juízo perfeito, ela ainda precisa de um tempo para melhorar e aceitar os acontecimentos.

Papai chega ao carro antes de todos nós, Misty está com a arma abaixada, falando sem parar. Ela fala muito rápido, as poucas palavras que consigo entender são "me desculpe senhor, pensei que eram aquelas criaturas". Meu pai ignora os pedidos de desculpa dela. Ele vai até a carroceria da S10 e começa a retirar a cadeira de rodas.

– Poxa cara... – Adrian parece surpreso com a cena. – Ela não pode andar?

– Não. – Respondo.

– Em meio a um apocalipse deve ser difícil não poder correr.

Fico em silêncio. Ele está certo. Mamãe jamais conseguiria fugir de um zumbi se ele a atacasse. Queria que um milagre acontecesse como aqueles que costumam passar naqueles canais com programação religiosa. Queria que ela voltasse a andar.

– Thomas, pegue tudo que está na caçamba da S10! – grita meu pai, enquanto termina de colocar a cadeira de rodas no chão. – Ajude ele Misty!

Obedecemos à ordem, pegamos tudo quanto podemos carregar, ou melhor, o mais importante: as armas.

– E os galões de gasolina pai?

– Deixe aí, acho que zumbis não podem roubar um carro, não é mesmo?

Meu pai entra no carro, levando-o para o meio das árvores.

Adrian me ajuda com as armas. Meu pai sai do carro e começamos a voltar para a trilha.

– Estamos numa cabana a alguns quilômetros, mais a frente naquela estrada de terra. Ela fica bem isolada, é seguro. Vamos todos para lá. – Diz Anna.

– Está bem. Muito obrigado mais uma vez.

 Fico sem reação, meu pai me deu o maior sermão sobre não confiar em qualquer pessoa e agora ele está seguindo para o meio de uma floresta com um bando de estranhos? Fico ao lado dele e digo baixinho:

– E nosso carro? Vamos deixar para trás?

– Vamos ficar pouco tempo com essas pessoas. Depois voltamos, pegamos nosso carro, damos meia volta na estrada e iremos atrás de outro lugar, já que a base militar não nos parece mais uma opção viável.

– Não precisam se preocupar. Podem ficar quantos dias quiserem por lá. Desde que nos ajudem com a vigia e com a arrumação da casa, é claro. – Diz Adrian, com um pequeno sorriso. Parece que minha tentativa de falar baixo para que só meu pai ouvisse não obteve muito sucesso.

Meu pai assente. Julia caminha ao lado de Misty, que já deu boas olhadas para o corpo de Adrian. Sinto-me enciumado. Sei que não faz sentido, ela não é minha namorada, nem nada do tipo, mas sinto ciúmes mesmo assim.

Demoramos um pouco mais de tempo para chegar ao final da trilha onde deixamos o carro. Meu pai pega a mamãe no colo e a senta no banco da frente. Enquanto coloca sua cadeira de rodas na caçamba. E o restante de nós subimos nela também. Denis liga o carro e dá a partida. Olho para trás, não vejo nenhum morto nos seguindo. Estou ansioso para ficar a sós com meu pai, quero conversar com ele. Entender porque ele aceitou ir para o meio do nada com desconhecidos. Para onde foi todo aquele papo sobre não confiar em estranhos, afinal?

Olho para minha mãe pelo vidro que divide a cabine da caminhonete da caçamba e percebo que está com a cabeça abaixada desde que a buscamos no carro, e também não falou nada ainda. Chego mais perto dela e percebo que seus olhos estão vermelhos.

– O que está acontecendo, mãe?

– Nada filho. – A voz dela é abafada pelo vidro e está falhando. Ao escutar a conversa, papai se aproxima também.

– Diane, tinha percebido que você estava com os olhos inchados, mas não falei nada por falta de tempo – deixo os dois conversando, mas atento ao que estão falando. – Pode me contar, é algo que fiz?

– Não Charles – dizendo isso ela começa a chorar. – Sou eu o problema, tudo isso acontecendo e eu sendo um peso para vocês. Não posso ajudar nem na proteção da família.

– Tenha fé, meu amor! – agora ele também está com lágrimas em seus olhos, mas ele a chamar de meu amor; há quanto tempo não escutava essas duas palavras. Meus olhos se enchem de lágrimas. Viro-me e olho para a estrada. Não paramos de subir e descer morros, na estrada tem muitas árvores ao redor, já passamos por algumas fontes de água. Pelo que meu pai comentou sobre lugares assim, imagino que por perto tenha cachoeiras ou lagos.

Quando estamos chegando vejo que a cabana não é nada que imaginei – pensei que seria uma cabana simples, de madeira e desgastada pela chuva, com musgo no telhado –, mas não, tem um jardim lindo na frente com diversos tipos de flores, a garagem tem portões automáticos. Na entrada as portas são de correr com acabamento de vidro. Parece mais uma pequena mansão do que uma simples cabana.

Ao chegarmos uma garotinha de no máximo doze anos de idade, vem correndo e com uma expressão de terror no rosto.

– Denis, Denis! – chegando até o carro, ela continua desesperada. – A vovó piorou.

Após pronunciar essas palavras, Denis sai rapidamente do carro enquanto Adrian e Anna saltam da carroceria da Montana.

Sobreviventes do Apocalipse - Livro 1 da Duologia Últimos Dias na TerraOnde histórias criam vida. Descubra agora