Nós Duas (Romance Lésbico)

XVI

— O que você quis dizer com aquilo? — Cecília questionou Phellipe após ficarem a sós em um canto da quadra.

— Aquilo o quê?

— Com Audrey ter esvaziado o armário dela? — O garoto riu desacreditado na pergunta que Cecília havia lhe feito.

— Por que ainda insiste nessa garota, Cecília? O que você vê nela? — Phellipe parecia sincero.

— O que você vê nela, Phellipe? Porque a única coisa que vejo você fazer é querer prejudicá-la a qualquer custo. O vejo com seus amigos debochando, agredindo-a, infernizando-a e honestamente, isso para mim não faz o menor sentido.

— Ela é patética, cara. É esquisita... Ela dirige um Fusca. — Respondeu aparentando estar sem fortes argumentos.

— Sério que você dificulta a vida dela por tão pouco? Pouco não, por nada, na verdade... — O garoto deu de ombros. — É, lamento informar, mas acredito que o problema não esteja nela e sim em você. — Cecília balançou a cabeça negativamente. — Chega a ser inacreditável.

— Você se torna patética quando tenta defendê-la. Isso sim é inacreditável. Ainda bem que essa babaca será expulsa do colégio e você — disse apontando o dedo no rosto de Cecília — nunca mais irá tocar no nome dela. Entendeu? — Cecília não respondeu pois o garoto estava visivelmente nervoso. Ele afastou-se dela, respirando fundo e passando a mão no cabelo em uma tentativa de não perder o controle.

— Então quer dizer que você pediu para que ela fosse expulsa?

— Meu pai e o diretor Rolland são muito amigos.

— Por qual motivo você fez isso, Phellipe?

— Isso é muito vantajoso, não consegue ver? Ela irá para outro colégio e eu posso ser alguém melhor sem ela por perto.

— Você é doente. Tenho nojo de você.

Cecília estava com os olhos cheios d'água quando saiu da quadra correndo em direção ao banheiro da escola.

...

O sinal que avisava o início do intervalo havia tocado e o banheiro estava sendo invadido por uma multidão de garotas desesperadas para fazer uma manutenção em sua aparência. Cecília ainda estava dentro de um dos boxes lutando para se recompor quando ouviu uma garota dizer à outra:

— Você ouvir dizer que Audrey será expulsa do colégio?

— Sim, fiquei sabendo agora pouco. Raven que me contou. Não conheço Audrey pessoalmente, mas eu sei que ela não é uma má pessoa. Nunca procurou encrenca com ninguém, sempre no seu canto, sempre tirando as notas máximas do colégio, alguém realmente dedicada e esforçada.

— Ela ter partido para cima daqueles babacas deixa bem claro que era apenas autodefesa. Eles fazia o que queriam com ela a hora que bem entendessem. O diretor, outro covarde, nunca sanou o problema e ele estava muito ciente disso. Nada irá tirar da cabeça que o Phellipe está por trás dessa expulsão.

— O fato do Phellipe ser filho do prefeito lhe dá carta branca para fazer o que bem enten... — A garota foi interrompida quando Cecília saiu do boxe e foi lavar as mãos na pia. Um silêncio horrível começou a pairar no banheiro. As garotas olhavam para Cecília apreensiva. Ela fechou a torneira, secou as mãos e enquanto caminhava em direção à saída do banheiro, ouviu as duas garotas dizerem:

— Meu deus! Aquela era a Cecília Brook?

— Sim e ela está uma bagunça. — Disse se referindo ao visual de Cecília naquele momento.