A mulher de batom vermelho que conheci tem sido amável para mim. Chama-se Angelina e gere este bordel. É namorada do líder do gangue italiano que me comprou. Tomei conhecimento de que estou em Milão, mas duvido que alguma veja alguma coisa desta cidade. Tenho estado trancada no quarto desde que cheguei. Depois de ter visto as outras raparigas de olhos mortiços no átrio, penso que o facto de me manterem aqui é outra forma de castigo. Deitada na cama de casal, cheia de dores, tive tempo para estudar cada detalhe do meu quarto. Não
tenho mais nada que fazer para manter a mente ativa do que escrever no meu diário. O meu quarto é limpo e claro, pintado num amarelo pálido, com cortinados cremes ligeiramente
desfiados nas pontas e têm uma nódoa esbatida em cima. Tenho uma sanita pequena, um lavatório e um chuveiro num wc dentro do quarto, pelo qual me sinto grata. De certo modo faz com que isto se pareça um pouco menos com uma cela. Quando se entra na casa de banho, o segundo azulejo do chão tem uma lasca em forma de estrela. O teto tem uma teia de aranha já velha no canto extremo, que balança com a briza. Consigo espreitar pela janela e, através das barras, vejo o céu azul limpo, o sol a brilhar e os telhados das casas. Consigo ouvir os sons de uma cidade movimentada a ecoar à minha volta - as pessoas a viverem a vida como se tudo no mundo fosse normal. A Angelina traz-me água e comida, algo muito básico e insonso: pão, massa, cereais, pepinos. Anseio
pelas bolachas doces que comia ao pequeno-almoço e pelo delicioso guisado de carne da minha mãe. Quase consigo cheirá-lo enquanto penso sobre o que está a acontecer em casa. Todas as noites o Violador vem ter comigo e toma-me à força. Diz que é boa prática para mim. Está a
tentar dominar-me e fazer de mim uma escrava consentida. Já não me quer bater mais porque quer que eu fique bonita, mas disse-me que o faria se tivesse que ser. Quando as minhas nódoas negras desaparecerem, querem que durma com os homens que aqui vierem. Das 10 da noite às 10 da manhã, todas as noites, tenho que fazer o que estes homens querem. Se me portar bem e não causar problemas, garantiu-me que não aconteceria nada à Liliana nem à minha mãe. A Angelina acha que eu deveria estar grata pelo namorado dela me ter comprado. Disse-me que havia sítios muito piores para uma rapariga acabar e descreveu bordéis degradados e saunas sujas na cidade,
onde compram raparigas. 'São piores do que aqui', disse ela. 'São locais imundos, onde os homens costumam estar bêbedos e cheirar mal. Vão depois do dia de trabalho na fábrica ou no campo e nem se importam em tomar banho
antes. Pelo menos aqui os homens são limpos e têm mais maneiras'. Acenou a mão em volta do quarto. 'Este é um dos melhores bordéis de Milão. E quando não estás a trabalhar, podes usar a sala de estar e a cozinha. Não podes é sair da casa. Aqui existem sempre guardas. Se fores boa, podes ficar. Se não...' encolheu os ombros, como se a escolha fosse apenas minha, 'vais parar aos outros lugares'. Talvez eu deva ficar agradecida por estar aqui e não num daqueles locais que ela descreveu, mas não
consigo encontrar essa emoção dentro de mim. Deu-me lingerie de renda, fios dentais, boxers de renda ou cetim, soutiens, tangas com abertura no
meio, meias com ligas. Quando os homens vêm escolher as raparigas, só posso estar de lingerie. Nem quero olhar para estas peças! Não as quero no meu corpo! Não quero isto!
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TRAFICADA : Sibel Hodge (CONCLUÍDO)
Mystery / ThrillerHá cerca de cinco anos assisti a uma minissérie sobre raparigas da Europa de Leste que tinham sido traficadas. Isto assombrou-me durante muito tempo e, gradualmente, foi desvanecendo da minha mente e consegui seguir com a minha vida. Depois, há pouc...