DIA 34

118 9 0
                                    

A minha mãe morreu e a Liliana foi enviada para um orfanato. Quem me dera não saber. Como eu gostava que a Christina ainda não conseguisse falar. Mal consigo
ver as páginas do meu diário com tantas lágrimas. A Christina disse que a minha mãe tinha sofrido um ataque cardíaco cerca de uma semana depois de
eu me ter ido embora. A Liliana ficou com um vizinho até as autoridades chegarem e a terem levado sabe Deus para onde. Foram-se embora e nunca cheguei a dizer adeus. Estou há horas sentada no chão do quarto, abraçada a mim própria para conforto. Tenho os olhos
inchados e vermelhos e a Angelina não vai ficar contente quando me vir neste estado. A minha mãe esteve sempre presente para me reconfortar ao longo da vida. Não tínhamos muito
dinheiro, é verdade, mas nunca me faltou amor e carinho. Ela era a minha rocha. Disse-me que eu era especial, que podia fazer tudo o que quisesse na vida. Parte de mim detesta-a porque se tinha enganado e parte de mim odeia-a por me ter deixado. É uma
ideia estúpida. Ridícula, eu sei! Como posso odiar a minha mãe? Costumava desabafar com ela. Costumava contar-lhe tudo. Não sei se conseguirei fazer o mesmo com
outra pessoa. Não creio que consiga. Todos os meus sonhos e esperanças desapareceram com ela. E a Liliana... Estará segura? Estão a tratá-la mal no orfanato? Estará a passar fome? Estará quentinha ou a tremer
de frio? Será que tem roupas limpas? O Ivan estará com ela? Estará magoada? Será raptada? Vendida? Tenho de encontrá-la. Imagino-a sentada numa cama suja, num dormitório enorme e horrível com outras crianças que não
falam. Está a olhar para o chão com os seus enormes olhos escuros, a chuchar no dedo e a perguntar-se para onde foram a mamã e a vovó. A perguntar-se porque é que a abandonaram. Oh, Liliana, eu estou aqui. Amo-te mais do que a própria vida, minha querida. O meu coração parece que foi arrancado do corpo, pisado um milhão de vezes e depois voltaram a
colocá-lo no lugar para que eu continuasse a sofrer. O meu estômago está a arder com chamas incontroláveis de fúria. A injustiça deste mundo enoja-me. Não é justo. O que fiz eu para merecer isto? Sinto-me vazia por dentro. Uma solidão horrível e escura está a esmagar-me por dentro. Liliana. Como posso ir buscar a minha bebé se estou aqui? Tenho uma ideia que não me sai da cabeça desde que os polícias estiveram cá. Não sei se o conseguirei fazer. Não sei se irá funcionar, mas tenho que tentar. Tenho que encontrar a Liliana.

TRAFICADA : Sibel Hodge  (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora