A roda da justiça gira rapidamente quando se tem o peso de uma chantagem por trás. Aconteceram tantas coisas que os pensamentos andam às voltas na minha cabeça, todos ao meso tempo. Vou tentar explicar do início. Depois de o Jamie ter levado a câmara às escondidas da casa de massagens, o seu amigo polícia
conseguiu arranjar uma reunião privada entre o Jamie e o político. Pelo que entendi, o político utilizou os seus contactos para ordenar uma rusga à casa de massagens.
Todos foram detidos e levados para a esquadra da polícia. Fiquei sozinha numa cela durante horas, antes de uma senhora da Embaixada Moldava chamada Katya me vir visitar. No meio de um dilúvio de lágrimas, contei-lhe a minha história e que precisava que a Liliana
estivesse segura antes de poder fazer uma declaração sobre o que me tinha acontecido. Tive medo que ela não acreditasse em mim. Para algumas pessoas, a história pareceria tão irreal que só poderia ser inventada. Mas ela acreditou em mim, sim! Também lhe vi lágrimas nos olhos enquanto tomava notas, me acalmava e tentava manter a sua própria compostura. Não mencionei o político, mas ela disse que a polícia tinha recebido ordens “muito altas” para me ajudar em tudo o que fosse possível. A Katya disse-me que o Ministro dos Negócios Estrangeiros tinha ouvido falar da minha história e
que estava a puxar os cordelinhos com o Departamento de Imigração Britânico e com o governo moldavo. Iriam começar imediatamente à procura da Liliana. Também me disse que o Departamento de Imigração Britânico estava a emitir um visto temporário para mim. Se eu estivesse disposta a dar provas contra os traficantes, dar-me-iam um visto permanente
para que pudesse ficar cá. ‘Não é nada usual’, disse a Katya, ‘que o Departamento dos Negócios Estrangeiros e da Imigração se
deem a este trabalho. Nunca aconteceu nada semelhante’. Limitei-me a acenar-lhe, como se não soubesse disto e depois fiz-lhe mais perguntas.
Estava na cela há vinte e quatro horas quando a Katya me veio ver novamente. ‘Encontrámos a Liliana’, disse-me ofegante, envolvendo-me num abraço enquanto um grito igual ao
de um animal ferido me escapou dos lábios e caí no chão. Quando recuperei o fôlego, disse-me que a Liliana não tinha estado a viver com a Natália. Que isso
fora mentira do Violador e dos outros para me coagir. A Liliana tinha estado num orfanato do estado este tempo todo. A Katya disse-me que, já que eu não podia sair do país por enquanto e dadas as circunstâncias, o governo britânico estaria disposto a deixar que me trouxessem a Liliana e até lhe pagariam a viagem de avião. Fiquei na esquadra por mais vinte e quatro horas para minha segurança. Disseram-me que o Paul
ainda estava detido, mas que nenhuma das outras raparigas tinha falado sobre serem traficadas. Estavam dependentes das minhas declarações para o acusarem. O enorme peso disto acumulou-se no meu peito e não conseguia respirar, mas um pensamento
manteve-me forte. Estava determinada que ele e os outros nunca mais conseguissem fazer isto a mais ninguém. Pela primeira vez, em 106 dias, era eu que mandava!
Autorizaram o Jamie a visitar-me e fui-me novamente abaixo. Toda a agressão, dor, lágrimas, fúria,
degradação, vergonha...veio à superfície e explodiu. Tal como antes, abraçou e embalou-me, sem me pedir nada em troca. É estranho, mas isso fez com que uma parte de mim sentisse amor por ele. Nunca pensei conseguir
sentir alguma coisa por alguém novamente. Pensava que estaria emocionalmente morta, mas, ao longo deste tempo, construímos uma amizade que vai para além do explicável. Eu confio neste homem. Acredito que seja boa pessoa e parte de mim ama-o por não desistir de mim. Sem ele eu ainda estaria naquele lugar. Devo-lhe a minha vida. E a ajuda do Jamie parece nunca terminar. Ofereceu-se para ir de avião até à Moldávia para trazer a
Liliana consigo no avião, para que não se sentisse só e assustada. Sentou-se comigo enquanto lhe escrevi uma carta para ler na viagem para que saiba que vem ter comigo e que não se sinta assustada. Há três dias que me mantêm sob custódia para minha proteção, mas não me importo. Continuava a ser
uma cela, mas era meio-caminho andado para a liberdade. Não me libertaram até a Liliana estar no avião para o Reino Unido. Só de pensar que ia vê-la de
novo, deu-me um nó na garganta. A Katya tinha sido informada que as autoridades moldavas tinham acompanhado a Liliana e o Jamie ao avião e que este tinha partido a tempo. Fui finalmente libertada sob escolta policial e, juntamente com a Katya, fomos até ao Aeroporto de
Gatwick extremamente empolgadas. Espreitava para a área das chegadas, à espera do mais ligeiro vislumbre da minha linda Liliana. De
repente ela apareceu, com a pequena mão bem segura à do Jamie. Depois, veio a correr na minha direção. Peguei na minha bebé e abracei-a com força. Apertei-a contra mim enquanto as lágrimas me desciam
pelas faces e lhe caiam no cabelo. Enrolou as pernas em volta da minha cintura e pousou a cabeça no meu ombro. ‘Onde estiveste, Mamã?’ perguntou. Estas palavras partiram-me o coração.
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TRAFICADA : Sibel Hodge (CONCLUÍDO)
Mystery / ThrillerHá cerca de cinco anos assisti a uma minissérie sobre raparigas da Europa de Leste que tinham sido traficadas. Isto assombrou-me durante muito tempo e, gradualmente, foi desvanecendo da minha mente e consegui seguir com a minha vida. Depois, há pouc...