DIA 86

96 9 0
                                    

Quando namorávamos, o Stefan vinha visitar-me e com um ramo de flores selvagens para me oferecer. Rosas, amarelos e azuis iluminavam a minha janela despida e o cheiro era incrível. Arranjava-as bem numa caneca de lata e, sempre que passava por elas, cheirava-as e admirava sua beleza simples. Foi o primeiro presente que me deu e, depois disso, sempre que encontrava flores bonitas apanhava-as para me oferecer. Hoje, quando o Jamie me trouxe um ramo de flores e, sem jeito, as ofereceu, chorei. Toda a dor,
mágoa e raiva acumuladas explodiram de repente e, depois de começar, não consegui parar. Ele abraçoume gentilmente, embalando-me como a minha mãe costumava fazer quando era criança, enquanto fazia shhh... shhh ... Porque será que algo tão simples como uma flor despoletou tanta emoção em mim, sobretudo quando
estava a tentar tanto manter tudo cá dentro? Só depois dei conta que não foram as flores. Foi o gesto. Foi aí que soube que devia confiar no homem e, então, finalmente abri-me e contei-lhe tudo o que me
tinha acontecido. Ele manteve-se em silêncio enquanto eu falava, mas percebi pela sua expressão que estava horrorizado. Disse-me que pensava que eu participava de bom grado, que gostava de sexo – que tinha escolhido
esta profissão. Ele pensava que eu estava a ganhar a maioria do dinheiro que a casa de massagens cobrava, que era £50 por meia hora, por isso talvez me sentisse aliciada pelo bom dinheiro. Pensava que eu fazia aquilo porque talvez tivesse um problema com drogas ou, por alguma razão, não conseguisse arranjar emprego. Pensava que detinha o controlo da minha vida. Tinha tantas ideias falsas sobre mim e sobre como fui ali parar que, quando deu conta, estava a chorar
juntamente comigo. ‘Tenho um amigo polícia’, disse-me ele antes do tempo terminar. ‘Vou falar com ele mal chegue a
casa’. ‘Tens que ter muito cuidado com a forma como vais fazer as coisas’, supliquei-lhe. ‘Eles matam a
minha filha se descobrirem que contei a alguém’. Ele abraçou-me com força. ‘Não te preocupes, será discreto. Eu vou tirar-te daqui’. E eu acreditei nele.

TRAFICADA : Sibel Hodge  (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora