DIA 30

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O médico esteve novamente cá. A minha infeção urinária está curada e disse que estou bem para voltar a trabalhar amanhã. Como é que ele sabe? Como é que alguma de nós estará bem para trabalhar? Será que ele não sabe que não é apenas o lado físico, mas também o mental? Isto foram só as primeiras más notícias que recebi hoje. Quando o médico saiu fui até ao quarto da Christina. Agora já tem a porta destrancada, mas está num
estado lastimável. Não consegue falar porque o Violador quase a estrangulou até à morte. Tem hematomas em volta do pescoço e só consegue dar gemidos assustados e baixos, como um animal ferido. Sinto a sua dor. O médico deve ganhar uma fortuna nesta casa. Sentei-me na cama a seu lado, passando-lhe a mão pelo cabelo, o que parecia acalmá-la. Tenho a
sensação de que ela me quer contar algo importante. Talvez este lugar fique mais suportável se tiver outra pessoa aqui proveniente do mesmo local que nós. Sei que é assim que funciona comigo. Sinto tanta raiva. Está a fervilhar sob a superfície e a ameaçar explodir. Raiva por mim, pela
Christina, pela Sasha e por todas as outras raparigas. Raiva contra todos os que estão envolvidos nisto. Fiquei com ela durante uma hora até que a Angelina me mandou preparar para receber os homens. E,
claro, não disse nada. Não explodi. Não gritei, nem me passei, nem chorei. Fiz o que me mandaram, porque assim tem de ser.

TRAFICADA : Sibel Hodge  (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora