Capítulo 21

3.1K 319 118
                                    

No campo, onde as fazendas ficam a quilômetros longe uma das outras, era como se estivesse isolados do resto da cidade. Há poucas pessoas nas estradas e o único barulho para preencher o dia são dos pássaros.
Ali na cidade, Ana teve que se acostumar com pessoas para todos os lados, o constante barulho de cascos de cavalos e rodas raspando o chão de terra e pedra logo que o dia clareava.

A rua Streetner em que ficava localizado o Ateliê Burnier era uma das principais, de modo que o barulho era infinito. O tráfego de pessoas parecia nunca acabar. Em três meses ali Ana já tinha se acostumado ao constante fuzuê.

Naquele dia ela tinha combinado de se encontrar com Tina em uma esquina e juntas as duas seguiram para o outro quarteirão de lojas da cidade.
No Armarinho mal tinha dois clientes quando Ana entrou no lugar em busca dos utensílios de costura que o alfaiate havia pedido que ela comprasse.

─── Não olhe agora, mas tem um homem te olhando do outro lado da vitrine ─── cochichou Tina para ela.

Ana se virou com tudo para olhar.
Parado do lado de fora da loja ela reconheceu a fisionomia do capitão da guarda real. Sem a farda dessa vez.

─── Conhece ele?

─── Sim, è o capitão Donovan. ─── disse.

Ela pegou o que precisava, pagou e saiu da loja com Tina ao seu lado.

─── Capitão. Como vai?

─── senhorita Ana. Estou bem. Quer ajuda com a sacola? ─── ofereceu o capitão.

─── Não é necessário. Não estou indo para muito longe.

─── Sendo assim, eu lhes acompanho. Eu estava passando aqui perto a vi...e resolvi parar para cumprimentar. ─── ele olhou para Tina e fez um aceno de cabeça. ─── senhorita.

─── Senhor ─── Tina sorriu de um jeito que Ana só a via sorrir quando tinha interesse em algum rapaz. Um sorriso calculado.

Mas o homem de expressão séria não pareceu notar.

─── Faz tempo que não a vejo ── um pigarro. ─── Como está?

─── Bom...bem. Estou bem. Sai da casa da baronesa. Não trabalho mais para aquela família ─── um aceno de cabeça do capitão. ─── Estou trabalhando e vivendo com os Burnier na Streetner.

─── Fico feliz feliz que a senhorita tenha um trabalho melhor agora.

─── Eu também. Nunca me senti mais livre e feliz. ─── Não. Não era verdade. Houve sim vezes em que ela se sentiu tão feliz quanto. Como se o coração fosse saltar do peito... Mas aquela vez não voltaria mais. ─── Como está sua família?

A expressão do capitão se suavizou diante daquela menção. O verdadeiro ponto fraco do carrancudo.

─── Meu filho está crescendo cada vez mais rápido. Fez cinco anos mês passado. Foi uma pena você não ter conseguido vê-lo naquela noite em que esteve lá com Juan. Mas mamãe sempre fala de você... Ela vive dizendo que gostaria de vê-la de novo.

─── Nossa, eu...bem, também gostaria de vê-la, e seu filho.

O capitão deu espaço para duas senhoras passaram na calçada.

─── Mamãe está ficando cada vez menos lúcida. Ela esquece da maioria das coisas, mas se lembra de outras...não precisa ir vê-la se não quiser. Só estou lhe contando.

Tina fez um barulho com a garanta.

─── Oh, minha avó ficou do mesmo jeito antes de partir ─── disse ela. ─── Ela não me reconhecia mais. Ela olhava para mim e perguntava: quem è essa mocinha?

Dança Do Destino - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora