Capítulo 20

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            O funeral aconteceu dois dias depois da explosão. A cavalaria fez uma homenagem pela cidade com o povo fazendo uma passeata silenciosa logo atrás, rumo ao mar.

Uma caixão preenchido de flores e coberta pela bandeira do reino de Moonterrar foi colocada em uma barca. Colocaram um arco e uma flecha em um dos lado do caixão e uma espada do outro. Uma homenagem pelos serviços prestados ao exército real.
E todo o resto do espaço da barca era preenchido por flores e outras coisas mais que eram tradições reais.

A barca foi lançada no mar.
Os nobres estavam presente em uma plataforma especial e protegida no cais, enquanto povo da cidade se espalhava pela areia e pela orla, todos em silêncio, observando a homenagem se afastar.

Laurel estava ao lado de Felipe. A princesa permanecia serena e imóvel, os ombros e a cabeça erguida, concentrada na barca sustentada pelas águas calmas do mar. Nada nela transmitia desespero. A não ser os olhos. Os mesmos olhos castanhos claros de Juan transmitiam uma tristeza devastadora. Como se qualquer um que encarasse aqueles olhos nunca mais fosse ver a luz do sol.
Como se ela mesma nunca mais fosse sentir felicidade.

O primo do príncipe continha um olhar tão perdido quanto o da princesa. Todos os dois tinham perdido um irmão. De sangue, de alma e de coração.

O resto da corte estava mais atrás, feito urubus rodeando o rei.
Esse não se abalou em nenhum momento que passasse pelos olhos de alguém. Ele encarava a barca com o mesmo olhar severo de sempre. Raiva ou pesar, ninguém saberia dizer ao certo.
As emoções do rei sempre foram uma incógnita para todos. O que realmente ele via ao olhar aquela barca no horizonte? Um filho o deixando ou o poder?

O monarca olhou para o general na orla da praia e fez um único aceno de cabeça.
Os arqueiros levantaram seus arcos em movimentos sincronizados, ajeitaram as flechas em chamas e apontaram-nas para o mar.

Dispararam todos ao mesmo tempo. Em menos de cinco segundos a barca estava em chamas altas e creptantes, lançado lascas e faíscas para cima, enquanto o mar  dava boas vindas.
A barca virou destroços em alto mar, com as pessoas lamentando da praia, algumas chorando inconsoláveis e dando seu último adeus ao príncipe que nunca seria rei. Que nunca governaria aquelas terras em prol do bem daquelas pessoas que sonhavam com um futuro melhor para seus filhos.
Não. Não seria aquele jovem a fazer isso.

A maioria das pessoas ficaram na praia até o último destroço desaparecer no mar.

Ana não presenciou o funeral. Já tinha chorado demais nos dois dias anteriores e não queria continuar assim, por mais que a dor fosse inevitável e o choro necessário, não queria fazer dela uma companheira frequente. Preferiu não ir ao funeral, não conseguiria ficar ao lado de Tereza e consola
á-la, fingir e fingir quando na verdade ela sofria tanto que o peito chegava a doer.

Tinha conseguido evitar a amiga nos últimos dois dias. Tereza tinha ficado desolada com a noticia da morte do príncipe que mal queria sair do quarto. Mandaram chamar a baronesa, que desde então tem dado apoio a filha.
Então mesmo que quisesse, Ana não se aproximou do quarto de Tereza. Nesses últimos dois dias ela havia sido interrogada várias e várias vezes pelos conselheiros e pelos capitães da guarda. Mas eles deram por encerrada as perguntas quando resolveram que ela era apenas mais um rabo de saia que estava com o príncipe no lugar errado e na hora errada.

Dança Do Destino - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora