Capítulo 23

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A pequena maleta de mão tinha sido substituída por uma mala-baú maior. presente do Sr.Burnier. O baú era grande o bastante para caber os vestidos básicos, também presentes do alfaiate. Ainda tinha sobrado espaço para alguns livros que Fleur a havia dado.

Estava uma noite fria.
Com a chegada do inverno, os dias estavam cada vez mais gélidos, e Burnier indicou a Ana que fosse com um vestido azul de mangas longas, já que o inverno de Clarenorth era bem mais rigoroso que o de Netur.
Com um espartilho perfeito e incomodantemente apertado, e um pequeno chapéu preso ao lado da cabeça, ela parecia mesmo uma jovem de família modestamente afortunada indo viajar despretensiosamente para fora do reino.

As ruas da Streetner continuavam levemente movimentadas aquela hora da noite. Ana olhava a todo tempo pela janela do apartamento, vigiando a chegada do coche de Don.

─── Prromete que vai mandar carrtas?

─── Sempre que puder ───  disse ela ao alfaiate. ─── Promete que dirá a minha tia que estou bem?

─── Eu prrometo, querrida ─── ele já tinha prometido antes.

Ouviu-se o barulho de rodas e cascos parando na rua lá em baixo. Ana olhou pela janela de novo, e dessa vez era o capitão da guarda quem tinha chegado.
Ela e os Burnier desceram até o primeiro andar.
Donovan guardou a mala e abriu a porta do veículo.

─── Podemos ir?

Ana se virou para Burnier e Fleur, abraçou cada um.
Aqueles meses passados ali tinham sido os melhores de sua vida. Tinha ganhado um nova família, sem dúvida. A família que os Monteiro nunca foram para ela.

─── Eu nunca poderei agradecer a vocês o suficiente pelo que fizeram por mim.

─── Entre logo nesse veículo antes que me faça chorar ─── pelo visto Fleur também não era muito de despedidas.

Sem saídas dramáticas.
Voltaria a vê-los um dia também. Depois de alguns anos, quando fosse seguro para Juan voltar a Netur.

─── E o senhor ── Burnier se aproximou de Donovan, que já ocupava o lugar do conduzente. ─── Cuide desta garrota.

─── Acredite em mim, eu escuto esta frase quase o tempo todo ─── disse Donovan. ── Tenha uma boa noite, senhor.

Ana acenou com a mão para os amigos e entrou no coche.

─── Adeus ─── disse pela janela.

O capitão começou a guiar o veículo rua a fora, deixando o famoso e acolhedor atelier Burnier para trás a cada trote dos cavalos.
Ana pensou em Tina. Não tinha se despedido da amiga. Pelo menos não como gostaria. Se Donovan tivesse avisando sobre a viagem um dia antes...
Mas Tina sabia de tudo. Entenderia.

Havia um cobertor dobrado no banco dentro do coche, obviamente visando o clima frio daquela noite e do pior ainda que devia estar fazendo em Clarenorth.
Ana ainda achava estranho se imaginar morando em outra lugar que não Netur. Ela nunca teve planos de sair dali.
Até algumas semanas atrás....

Teria que se acostumar com o lugar diferente, uma casa diferente e pessoas com costumes diferentes.

Juan tinha feito um sacrifício para ser livre. Para ficar com ela.
E mesmo que ficar longe de tudo que ela conhecia também fosse um pequeno sacrifício, valia a pena.
Valia a pena pela sensação de ser livre pelo mundo e ao mesmo tempo presa a alguém.
De algum modo era assim que ela se sentia. Presa a Juan.

Não sabia como exatamente. Ou quando ele passou a ser tão importante em sua vida. Tão necessário. Talvez fosse naquela noite na floresta, ou no primeiro passeio ao penhasco... Ou na visita a casa de Don...
Era difícil dizer. Mas de algum modo ele tinha se tornado algo vital. Como o ar ou a água.

Dança Do Destino - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora