A faculdade é simples. Fácil. Não é como a escola primária ou o Ensino Médio, onde Vernon era forçado a conversar com as pessoas, interagir com elas, sentar com elas e agir como se fossem seus colegas — e se ele contasse à professora que as crianças estavam dizendo coisas desagradáveis a ele ou ignorando-o e não deixando-o participar, ela não faria nada porque secretamente ela e todos os outros professores o odiavam também.
Na faculdade, ele pode se esconder em seus gorros e máscaras e ninguém vai fazê-lo tirá-los. Ele pode entrar na classe e sentar na última fileira onde ninguém pode vê-lo, ouvir o Professor Hong falar sobre a ética por trás dos humanos regulando o comércio de runas dos elfos, fazer anotações tranquilamente, e correr de volta para casa sem ninguém nem saber que ele estava lá. Um fantasma de auditório esvoaçando-se entre edifícios por baixo de céus roxo-elétricos ou nuvens verde-slime ou nevascas de redemoinho de pirulito. Ninguém falando com ele, ninguém olhando pra ele. O Céu na porra da Terra.
Ou ao menos era assim que deveria ser.
Ele tinha acabado de assistir sua última aula do dia e estava andando de volta para o ponto de ônibus quando algo estende a mão e agarra a manga de sua jaqueta. Bom, é mais correto dizer alguém, mas a ideia de uma pessoa tocá-lo voluntariamente para chamar sua atenção por qualquer motivo é uma noção praticamente incompreensível.
Mas lá estava ele: um garoto da idade de Vernon, um pouco mais baixo do que ele, com bochechas redondas e rechonchudas e uma jaqueta de lã azul-bebê e cabelos tão vermelhos e quentes quanto o sol poente de outono.
"Desculpe," diz o garoto. Ele fala como se tivesse lugares para ir e coisas para fazer e não gostasse de esperar por elas. Palavras claras, concisas e enunciadas, tudo emaranhado numa voz agradável com volume decente, o que indica que, embora confiante, ele não é, pelo menos, um idiota sabe tudo que pensa que pode falar alto porque sua opinião (e, portanto, sua existência) é mais importante que a dos outros. "Eu não queria incomodá-lo, mas preciso ir ao Registro Estudantil e eu, ahem, não realmente consigo encontrá-lo sozinho."
Vernon não consegue distinguir os olhos dele. Eles estão escondidos atrás de um óculos de sol semelhantes aos seus. Mas ele definitivamente notou a bengala na mão esquerda do garoto: um fino pedaço de ferro vermelho, branco e preto, e o modo como ele encara em geral o rosto Vernon sem uma pitada de medo ou nojo apenas confirma suas suspeitas.
O garoto é cego. Ele não consegue ver.
"Uh, claro," diz Vernon, dolorosamente ciente de como a posição difícil de suas presas faz com que suas palavras soem um pouco abafadas e distorcidas, como se ele estivesse falando com a boca cheia de pedras. "Eu posso levar você lá se você, hum, se você-"
"Obrigado," diz o garoto, e sem mais palavras ele engancha a mão mais firmemente ao redor do braço de Vernon e espera, pacientemente e sem vergonha, que eles comecem a andar. Vernon encara a mão em seu braço: pele macia e humana; limpas e aparadas unhas quadradas. Ele olha para o rosto do garoto, sabendo que está encarando um pouco intensamente demais, examinando as feições do rosto dele quase famintamente, saboreando o fato de que agora ele pode olhar diretamente para alguém sem ter que ver sempre aquele olhar profundamente vacilante e enojado. O garoto olha mais ou menos de volta para ele, um sorriso calmo no rosto, e Vernon se sentia tão bem sendo olhado como se fosse apenas um ser humano normal.
Vernon começa a andar cuidadosamente. Ele acha que um movimento dissonante, um movimento muito rápido ou muito áspero, levará o garoto a cair de cara no chão. Não é que ele pareça frágil, mas ao lado de Vernon e de suas garras e presas e chifres ele sente como se o garoto fosse quase quebrável. "Uh, eu estou andando muito rápido, ou...?"
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IN THE EYE OF THE BEHOLDER
Fanfiction[𝐕𝐄𝐑𝐊𝐖𝐀𝐍] Vernon é um meio-demônio, e crescer sofrendo preconceito e vendo as pessoas o evitarem por sua aparência assustadora o fez sozinho e sem amigos pela maior parte de sua vida. Seungkwan é um sopro de ar fresco, recém-chegado na facul...