Capítulo 21

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Ele congela e depois vira a cabeça, e há Seungkwan, de pé a poucos metros de distância. Sem bengala. Sem óculos de sol. Seus olhos são de um rico marrom escuro, vívidos com clareza e cheios de órbitas e galáxias distantes. Os olhos de alguém que vê cada coisinha mágica que há no mundo. E ele está olhando diretamente para Vernon com uma intensidade hiper consciente que nunca teve antes, e Vernon percebe que agora ele pode ver tudo. Sua pele estilhaçada, os leves solavancos dos chifres escondidos em seu gorro cinza e sujo, sua máscara facial preta, os óculos escuros escondendo seus olhos vermelhos.

Seungkwan está tão bonito, tão vívido, enquanto ele ainda continua tão... tão...

Vernon não consegue respirar.

"Você é realmente excepcional, não é?" Seungkwan diz quando não recebe uma resposta. Ele dá um pequeno passo mais perto. "Este não é exatamente um grande campus. Você é bom em se tornar invisível quando quer, tenho que admitir."

Ele não soa bravo, mas definitivamente não soa feliz, também. Vernon engole o caroço canceroso que cresce em sua garganta e murmura um fraco: "Você parece muito bem, Seungkwan."

"É, valeu. Eu tenho olhos que funcionam agora." Ele ri sem realmente rir. É apenas um som saindo de sua boca. "A terapia correu bem, voltei para a faculdade há duas semanas. A parte difícil foi apenas se ajustar a como... brilhante o mundo é. Eu finalmente sei como sou no espelho agora." Seu divertimento diminui um pouco, enquanto seus olhos se tornam suaves. "Eu sei quais características eu compartilho com a minha mãe agora, sei que temos o mesmo nariz, os mesmos lábios, e sei como ela fica quando está sorrindo. E eu tenho que te agradecer por isso. Tudo por sua causa."

Ele dá outro passo para frente. Vernon sente um impulso irresistível de fugir, de fugir enquanto ainda pode e enquanto seu coração não tem tempo para se reestruturar. Mas algo nas supernovas que brilham no centro dos olhos de Seungkwan em algum lugar o obrigam a ficar, fazem com que ele espere-reze-preze para que essa situação seja diferente do que ele venha temendo. Deus, por favor deixe-o ter isso. Mesmo apenas por esta vez.

"Você é realmente excepcional" ele repete. "Você passou por tantos problemas para me conseguir um feitiço só para desaparecer da face da porra da Terra. Você literalmente mudou a minha vida, e para quê? Apenas para me deixar, para me fazer acordar e ser capaz de ver o mundo e aprender as cores e tudo, apenas para descobrir que você não está aqui, que você se foi, que você não responde minhas mensagens e ligações e nem nada?"

Vernon acha que vai ser dilacerado, despedaçado pela força do furacão que está girando dentro de si e ateando fogo a todos os espaços entre seus órgãos. "Eu tive que fazer isso," diz ele, repetindo-se quando percebe que um sussurro choroso não é alto o suficiente para Seungkwan ouvir. "Eu tive que, Kwannie. Eu- eu sei que soa estúpido, mas eu-"

"Eu sei por que você fez isso, e ainda estou irritado."

"Seungkwan-"

"Deixe-me ver seu rosto." Sua voz é suave, abafada, mas forte como ferro. Ainda teimoso e persistente como sempre.

Vernon recua como se tivesse levado um soco. Ele quer chorar, despencar em soluços estremecidos cheios de lamento, do tipo que uma criança impulsiva faria quando não tem nada para engolir ou esconder. "Não me faça fazer isso. Por favor."

"Vern-" Seungkwan engasga uma gargalhada, triste e molhada e desesperada, olhos brilhando como a luz das estrelas. "Vernon. Você passou seis meses tentando me obter um feitiço, invadiu a casa de uma velha Feiticeira aterrorizante, cooperou com um meio-fada e humanos lunáticos e até mesmo com seu próprio pai esquisito, além de ter viajado ilegalmente para New Sheol. E agora, quando eu enfim não sou mais cego e devo tudo no mundo para você, você não vai nem me deixar te ver?"

IN THE EYE OF THE BEHOLDEROnde histórias criam vida. Descubra agora