Capítulo 1

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IN THE EYE OF THE BEHOLDER

CAPÍTULO I

"It's hard to hate someone so beautiful."

versão original (ENG) disponível em: https://archiveofourown.org/works/8884588


As pessoas costumam brincar que os pais sempre pensam em seus filhos recém-nascidos como os bebês mais bonitos de todos, mas não é como se, de fato, a pele macia e fresca que nunca falhou, passou por convites a funerais ou por dívidas com juros altíssimos não fosse apreciável. Tudo é lindo e puro quando se nasce. Tudo é uma carne firme e gentil envolta de músculos fracos e ossos frágeis protegendo um coração batendo freneticamente, protegendo o milagre da vida que é o primeiro respirar e o primeiro pulsar do coração de um bebê; cartilagem de beija-flor, sangue de suco de framboesa e tendões de poeira estelar lentamente mudando e rearranjando cada molécula até tornar o recém-nascido em um ser humano genuíno.

Isto é, claro, algo que seu professor provavelmente chamaria de hipérbole e você de uma puta duma mentira, porque todo mundo sabe que bebês recém-saídos do ventre são ratos rosados, enrugados e escandalosos que não estão exatamente em um nível que se possa declarar belo. Mas naquele único momento, depois de meses de sofrimento, dor e sacrifício, os pais estão tão apaixonados por seus inocentes parasitas infantis que até engoliriam a lua por eles se quisessem. E isso, subjetivamente, é até bonitinho.

Vernon acha que seus pais tiveram que tentar muito para pensar nele dessa maneira.

"Meu bom Deus," ele pode imaginar os médicos dizendo, horrorizados, "ele é um monstro."

"Nah," sua mãe provavelmente disse, provavelmente com carinho, provavelmente exasperada, "ele é a cara do pai."

Normalmente, os bebês rosados e enrugados ficam um pouco fofos quando chegam aos 1 ano de idade, mas pelas fotos no álbum de família, Vernon sabia que ele sempre foi uma coisa horrível, não importava quantos anos tivesse. Ele supõe que talvez também fosse fofo quando tinha 1 ano — subjetivamente, é claro — com seus enormes olhos vermelhos e uma boca cheia de presas de bebê, esbarrando em tudo e puxando o "s" nas palavras. Até mesmo os chifres são fofos nessa idade: são como cascos pequenos semelhantes a cascas de uma árvore antiga e sábia. Mas isso, é claro, ainda é completamente subjetivo, porque muitas pessoas disseram, tanto a sua mãe quanto em sua cara, que ele era uma criaturinha bestial e dificilmente o que alguém acharia 'fofo'.

"Bom, olhe para ele," as outras mães costumavam nervosamente dizer nas reuniões de pais e professores, nos acampamentos e nas promoções de mercado. "Ele está ficando tão... alto. A pele dele sempre... hum... sempre foi assim?"

E sua mãe costumava esconder seu aborrecimento e dizer: "É uma condição dermatológica. Acontece às vezes com crianças meio-demônio, sabe. É perfeitamente inofensivo, apenas uma questão estética, na verdade."

E elas costumavam responder: "Você já tentou usar loção esfoliante?"

Ou talvez elas se curvassem um pouco e olhassem para ele sem realmente olhar para ele, os olhos oscilando e as pupilas dilatando com o medo de encarar a incerteza do inatural, até que parem e se concentrem perto da testa ou das orelhas ou algo assim, e dizer: "Bem, olhe para você, Vernon. Seus, hum, seus olhos certamente estão mais vermelhos hoje, não estão, querido?"

IN THE EYE OF THE BEHOLDEROnde histórias criam vida. Descubra agora