A Velha Mãe Hayes mora do outro lado da cidade Medea. No sábado, depois de obterem permissão dos pais para um "passeio pela cidade", Vernon e Seungkwan pegam o trem juntos. Seungkwan teve que deixar sua bengala em casa com a possibilidade de terem que — como disse Seungcheol — recorrerem a métodos criminosos, então sua única opção é segurar o braço de Vernon e se manter mais perto do que o normal enquanto ele navega pelas ruas com o Google Maps. Nenhum deles se queixou do resultado até agora.
"Eu me sinto estranho sem minha bengala," murmura Seungkwan ao lado dele. O céu é um laranja opaco, o sol nada mais que uma gema de ovo distante deles pingando medusas de raios-de-sol no topo de suas cabeças e em suas nucas. "É como se eu estivesse sem uma mão."
"Olha," Vernon diz, desligando rapidamente a tela do celular, "levar um cara cego para um roubo furtivo já soa como um desastre."
"Realmente soa." Seungkwan sorri para ele. "Obrigado por me trazer, de qualquer maneira."
Vernon, obviamente, sabe que Seungkwan não consegue realmente vê-lo, mas ele ainda abaixa o rosto para esconder o fato de que um pequeno sorriso bobo está se espalhando em seu rosto e suas bochechas estão se transformando em um azul-hipotermia. Ele esconde o breve momento deplorável em que seu coração bate mais rápido do que nunca ajustando a mão de Seungkwan em torno de seu braço, notando a hesitação entrelaçando os passos geralmente seguros dele. "Aqui, pode me segurar mais forte. Vou me certificar de que você não caia ou bata em nada. Eu prometo."
Seungkwan também abaixa a cabeça para esconder um sorriso bobo e as bochechas avermelhadas. Vernon vê isso e, de repente, freneticamente, deseja que ele tivesse a coragem de colocar o braço em volta dos ombros de Seungkwan, ou em torno de sua cintura, talvez até mesmo segurar a mão dele.
Mas ele não tem, e os dois continuam andando.
"Só pode ser aqui." Vernon eventualmente diz. A "loja" da Velha Mãe Hayes é uma casinha apertada de dois andares que parece ter sido construída nos anos 60, quando as pessoas não precisavam de grandes janelas francesas suburbanas, jardins-profissionais, fonte-na-frente-de-casa e uma família nuclear para se sentirem completas. Apesar do céu estar vibrante e lançando um brilho de tangerina em tudo até que o mundo seja como o interior de uma jack-o'-lantern, a casa ainda consegue parecer uma depressiva, desorganizada quatro-dólares-a-hora fraudulenta casa de leitura psíquica. Uma placa barata na parte da frente do gramado crescido demais: POÇÕES DA HAYES, RUNAS e FEITIÇOS, com "feitiços" riscado e um minúsculo e manuscrito LEITURAS PSÍQUICAS no lugar.
"Como é?" Seungkwan pergunta.
"Como se pudéssemos ser assassinados por uma feiticeira maluca em um bairro decadente. Tudo bem, vamos-"
"Esgueirar-se pelos fundos e invadir a casa dela."
"...tocar a campainha e perguntar se ela está disposta a vender algum feitiço para nós, Jesus, Kwannie."
"Desculpe, estou super empolgado por estar fazendo algo errado. Você está certo, nós devemos, uh, perguntar primeiro."
A campainha é alta, estridente e desagradável, muito parecida com um gato gritando. Os dois esperam por mais de cinco minutos até que o som de passos trovejantes por uma escada de madeira possa ser ouvido. Vernon coloca sua melhor cara de oi, você tem um feitiço? Posso comprá-lo a um preço condizente para um calouro universitário? e espera esperançosamente, mas a porta nem abre para eles quando ele ouve uma mulher idosa de voz rabugenta gritar: "Estamos fechados! Você viu a placa? Diz que não abrimos aos fins de semana! Vai embora e volte em outra hora."
Seungkwan e Vernon trocam um olhar com as sobrancelhas arqueadas, antes de Vernon gritar de volta: "Não estamos aqui para fazer compras- bem, não realmente, quero dizer- nós só queremos saber se você tem algum feitiço."
Há uma breve pausa, antes que a figura da Velha Mãe Hayes surja como sombras rastejantes através do opaco vidro leitoso na porta da frente. "Eu não vendo mais feitiços," ela diz, sua voz trêmula de repente tão aguda e crepitante quanto uma estação de rádio sem sinal. Por um breve momento, o ar ao redor deles parece pesado e pingado de ozônio. "E mesmo que eu ainda tivesse algum perdido na minha loja, eu não daria a você! Nem por tudo que você possa pagar! Agora vai embora!"
"Espere- por favor, espere!" Vernon bate na porta, mas a figura dela desaparece e ele ouve o som fraco dela subindo de volta a escada novamente com pés pesados, como um rinoceronte pesado.
"Bem, isso foi maravilhoso", diz Seungkwan. "Devemos dar a volta na casa?"
Vernon não consegue evitar sorrir. "Você está curtindo essa coisa de roubo até demais," ele murmura, enquanto o guia em torno da casa até um minúsculo e quadrado quintal com o solo doente cheio de estacas de flores mortas. A grama é amarela, saindo da terra como um buzzcut. Há uma instável porta dos fundos que leva ao que pode ser uma cozinha, e quando Vernon puxa a maçaneta experimentalmente, ela abre. Claramente, a Velha Mãe Hayes ou esqueceu de trancá-la ou não estava esperando um roubo.
"Vamos," ele sussurra, e agarra a mão de Seungkwan. Pode ser apenas a adrenalina começando a surgir, o conhecimento de que eles são dois meninos bem-comportados prestes a fazer algo que não era lá muito bem-comportado, mas quando os dedos dele envolvem os de Seungkwan, garras duras e frias envolta de pele macia e quente, sua frequência cardíaca aumenta e Seungkwan parece estranhamente sedutor, cabelo vermelho e óculos escuros e tudo, com seu meio-nervoso e meio-excitado sorriso e o jeito que ele se agarra a Vernon tão apertado quanto pode enquanto os dois navegam da cozinha para o corredor.
A casa é apertada e pequena, e não demora muito para encontrarem a "loja" de Hayes, que é na verdade apenas a sala de estar dela modificada em uma loja de souvenires em miniatura, mesas plásticas dobráveis cheias de aparelhos estranhos e livros estranhos, espelhos que nem sempre mostravam seu reflexo e caixas e jarros Tupperware. Exceto pelas bugigangas, havia um sofá desbotado enfiado num canto e um pesado armário de cedro encostado a uma parede, e isso era tudo. Vernon ouve os rangidos das tábuas do assoalho no segundo andar acima deles, mas nenhum deles parecia perto o suficiente das escadas para que ele precisasse se preocupar.
"Fique aqui," ele sussurra para Seungkwan, manobrando-o para que suas costas estejam pressionadas contra o armário, só para que ele saiba que há algo sólido atrás de si. "Eu vou dar uma olhada ao redor."
Seungkwan sorri e diz: "Vou gritar se ver alguma coisa."
"Ha ha, você jura?"
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IN THE EYE OF THE BEHOLDER
Fanfiction[𝐕𝐄𝐑𝐊𝐖𝐀𝐍] Vernon é um meio-demônio, e crescer sofrendo preconceito e vendo as pessoas o evitarem por sua aparência assustadora o fez sozinho e sem amigos pela maior parte de sua vida. Seungkwan é um sopro de ar fresco, recém-chegado na facul...