Capítulo 8

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Ou aqueles dois idiotas esqueceram de entrar em contato ou aquele vagabundo ilusório está realmente sumido da face dessa Terra, de todo modo, Vernon não recebe uma resposta faz semanas. Ele fica mais ansioso conforme o tempo passa, conforme a faculdade continua em um novo semestre, conforme ele e Seungkwan celebram seus aniversários e ele deixa Seungkwan fazer drama sobre ser um mês mais velho. Ele continua notando como o sorriso de Seungkwan escurece quando ele ouve as pessoas falarem sobre como o céu está, ou de qual cor as flores no campus está hoje, ou quão fofo é o cachorro de alguém. Ou quando as pessoas falam com ele devagar e com cuidado como se ser cego também significasse que ele é surdo ou estúpido.

É isso que impede Vernon de desistir do que parece ser uma tarefa semelhante a um filme de Missão Impossível ou algo assim, mantendo-o sonhando suas bobagens fantasiosas como slushies de laranja cítrica. Ser capaz de testemunhar Seungkwan abrir os olhos e ver tudo o que ele sempre quis ver valeria todo o trabalhão de agora, Vernon pensa. Vai valer tudo isso. Então é meio chato que, depois de uma super aventura no centro sozinho, sua busca tenha minguado completamente para apenas pesquisar lugares que possam vender feitiços e gemer frustradamente quando seus resultados são negativos ou extremamente imprecisos.

Eventualmente, ele fez algo que nunca havia feito antes. Ele decidiu enviar uma mensagem para Seokmin primeiro, enviando-o um link para um site de feitiços que parece promissor, e então exigindo que se Seungcheol não for mesmo aparecer logo, eles possam ao menos checar se algum desses feiticeiros é legítimo. Porém, em sua inebriante corrida de garras desajeitadas contra uma tela de iPhone finíssima, ele acidentalmente envia tudo isso para Seungkwan.

Fudeu. Em menos de um minuto depois o celular dele começa a vibrar para fora de sua mão, e o indicador de chamada mostra um nome muito familiar. Fudeu em dobro.

Ele estremece quando atende a ligação. "Hey, Kwannie, você pode me fazer um favor e fingir que seu leitor de tela absolutamente não acabou de te contar sobre aquele link? Eu enviei para a pessoa errada."

"Vern, mas que diabos é isso? 'Feiticeiros confiáveis perto da cidade Medea'? Aquela coisa que você disse, tipo, décadas atrás, sobre encontrar feitiços para- você ainda está preso a isso?"

Ainda estar preso a isso. Como se saber que seu único amigo no mundo está profundamente infeliz com a cegueira dele não fosse nada de mais. Vernon cora tão frio quanto estátuas de mármore, quanto cérebro congelado, e olha para seus joelhos, desejando poder enrolar-se até virar uma bolinha e nunca mais ver a luz do dia. Por alguma razão, a ideia de Seungkwan pensar que ele está tentando demais, achando que ele se importa demais, faz com que ele sinta arrepios aterrorizantes.

"Hum, não? É para um projeto?"

"Você mente mal pra um inferno. Há quanto tempo você vêm fazendo isso?"

"Eu não sei, tipo, talvez algumas semanas? Tipo quatro, ou cinco." Ele se afasta do telefone para que sua voz envergonhada seja esperançosamente menos audível. "Talvez sete."

"Vernon!"

Vernon se senta na cama, pressionando o telefone fortemente contra o ouvido. "Seungkwan, se eu conseguir encontrar um feitiço para você, você sera capaz de enxergar! Ninguém vai te desrespeitar, ninguém vai te tratar como um boneco de vidro, você vai ser capaz de enxergar as cores e o céu e os bichinhos fofos e-"

"Vernon, eu- Jesus." Ele ouve o caos abafado vindo da outra linha. Seungkwan ou está estapeando o próprio rosto ou apenas se sentou e quase derrubou algo. "Olha, eu admito, seria incrível se conseguíssemos encontrar um feitiço para eu ganhar minha visão. Mas as chances apenas não estão a nosso favor, okay? O número de pessoas que conseguem feitiços nos dias de hoje são, tipo, quase tão raros quanto os que ganham na loteria." Sua voz suaviza até parecer como a primavera, doce e quente e florescendo borboletas amarelas. "É realmente doce da sua parte, e eu estou muito, muito grato por você ter feito isso por mim todo esse tempo, mas... qual é. Digo, eu posso viver sem enxergar. Muitas pessoas fazem isso, e todas elas estão bem."

"Eu só- eu só-" Por que Vernon quer tanto isso? É tudo realmente só para ver o olhar maravilhado no rosto de Seungkwan quando ele descobrir a diferença entre vermelho e azul? Ele queria algo a mais que isso? Ele queria que Seungkwan soubesse que foi ele quem fez isso, que foi ele quem caçou altos e baixos para encontrar um feitiço? Ele queria que Seungkwan fosse grato a ele, que pensasse nele como alguém especial? Ele não sabe. Ele não sabe por que está tão desesperado. Seu coração continua a bater freneticamente em algum lugar em sua garganta enquanto ele murmura: "-Eu só queria fazer isso por você."

Há um momento de silêncio muito tenso e doloroso, só Seungkwan suspirando pesadamente. Eventualmente, ele diz: "Okay, tudo bem. Minha vida universitária precisava mesmo de umas decisões ruins para tornar a experiência completa, de qualquer forma. Mas eu vou te ajudar a encontrar a desgraça do meu próprio feitiço, muito obrigado. Eu quero entrar nessa."

Uma sensação estranha de alívio surge entre Vernon, derretendo suas entranhas como cubos de açúcar. "Claro! Assim, eu não estava considerando isso como uma missão exclusiva para híbridos ou sei lá desde o início, então-"

Naquele momento, Sofia adentra seu quarto sem sequer se incomodar em bater. Vernon se atrapalha com seu celular e olha para ela, corando como se estivesse fazendo algo errado mesmo que ele tenha, pelo menos em parte, certeza de que não estava. "Sof, o que eu disse sobre sair entrando assim?"

"Mamãe está te chamando para atender o telefone," diz Sofia, revirando os olhos para ele. Ela tinha treze anos, muito persuasiva, com canetas de glitter nos bolsos dos jeans e presilhas brilhantes no cabelo. Um olho dela estava muito mais escuro do que o outro — ela deve ter andado testando o delineador da mãe, e graças a Deus não usou Vernon como um ratinho de laboratório novamente. Ele aprendeu da pior maneira que um pingo acidental de delineador em olhos demoníacos dói tanto quanto dói em olhos humanos.

"Eu estou no telefone."

"Não o seu celular, idiota, o telefone de casa! Alguém está ligando e perguntando especificamente por você, ele diz que o nome dele é Seokmin. Quem é esse?"

IN THE EYE OF THE BEHOLDEROnde histórias criam vida. Descubra agora